Brett Clothier, diretor da Unidade de Integridade de Atletismo (AIU), insiste na independência da sua agência. Eis as suas respostas a algumas perguntas feitas sobre o seu funcionamento e as investigações na Rússia.
Como está organizada a AIU?
Somos independentes do Worlds Athletics, e isso é o mais importante. A AIU foi criada em 2017 após o escândalo de Diack. Independência não é apenas uma palavra, temos uma direção independente, formada por pessoas da modalidade e de outros lugares, e temos carta branca para agir como quisermos. Esta organização é a melhor para dar confiança aos atletas. Na AIU, são vinte e seis pessoas no total, nove das quais estão no departamento de Inteligência e Investigações. É uma decisão estratégica que tomámos desde o início. Queríamos ter uma equipa muito forte.
Qual é a experiência dos investigadores, de onde vêm eles?
A maioria deles já trabalhou em serviços de segurança, eles têm experiência em ambientes difíceis e até hostis em todo o mundo.
Eles trabalharam com o crime internacional e sabem como obter informações em qualquer lugar. Eles são de países diferentes, e isso é importante porque o atletismo é provavelmente uma das modalidades mais universais. Tem-se de ser capaz de ir e investigar na Rússia ou no Quénia, por exemplo.
Recorreu à ajuda da polícia russa neste caso?
Não, tivemos a ajuda da Rusada (agência russa antidoping) e foi muito importante. Mas sabe, houve mudanças na Rusada desde que o seu diretor, Youri Ganous, foi demitido em Agosto de 2020.
Qual é o custo de uma investigação como essa?
Ah, ainda não tenho os números exatos, mas é muito caro com certeza. Foi preciso recorrer a técnicas caras de exploração de dados informáticos, a equipamentos de ponta, a especialistas, a tradutores eficientes … Mas a maior parte destes custos ser-nos-ão reembolsados pelos culpados.
Os seus investigadores foram para a Rússia ou a Rusada fez todo o trabalho lá?
Nós também lá fomos. Mas a maior parte do trabalho no local foi feito pela Rusada.
Quais são os principais obstáculos que enfrenta num país como a Rússia?
É essencialmente a cooperação de testemunhas e o medo de represálias. Mas este caso pode ajudar a fazer a diferença. A Araf foi reformada, pois a sua direção foi totalmente alterada. (Foi eleita uma nova Direção e o presidente eleito, Piotr Ivanov, teve de ceder lugar a Irina Privalova porque aWADA (Agência Mundial Antidoping) não aceita que um alto funcionário (ele trabalha num departamento dependente do governo) possa ocupar essas funções).
O World Athletics suspendeu a Federação Russa por vários anos e este caso, é oportuno para justificar um pouco mais essas sanções. Sofreu alguma forma de pressão para concluir esta investigação a todo custo?
De forma alguma. Operámos de forma totalmente independente.
Tem os recursos humanos e financeiros para conduzir todas as investigações necessárias?
O World Athletics dá-nos 8 milhões de dólares por ano, que são complementados com cerca de 3 milhões da indústria da corrida de estrada. Gostaríamos sempre de mais e fazer mais, mas é um ato muito responsável por parte do atletismo.