Fugir do asfalto para a areia é bom para variar o treino, distrair a cabeça e reforçar a forma. Mas antes, tome todos os cuidados necessários
Com a chegada do mês de Maio, começam as corridas na praia como a Meia Maratona na Areia na Costa da Caparica e o Raid Melides-Troia, entre outras. Mas encontramos habitualmente poucos atletas a treinarem na areia fofa, o que melhora o desempenho nas provas em pisos mais firmes.
A areia fofa tem três componentes que dificultam a corrida:
1- Absorção do impacto: em termos de amortecimento, correr na areia fofa é ótimo. A questão é que a areia dissipa a energia entre os seus grãos e não a devolve ao corredor. Ou seja, é necessário fazer muito mais força para impulsionar a passada para cima e para a frente.
2- Atrito: por ter grãos soltos, a areia fofa oferece pouquíssima aderência à sola do pé ou de qualquer sapato, dificultando a impulsão horizontal.
3- Terreno: a sua superfície é extremamente irregular, com pequenos morros e depressões de diferentes tamanhos e formas, o que exige mais atenção do atleta.
Um quarto elemento poderia ser o fator-surpresa: a presença de objetos ocultos no meio dos grãos, como pedras, conchas e lixo, mas isso depende muito de cada local. Se esse elemento extra estiver presente, é necessário criar novas estratégias para lidar com os obstáculos no terreno. A mais importante, é sem dúvida, a alteração da mecânica. Num piso de pouco atrito e com baixo retorno energético, é fundamental que o pico da pressão no pé aconteça quando ele estiver o mais próximo da linha vertical do corpo. Para compreender melhor, veja o seu corpo de lado e na altura do umbigo. Marque um ponto no meio da cintura – essa é a localização aproximada do seu centro de massa. Durante a corrida na areia, o momento de maior pressão nos pés deve ocorrer quando estiverem bem abaixo do ponto marcado. Ou seja, é importante evitar que os pés aterrem à frente ou atrás dessa linha vertical que passa pelo centro de massa. Na areia, isso poderia causar uma derrapagem e, consequentemente, um maior gasto de energia.
Além da mudança na mecânica da corrida, como o solo não devolve tanta energia e o terreno é irregular, o atleta precisará de fibras mais desenvolvidas nos músculos extensores (principalmente glúteos, anteriores da coxa e gémeos) e nos estabilizadores do tornozelo.
O resultado de tudo isto é um atleta preparado para correr na areia fofa, mas que se for para o asfalto ou terra batida, vai voar. Afinal, todos estes pré-requisitos também são a base para uma corrida mais eficiente, independentemente do terreno.
Resumindo, correr na areia fofa de forma correta, ajuda muito na corrida em geral. Mas não podemos pensar que é fácil: é importante fazer uma adaptação ao terreno, iniciar em curtas distâncias, realizar exercícios educativos e desenvolver progressivamente a velocidade e a quilometragem. Caso contrário, o risco de lesões é maior.