Bem positiva a época de 2019, que teve como pontos altos a vitória da seleção (masculina e feminina) na I Liga do Europeu de Seleções, com consequente subida à Superliga (de apenas oito países), e a medalha de prata do veteraníssimo (43 anos) João Vieira nos 50 km marcha do Mundial de Doha e que se concluiu novamente com os melhores rankings de sempre, confirmando a subida da época anterior.
Datavam do ano 2000 as melhores médias das 10 e 20 marcas de top dos rankings nacionais, prova a prova (19 provas e um total de 190 e 380 marcas, respetivamente), pontuadas segundo a Tabela IAAF de 2008. Até que, em 2018, se registaram grandes progressos (cerca de 20 pontos) e as médias alcançadas melhoraram finalmente os registos de 18 anos antes. As corridas (velocidade à parte) recuperaram parte da quebra entretanto verificada e os concursos conseguiram grandes progressos. Em 2019, novo avanço se verificou, em especial nos concursos, que progrediram cerca de oito pontos (saltos) e 15 pontos (lançamentos), com destaque para as melhores médias de sempre verificadas na altura (top’10), vara e comprimento (top’20) e ainda peso, disco e dardo (top’10 e top’20).
Refira-se ainda que, comparando com 2018, houve este ano 13 marcas líderes melhores contra apenas 9 piores nas provas olímpicas. Considerando as marcas limite dos rankings que elaboramos (uma média de 45 atletas por prova), verifica-se que, nas 18 provas individuais de pista (exceto decatlo) entraram 851 atletas, mais 59 que em 2018 (792) e mais 100 que em 2017 (751), o que significa que também em profundidade se progrediu bem nestes dois anos.
No quadro seguinte resumimos as pontuações dos últimos 10 anos e acrescentamos as melhores pontuações anteriores.
MÉDIAS ANO A ANO (tabela IAAF 2008)
10 MARCAS MASCULINAS
Corrid. Saltos Lanç. Total
2010 1003,2 955,0 872,0 961,0
2011 996,6 963,0 867,0 958,2
2012 991,3 963,5 871,5 956.6
2013 990,3 976,7 877,0 960,3
2014 1000,3 985,0 875,0 967,2
2015 994,6 993,7 869,2 964,9
2016 986,8 985,5 871,0 859,3
2017 995,8 985,0 878,2 965,6
2018 1015,3 1007,2 900,0 986,3
2019 1019,8 1015,0 913,5 993,6
MELHOR ANO ANTERIOR
1030,8 969,5 879,2 975,5
(2000) (2002) (2009) (2000)
20 MARCAS MASCULINAS
Corrid. Saltos Lanç. Total
2010 950,4 900,2 790,7 901,1
2011 946,2 899,5 787,0 897,8
2012 942,3 906,2 787,5 897,4
2013 941,7 913,2 794,5 900,4
2014 949,2 925,0 793,0 906,7
2015 946,9 931,0 788,7 905,9
2016 942,9 921,2 791,0 902,1
2017 949,4 920,2 798,5 907,1
2018 973,6 940,2 804,5 925,9
2019 971,1 947,7 922,2 930,6
Anterior
Melhor 983,8 909,0 801,5 915,4
Ano (1992) (2001) (2009) (2000)
Nota: não se consideram as provas de 10000 m, marcha e decatlo, devido à sua escassa profundidade.
Poderá ver todas as médias e pontuações, prova a prova, desde 1946, em http://atletismo-estatistica.pt/anuais/medias-e-pontuacoes/
João Vieira lidera pódio
O atletismo português teve dois momentos especiais, esta época. O grande destaque vai para a seleção nacional (neste caso masculina e feminina) que, de forma surpreendente, mas bem folgada, ganhou a I Liga do Europeu de Seleções, ascendendo à Superliga cuja próxima edição (dentre de dois anos) terá apenas oito seleções (e não 12 como até aqui), as principais do Velho Continente. A fechar a época, de forma não menos surpreendente, o marchador João Vieira conseguiu um 2º lugar nos 50 km marcha do Mundial de Doha, o que justifica naturalmente o lugar principal no nosso pódio, onde ele já esteve seis vezes desde há 17 anos (2002), com destaque para os primeiros lugares de 2010 e 2013, anos em que subiu aos pódios do Mundial e do Europeu.
A nível coletivo, destaque para o nono título consecutivo do Benfica no Nacional da I Divisão, desta feita com 11 pontos de vantagem sobre o Sporting. O SC Braga fechou o pódio, tal como na época passada.
PÓDIO
1º JOÃO VIEIRA (SPORTING)
Aos 43 anos atingiu o ponto alto da carreira ao conquistar a medalha de prata dos 50 km marcha do Mundial de Doha, um feito surpreendente. Com condições atmosféricas muito desfavoráveis, fez uma prova cautelosa e terminou muito forte, a ganhar sucessivos lugares. Antes, fora 3º na Taça da Europa de marcha, com 3.46.38, a minuto e meio do seu recorde nacional. E conquistou mais uma série de títulos nacionais (pista coberta, pista, 20, 35 e 50km de estrada), somando já 52!
2º PEDRO PICHARDO (BENFICA)
Andou sempre entre os primeiros na Liga de Diamante (ganhou em Londres) e parecia certa uma medalha em Doha. Mas os 17,62 que alcançou (a sua melhor marca da época) foram pela primeira vez insuficientes num Mundial, terminando a prova no 4º lugar. Acabou por ser uma derrota.
3º FRANCISCO BELO (BENFICA)
Uma época marcada por alguns problemas físicos mas que começou da melhor forma, com um 4º lugar no Europeu de pista coberta e uma vitória na Taça da Europa de Lançamentos, em ambos os casos com excelentes 20,97. O lançamento do disco acabou por ficar para 2º plano.
MENÇÕES HONROSAS
Desde logo para Nelson Évora, que, embora com “apenas” 17,11, conseguiu um 2º lugar no Europeu de pista coberta. Esperava-se bem melhor ao ar livre, mas nunca se encontrou (17,13 como única marca acima de 17 m) e acabou fora da final do Mundial. Muito bem o ainda júnior Leandro Ramos, novo recordista do dardo com sensacionais 77,52 e, depois, com duas provas acima dos 74 metros e regular acima dos 70 m. Embora desapossado do recorde, Tiago Aperta melhorou depois para 76,93, embora tenha sido menos regular que o novo recordista. De entre os 18 atletas que progrediram no top’10 de sempre das respetivas especialidades, metade (9) são lançadores e, entre eles, destaca-se também Décio Andrade, quarto português a passar os 70 metros no martelo.
A CONFIRMAÇÃO: NUNO PEREIRA (SPORTING)
Ainda atleta do GD Estreito, deu nas vistas em 2018, na sua primeira época de júnior, com 1.50,04 aos 800 m e uma surpreendente vitória na I Divisão de pista coberta. Confirmou esta época, melhorando para 1.49,71 e, principalmente, sagrando-se campeão europeu de juniores.
A REVELAÇÃO: GERSON BALDE (SPORTING)
Em 2018, em representação da equipa algarvia da AA Bela Vista, passou 2,02 em altura. Progrediu este ano para 2,17, com mais quatro marcas entre 2,14 e 2,16, prometendo vir a atacar num futuro próximo o recorde nacional. Só falhou no Europeu de Juniores: depois de se qualificar com 2,09, não passou a altura inicial da final.
OS PÓDIOS ANUAIS DA REVISTA ATLETISMO
1998 1º António Pinto 2º Rui Silva 3º Carlos Silva
1999 1º António Pinto 2º Rui Silva 3º Luís Novo
2000 1º António Pinto 2º Mário Aníbal 3º Carlos Calado
2001 1º Carlos Calado 2º Rui Silva 3º Mário Aníbal
2002 1º Francis Obikwelu 2º Rui Silva 3º João Vieira
2003 1º Rui Silva 2º Alberto Chaíça 3º João Vieira
2004 1º Francis Obikwelu 2º Rui Silva 3º Alberto Chaíça
2005 1º Rui Silva 2º Francis Obikwelu 3º Paulo Bernardo
2006 1º Francis Obikwelu 2º Nelson Évora 3º João Vieira
2007 1º Nelson Évora 2º Rafael Gonçalves 3º Arnaldo Abrantes
2008 1º Nelson Évora 2º António Pereira 3º Marco Fortes
2009 1º Nelson Évora 2º Marco Fortes 3º José Moreira
2010 1º João Vieira 2º Marco Fortes 3º Francis Obikwelu
2011 1º Marco Fortes 2º Nelson Évora 3º Marcos Chuva
2012 1º Marco Fortes 2º João Vieira 3º João Almeida
2013 1º João Vieira 2º Marcos Chuva 3º Rasul Dabo
2014 1º Vítor Ricardo Santos 2º Yazaldes Nascimento 3º Marco Fortes
2015 1º Nelson Évora 2º Yazaldes Nascimento 3º Tsanko Arnaudov
2016 1º Tsanko Arnaudov 2º Nelson Évora 3º Paulo Conceição
2017 1º Nelson Évora 2º Tsanko Arnaudov 3º Francisco Belo
2018 1º Nelson Évora 2º Vítor Ricardo Santos 3º Tsanko Arnaudov
2019 1º João Vieira 2º Pedro Pichardo 3º Francisco Belo
POSITIVO DA ÉPOCA
+ A vitória na I Liga do Europeu de Seleções com consequente subida à Superliga
+ A medalha de prata de João Vieira no Mundial de Doha
+ Novos progressos nos rankings nacionais, os melhores de sempre por boa margem
+ O recorde de Portugal do dardo, conseguido pelo ainda júnior Leandro Ramos
+ A medalha de prata de Nelson Évora no Europeu de pista coberta
+ As medalhas de Nuno Pereira (ouro nos 800 m) e Etson Barros (bronze nos obstáculos) no Europeu de Juniores.
NEGATIVO
– Mais uma fraquíssima presença no Europeu de corta-mato, tanto da equipa principal (apenas 12ª) como das mais jovens, facto que se estendeu depois ao Mundial (com reduzidíssima presença nacional).
– Presença de apenas quatro atletas (masculinos) no Mundial de Doha
– Elevado número de atletas estrangeiros (masculinos e femininos) inscritos por Benfica e Sporting, vários dos quais nem residem em Portugal…
RECORDE DE PORTUGAL BATIDO EM 2019
Dardo Leandro Ramos (SL Benfica) 77,52 Castellón 26-05-2019
ALTERAÇÕES NO TOP’10 NACIONAL DE SEMPRE
1º Leandro Ramos SLB dardo 77,52
2º Raidel Acea SLB 400 m 46,08
2º Tiago Aperta SCP dardo 76,93
3º Francisco Belo SLB peso 20,97
4º Diogo Antunes SLB 200 m 20,70
4º Décio Andrade GDE martelo 70,42
5º Diogo Antunes SLB 100 m 10,24
5º Tiago Pereira SCP triplo 16,60
5º Miguel Carreira SCP martelo 69,80
6º Ivo Tavares SLB comp. 8,05A
6º Otoniel Badjana SLB peso 17,81
6º Ruben Antunes SCP martelo 68,20
6º Manuel Dias SLB decatlo 7023
7º Gerson Balde SCP altura 2,17
7º Miguel Rodrigues SLB 20 km M 1.24.31
9º Emanuel Sousa SLB disco 56,04
10º Daniel Santiago SCP peso 16,81