O processo de Caster Semenya continua na ordem do dia. Agora, surgiu no Brasil uma campanha denominada “Let Her Run” e que exige mudanças no comportamento da World Athletics em casos parecidos com o da sul-africana: “Nenhuma mulher tem que provar que é realmente mulher”
O movimento “Let her run” (“Deixe ela correr” nasceu com o objetivo de pressionar a World Athletics, a terminar com decisões consideradas abusivas para com as atletas que sofrem de hiperandrogenismo.
Num vídeo divulgado recentemente, o movimento mostra o sofrimento de uma atleta para comprovar que é mulher. A campanha lembra que os homens não passam pelo mesmo tipo de exames e pede o fim do tratamento abusivo. Eis o comunicado da campanha:
“A World Athletics, antiga International Association of Athletics Federations ,pressiona constantemente atletas femininas para provarem se elas são, de facto, mulheres.
O Sex Testing teve muitas caras desde os anos 30. E continua causando danos psicológicos irreversíveis em meninas que só querem fazer o que elas amam.
Desde maio de 2019, a IAAF introduziu novos limites de testosterona para as mulheres. Um hormónio produzido tanto por homens quanto pelas mulheres. Eles diminuíram o limite de 10 nmol/L para 5 nmol/L. Caster Semenya e outras corredoras femininas, por acaso, produzem naturalmente um nível natural de testosterona mais alto do que o novo limite permitido.
Os dirigentes da IAAF decidiram que elas não podem mais correr como mulheres. E que, se quiserem competir, devem tomar um medicamento que reduz os hormónios. Um remédio. Como se estivessem doentes.
Mas sabe de uma coisa?
Integridade não está à venda.
Integridade não é negociável.
Nenhuma mulher tem que provar que é realmente uma mulher.
E mais: a comunidade científica questiona os dados da IAAF.
Ou seja, os limites de testosterona não são amparados pela ciência.
#LetHerRun é um movimento que abraça todas as mulheres discriminadas pela IAAF. O futuro dessa mulher está nas suas mãos. Não o ignore. Proteja. Abrace. Lute por ele. Junte-se a nós e apoie essas atletas para que elas possam competir em Tóquio 2020. E nunca parem de correr”.
A campanha também cita outros casos de atletas que precisaram de passar pelo mesmo tipo de exames, como Francine Niyosaba, do Burundi, e Margaret Wambui, do Quénia, prata e bronze, respetivamente, nos Jogos do Rio de Janeiro e de Londres nos 800 m, além das indianas Dutee Chand e Santhi Soundarajan.
As regras atuais forçam os atletas com transtornos do desenvolvimento sexual (DSD) a tomar medicamentos para reduzir clinicamente a sua testosterona natural para menos de cinco nmol/L por um período contínuo de pelo menos seis meses e manter esses níveis continuamente na sua carreira atlética. Somente assim, as atletas poderão competir em eventos femininos entre os 400 metros e a milha.
A World Athletics insiste que as regras existem para proteger o desporto feminino e tem o aval do TAS, mas há quem critique a federação mundial por infringir os direitos humanos. Um relatório das Nações Unidas publicado em Julho criticou os regulamentos, que afirmava “legitimar efetivamente a vigilância de todas as mulheres atletas com base em estereótipos de feminilidade” e “negar aos atletas com variações nas características sexuais, um direito igual de participar em desportos e viola o direito à não discriminação de forma mais ampla”.