Primeiro foi o Benfica. Ainda no inverno, apresentou a saltadora cubana Yariagnis Arguelles, 33 anos, com 6,70 m (em altitude) como recorde pessoal e que já saltou este ano 6,56 em pista coberta. Depois, veio o venezuelano Lucírio Garrido, 28 anos, 49,66 s aos 400 m barreiras como recorde pessoal em 2014 (50,96 esta época). Com pompa e circunstância foi a seguir apresentado o cubano Pedro Pablo Pichardo, vice-campeão mundial do triplo em 2013 e 2015 e um dos raros atletas mundiais a terem passado os 18 metros (18,08 em 2015). Desertou do estágio que a seleção cubana estava a realizar em Estugarda e acabou por assinar pelo Benfica, fixando-se em Portugal com o pai, seu treinador, devendo estrear-se este sábado, no Meeting do Benfica. Entretanto, também já foi anunciado como atleta do Benfica outro cubano, Raidal Acea, de 26 anos, que integrou a seleção do seu país, 7ª na final dos 4×400 m do Mundial de 2015 e que tem 45,18 s aos 400 m (em 2015) e 1.45,62 aos 800 m (em 2011) como melhor.
Mais recatado (não fez apresentações oficiais), o Sporting apresentou no passado fim-de-semana, em Vagos, quatro novos estrangeiros a representar o clube no Campeonato de Portugal. No início da época, falara-se (pelos vistos sem confirmação) no espanhol Frank Casañas. Agora apareceram efetivamente Noelie Yarigo (Benim), 31 anos, semifinalista nos 800 m dos Jogos de 2016 e que já correu em 1.59,12 (em 2016) e 2.01,60 (esta época); Soufiane Bouhadda (Argélia), 27 anos, com 20,53 s aos 200 m em 2016 e 46,02 s aos 400 m (2015) – 46,84 esta época; Jordin Andrade (ex-EUA, cabo-verdiano desde Dezembro de 2015 para poder estar nos Jogos de 2016), 25 anos, com 49,26 s nos 400 m barreiras em 2016 e 49,91 em 2017; e ainda Ali Mohamed Idris (Sudão), 27 anos, campeão africano da altura em 2011 e com 2,28 m como melhor em 2014 e 2015… embora apenas tivesse passado 1,87 em Vagos (eliminado a 1,91).
Pergunta-se: o que leva os dois clubes a apostar em tantos estrangeiros, sabendo que os regulamentos nacionais (felizmente!…) são muito limitativos da sua presença nos campeonatos coletivos, desde a forma oportunista (não há outro adjetivo) como o FC Porto “alugou” meia dúzia de atletas do leste europeu para o campeonato nacional feminino de 2010, interrompendo um ciclo vitorioso do Sporting e obrigando a Federação a alterar o regulamento (o que levou o FC Porto a suspender a secção de atletismo…).
Estando a maioria destes atletas (Pichardo é uma exceção) filiados nas suas federações e devendo representá-las, o mais certo é ficarem inibidos de representar os clubes nacionais nas competições coletivas nos próximos dois anos (e terão que residir efetivamente entre nós…).
Portugal deve orgulhar-se do apoio que deu a Francis Obikwelu (e Lorène Bazolo), que procuraram o nosso país por razões humanitárias. Tal como é bom que jovens estrangeiros há vários anos a residir em Portugal, como Tsanko Arnaudov, por exemplo, possam ser portugueses. Mas isso, nada tem a ver com a contratação de atletas estrangeiros (alguns deles a viver por essa Europa fora) que acabam por colocar os melhores portugueses em segundo plano na ajuda dos clubes. É de esperar que o atletismo consiga resistir à invasão de estrangeiros que se observa noutras modalidades. E, por isso, a Federação não deve facilitar…
Nota final: o caso de Pedro Pablo Pichardo é especial, não só (ou principalmente…) por ser também um caso humanitário (não poderá voltar a representar Cuba), mas ainda por ser um atleta de elevadíssimo nível. Mas, na melhor das hipóteses, só dentro de um ano ele poderá representar o Benfica em competições de clubes…