Carlos Freitas tem 49 anos e corre desde 1985. Foi atleta de vários clubes como o JOMA, Benfica e Belenenses. Foi Guia da ACAPO entre 1996 e 1998 conquistando o título mundial dos 5.000 m em Madrid, com o atleta Paulo Coelho. Atualmente, é treinador e corredor do Run Tejo – CM Socks, clube de que foi um dos fundadores.
Carlos Freitas tem 49 anos de idade e é lisboeta. Na sua vida profissional, é Account Coordinator na Estée Lauder Companies. Está no atletismo desde 1985, tendo sido atleta de vários clubes como o Desp. Operário do Rangel, JOMA, Benfica, Tecnilimpe, CF Os Belenenses, entre outros.
Em 2013, iniciou-se como monitor de atletismo, ao treinar primeiro Cláudia Pereira e mais tarde, Ercília Machado e atualmente treina dezenas de atletas de vários escalões que compõem a equipa do Run Tejo – CM Socks, fundador e seu atual clube como corredor e treinador.
Há quantos anos treina e como apareceu o atletismo na sua vida?
Treino há 35 anos. Eu tocava trompete na banda da SFCIA (Amadora) e a Sociedade também tinha atletismo. Tinha uma amiga da banda que sabia que eu gostava de correr e corria sozinho. Um dia, convidou-me a participar num treino e a partir daí, nunca mais larguei os treinos…
Treina quantas vezes por semana?
Treino 6 vezes por semana.
É também treinador da Run Tejo. Como concilia os seus treinos e os do clube com a sua atividade profissional?
Eu trabalho de segunda a sexta-feira até às 19 h e os treinos durante a semana, são normalmente às 19h30 ou no estádio do Jamor. Nós na Run Tejo, temos grupos de treino divididos consoante o nível de cada um e eu, enquanto estou a treinar com o grupo do meu nível, vou dando indicações aos outros grupos! Às vezes, quando posso, treino de manhã para poder estar disponível à tarde.
“A maioria dos atletas de hoje, prefere provas populares em vez das grandes competições regionais e nacionais”
Quando foi a primeira corrida oficial de estrada? Que achou dela?
A minha primeira corrida foi em 1985, uma de estrada em Lisboa. Mas sinceramente, não tenho grande recordação…mas da segunda, sim…a grande S. Silvestre da Amadora, ganha por Carlos Capítulo e Aurora Cunha! Para mim, a melhor corrida de todas, não só pela dificuldade do percurso mas também pelo grande apoio do público!
Quantas corridas faz em média por ano?
22 a 25 o que dá uma média de cerca de duas provas por mês, que é o que eu aconselho aos meus atletas.
Quais as corridas em que mais gosta de participar?
Sem dúvida e em primeiro lugar, a S. Silvestre da Amadora e depois, gosto muito do Cross de Torres Vedras (corta-mato dos Matos Velhos), GP Grândola, Corrida dos Ferroviários (Entroncamento),10 km dos Descobrimentos (Lisboa), Corrida Santo António (Lisboa) e a Marginal à noite (Oeiras).
E a(s) que menos gostou de participar?
Não tenho nenhuma em especial mas aquelas que menos gostei de fazer, foram a Meia Maratona S. João das Lampas, 17 km da Corrida Fim da Europa e os 15 km da Corrida das Fogueiras em Peniche.Mas pelas dificuldades do terreno e do tempo e porque também não gosto muito de fazer corridas acima de 10 km.
Qual a distância preferida?
A minha distância preferida em estrada é os 10 km. Em pista, é os 3000 m.
“O nível de hoje é muito inferior ao meu tempo de jovem… Basta ver as pelas marcas que fiz em pista e estrada comparativamente com hoje”
Já correu maratonas? Se sim, onde e como foi a primeira?
Já corri quatro Maratonas e todas já como Veterano…corri três para fazer marca (Amesterdão, Valência e Frankfurt) e uma para acompanhar uma atleta (Sevilha). Independentemente de não gostar de longas distâncias, foi uma excelente experiência e não queria terminar a minha carreira sem fazer a Maratona! Escolhi a primeira em Amesterdão porque já lá tinha estado em 1998, a fazer a Meia Maratona e o resultado tinha sido excelente (2º lugar na geral masculina).
Recordes pessoais (5.000 m/10.000 m/1/2 maratona e maratona)
5.000 m (Pista 14m34s), 10.000 m (32m30s em estrada e 34m10s na pista, já em veterano onde me sagrei campeão nacional M40 em Leiria), 1h08m52s (Meia Maratona Nazaré) e 2h42m06s (Maratona de Amesterdão).
Se participa em trails, qual a grande diferença relativamente às provas de estrada?
Nunca participei num trail mas já fiz duas provas de Montanha. A grande dificuldade é sem dúvida, o terreno (relevo), o que obriga o atleta a estar muito bem preparado a nível físico para aguentar as constantes mudanças de ritmo e dificuldades que vão surgindo!
Qual foi o momento da sua carreira desportiva que mais o marcou?
Foi a primeira prova que ganhei, numa difícil corrida de estrada em Queluz-Monte Abraão, ainda como Juvenil. Porque a sensação de subir ao lugar mais alto do pódio, foi inesquecível para um miúdo de 15/16 anos! O meu pai não me apoiava no atletismo mas a parti do momento que ganhei essa prova, ele mudou completamente de postura!
Até quando pensa correr?
Até que o meu corpo permita…neste momento a minha prioridade são os meus atletas mas não posso parar de correr devido à minha saúde física e mental. Mas agora, já sem pensar em grandes competições ou pódios!
Costuma fazer exames médicos de rotina?
Anualmente…porque nós no clube, chamamos uma empresa todos os anos para vir fazer os testes aos nossos atletas e staff. Este ano, devido à pandemia, já marcámos e desmarcámos duas vezes devido às restrições das passagens de concelho para concelho.
Lesões?
Várias, principalmente a nível dos joelhos…foram muitos anos a treinar na pista, corta mato e estrada e com grandes impactos…já fui avisado por um médico ortopedista que as minhas cartilagens estão muito danificadas…
“Acho que as organizações das provas estão muito melhores do que no passado… mas têm de existir blocos de partida na partida de todos os grandes eventos”
Tem algum tipo de cuidado com a alimentação?
Já tive mais quando era mais novo mas agora, como de tudo um pouco. Tento não exagerar porque eu engordo com facilidade….
Se não estivesse no atletismo, que modalidade gostaria de ter seguido?
Gostava de ter sido futebolista…embora atualmente não possa jogar devido aos joelhos, é uma modalidade de que gosto muito e até acho que não jogava mal…
Que futuro vê para o atletismo em Portugal?
Sinceramente neste momento, vejo as coisas muito más…acho que existem jovens com muito valor mas a maioria dos atletas de hoje, prefere provas populares em vez das grandes competições regionais e nacionais e isso faz com que haja menos qualidade nas provas!
Compare o nível do atletismo de hoje com o do seu tempo de jovem
O nível de hoje é muito inferior ao meu tempo de jovem e é algo que estou sempre a contar aos meus atletas. Basta ver as pelas marcas que fiz em pista e estrada comparativamente com hoje…vou dar como por exemplo duas provas: 1h08m52s na Nazaré e fui 13º classificado e 48m18s aos 15k m de Mafra e fui 18º classificado…com esses tempos, em que lugar ficava hoje? Certamente nos 5 primeiros….
Consultámos o histórico destas duas provas no blogue de João Lima e podemos dizer que Carlos Freitas teria vencido a Corrida dos Sinos em 2014, 2015, 2016, 2018 e sido 2º em 2019. Na Meia da Nazaré, teria vencido desde 2009 até 2019, menos em 2014 e 2018!
O que mais aprecia no mundo das corridas?
O que mais aprecio, é sem dúvida o espirito fantástico de convívio que existe na maioria das corridas e termos a possibilidade de fazer desporto ao ar livre em diversos tipos de competições, terrenos e locais (estrada, pista e corta mato), já para não falar também na pista coberta que adoro!
“A nível físico e psíquico, sinto que para a idade que tenho, estou muito bem e que o atletismo me ajudou imenso a manter-me assim!”
Sugestões para uma melhor organização das provas
Acho que as organizações das provas estão muito melhores do que no passado. No entanto, devido ao crescimento do running, continuo a dizer que têm de existir blocos de partida na partida de todos os grandes eventos, para que não exista problemas nas partidas das provas, entre quem vai “competir” e quem vai simplesmente disfrutar da prova!
Projetos futuros na modalidade
Os projetos passam por continuar a treinar atletas e ajudar no seu crescimento, terminar o nível 2 do curso de atletismo da FPA e ajudar o meu clube a ter os melhores resultados possíveis nas suas competições!
Desde que começou a correr e passados todos estes anos, como se sente? A nível físico, psíquico, como cidadão?
A nível físico e psíquico, sinto que para a idade que tenho, estou muito bem e que o atletismo me ajudou imenso a manter-me assim! Como cidadão, penso que tenho feito de tudo para ajudar no crescimento da modalidade e que tenho ajudado as pessoas a terem uma melhor qualidade de vida praticando desporto!
Tem algum ídolo na modalidade?
Tenho, o meu amigo Carlos Lopes…atleta completo (Pista, Estrada ou Corta Mato…era o maior) que acompanhei até ter terminado a sua carreira e que ainda me ajudou pontualmente em alguns treinos!
Uma ou duas estórias curiosas acerca das suas corridas? Ao longo dos nossos anos de corridas, há sempre estórias engraçadas para serem contadas
Sim, tenho várias…mas vou contar uma passada na Suíça. Em Maio de 1998, fui convidado pela Associação Portuguesa de Moutier a participar numa Meia Maratona na Suíça (12º Semi-Marathon du Jura) em Saint-Ursanne, e como nunca tinha ido à Suíça, aceitei. Como estava em boa forma e a prova tinha bons prémios monetários para os 10 primeiros, pensei que ainda ia ganhar algum dinheiro! Apanhei o avião para Genebra, foram-me buscar de carro e depois de andarmos quase 200 km, lá chegámos a Moutier. Depois de jantar em casa de um casal português onde fiquei a dormir, convidaram-me para ir conhecer a Associação. Quando lá cheguei, estava a decorrer uns ensaios do rancho da Associação e eu sentei-me na plateia a assistir. De repente, o responsável do ensaio fez um intervalo e saiu uma senhora de cima do palco a gritar, em direção a mim: “Estás aqui? Eu nem acredito que estás aqui!” Eu comecei a olhar para os lados para ver se era para alguém que estivesse ao meu lado, mas eu não tinha ninguém perto de mim…e eu não conhecia ninguém…A senhora aproximou-se, abraçou-me e disse: Carlinhos, como estão os teus pais e os teus irmãos Rosinha e Zequinha? Uiii…ela conhece-me a mim e aos meus irmãos, mas afinal quem é esta senhora? Era uma senhora que tinha morado numa vivenda perto da minha casa e antes de ir para a Suíça, tinha ajudado a minha mãe a criar-nos! Conclusão da história…o mundo é uma ervilha…e eu acabei por ficar em 11º e vim sem dinheiro nos bolsos mas contudo, com uma grande experiência!
“Tive o prazer de ajudar o meu atleta cego Paulo Coelho a ser campeão mundial em 1998, em Madrid. Foi talvez a coisa mais gratificante que fiz até hoje no desporto”
Como tem encarado as corridas neste tempo de pandemia? Treinos, corridas virtuais, novos praticantes, etc
Têm sido tempos muito difíceis porque não tem sido fácil manter as pessoas motivadas e preparadas para algumas competições que ainda vão havendo. Como somos federados, temos participado em algumas provas de corta-mato e estrada que a AAL tem realizado e sempre que posso, faço alguns testes com os atletas em provas virtuais de 5 km e 10 km. Os treinos sempre que possível, tento que estejam 3 a 4 vezes por semana comigo (Estádio Nacional) para manter o grupo unido. Temos tido realmente um crescimento de novos praticantes mas o mais difícil, tem sido manter motivados os da “competição” que já cá estavam…
Mais algum aspeto que ache de interesse divulgar
Estive dois anos como guia da ACAPO e tive o prazer de ajudar o meu atleta cego Paulo Coelho a ser campeão mundial em 1998, em Madrid. Foi talvez a coisa mais gratificante que fiz até hoje no desporto…