Cátia Coelho é uma jovem de 21 anos que começou a treinar há seis anos, “empurrada” por uma tia. É atleta do Clube Desportivo Feirense, corre na estrada e em corta-mato mas a sua preferência vai para a pista. 800 metros são a sua distância preferida.
Cátia Coelho tem 21 anos e nasceu em Santa Maria da Feira. Licenciada em jornalismo, trabalha atualmente como community manager (gestora de redes de influenciadores digitais).
Não esquece a data do seu primeiro treino: 7 de Novembro de 2013. O mundo das corridas apareceu-lhe de uma forma “quase caricata” como ela nos disse. “O meu irmão, primos e tia já corriam até que numa quinta-feira à noite, a minha tia quase me arrastou para um treino para eu experimentar. Foi a primeira vez e apesar de eu ter pensado que seria a única, a verdade é que não foi e hoje continuo, muito pelo amor ao desporto e à equipa”.
Atleta do Clube Desportivo Feirense
Cátia é atleta do Clube Desportivo Feirense e salvo qualquer situação imponderável, treina todos os dias. Não lhe tem sido fácil conciliar a vida profissional com o atletismo. “Agilizar a vida profissional com a desportiva exige grandes malabarismos”.
Tem um horário mais ou menos flexível, o que lhe permite abdicar da hora de almoço e sair mais cedo para poder treinar. Mas até chegar a casa, ainda tem de apanhar transportes públicos e fazer uma viagem de 30 km.
“Continuo a correr muito pelo amor ao desporto e à equipa”
Não gosta de conhecer previamente os planos de treino
Dada a falta de uma pista em Santa Maria da Feira, treina habitualmente na estrada. “O que, por um lado, me agrada, porque não gosto absolutamente nada de fazer os mesmos percursos, ver os mesmos buracos na estrada e a mesma paisagem. Variar ajuda”.
Carlos Silva é o seu treinador. Mas Cátia não gosta de conhecer previamente os planos de treino. “Isso é bom, porque saber que amanhã as séries vão ser duras, já mexe muito com o psicológico. Esse era um problema durante a faculdade… eu já sabia os treinos de segunda a sexta e passava demasiado tempo a pensar naquelas séries, por exemplo, de 1.000 metros que me iam custar horrores”.
“O corta-mato não é de todo onde me sinto mais à vontade. A pista traz outra adrenalina. Já a estrada é o intermédio”
Preferência pela pista
Cátia correu na época passada cerca de duas dezenas de provas, distribuídas pela pista (a maioria), corta-mato e estrada.
Apesar de se ter estreado no corta-mato, a sua preferência vai para a pista. “O corta-mato não é de todo onde me sinto mais à vontade. A pista traz outra adrenalina. Já a estrada é o intermédio, porque também depende da forma física em que estou e da localidade (correr em Vila Flor não é, garantidamente, a mesma coisa que correr em Ovar – a inclinação é muito diferente).
800 metros, a sua distância preferida
Já correu na estrada provas até 11 km e a sua distância preferida vai para os 800 metros, naturalmente na pista. “Talvez por ser aquela onde já fui muito feliz… tudo o que seja de 10 km para cima, não é muito bem recebido por mim”.
De entre as muitas provas onde já participou, a sua preferência vai para a Prova de Atletismo de César, em 2017. “Foi a primeira competição de estrada como júnior e uma prova dura, com chuva e uma inclinação considerável, mas que correu muito bem”.
Já quanto à prova que menos lhe agradou, de uma extensa lista do seu “álbum de recordações”, elege o Grande Prémio de Estarreja. “Porque da primeira vez que corri lá, a prova correu super mal. A memória que eu tenho é do meu corpo não responder e sentir que não estava a sair do sítio. Porém, já repeti a prova depois disso”.
“Já comecei a aligeirar um bocadinho, não se pode ter tudo e, às vezes, é preciso fazer cedências. Este é um desses momentos”
Inesquecível a primeira época como júnior
Para Cátia, a época de 2015/2016, a sua primeira como júnior, foi inesquecível. “Foi uma época deliciosa e que, tirando alguns acidentes de percurso, correu muito bem, a meu ver”.
Recorda-nos três momentos ímpares: 8ª no Campeonato Nacional de Corta-Mato Longo nas Açoteias, apuramento na prova distrital dos 800 m para o Campeonato Nacional de Juniores e 5ª na final desse Nacional em Viseu.
No Corta-Mato Longo, conta-nos: “Foi uma das provas da minha vida! Não sei sinceramente, descrever a sensação. Lembro-me de acabar e ter a minha equipa, treinador e eu inclusiva, boquiabertos, até porque uma parte do percurso tem areia, também nas subidas, e era aí que eu ganhava mais terreno”.
No apuramento distrital dos 800 m para o Campeonato Nacional, as sensações foram semelhantes: “Estava há vários meses a tentar fazer mínimos para os 800 m do Nacional de Juniores. Lembro-me de falar com uma outra atleta e perguntar se naquele dia, a prova ia ser puxada, explicando-lhe a situação. Ela garantiu que eu fosse também, para tentar os mínimos. A verdade é que consegui e não me esqueço da felicidade que senti por subir ao pódio (3º lugar) sabendo que estaria presente no Nacional. Foi realmente uma daquelas vezes em que sei que dei tudo o que tinha a dar”.
Sensivelmente um mês depois em Viseu, Cátia não podia ter ficado mais satisfeita com a sua prova. “De todas as inscritas, eu tinha o pior tempo. Parti na pista de fora, completamente amedrontada, faço uma primeira volta aceitável e na segunda volta, tudo aconteceu… Eu sabia que era tudo ou nada e comecei a acelerar cada vez mais. Quando dei por mim, tinha terminado em 5º lugar com novo recorde pessoal e tinha a minha família e o meu treinador incrédulo a olhar para mim e a pensar no que tinha acabado de acontecer naquela pista. São tempos que sei que não voltam, mas também são estas boas memórias que me continuam a agarrar à corrida”.
Cátia tem como recordes pessoais na pista: 400 m em 1m04s; 800 m em 2.22,58 e 1.500 m em 4m58s. “Tenho plena noção que são valores completamente distanciados do nível competitivo atual, mas na altura representaram uma grande vitória para mim”.
Passar a praticar a modalidade com outro espírito
A nossa entrevistada pretende continuar a correr mas encarando o futuro com objetivos diferentes. “Vou deixar que a época se desenrole sem que eu me esteja sempre a incutir algum tempo em prova, ou distância, ou condição física. Já comecei a aligeirar um bocadinho, não se pode ter tudo e, às vezes, é preciso fazer cedências. Este é um desses momentos. De alguma forma, enquanto a minha Tribo estiver, eu estou!”
Importância do ambiente no seio da equipa
Cátia dá grande importância ao ambiente existente no Feirense. Para já, o seu grande projeto na modalidade é conseguir estar perto da sua equipa, “porque tenho muito carinho por eles. Também por isso, os chamo de ‘Tribo’. Acho que de certa forma, o meu projeto na modalidade também é acompanhá-los, apoiá-los e ajudá-los em tudo o que posso. A modalidade não é tão individualista como se cogita e faço de tudo para estar o máximo possível ao lado dos meus colegas de equipa”.
“Eu não vejo o atletismo como uma modalidade individual. Nada se consegue sozinho
Lesão grave que levou três anos a curar
Cátia já foi visitada pelas lesões, particularmente uma mais grave na anca que prejudicou a sua evolução durante três anos. “Ora estava bem e sem dores, ora estava a desistir numa prova por já não me conseguir mexer”.
Costuma fazer exames médicos de rotina e quanto à alimentação, evita ao máximo os fritos e doces. Mas confessa que lhe é difícil resistir aos doces.
Se não estivesse no atletismo, estaria provavelmente na natação, modalidade que chegou a praticar durante dois anos. Recusa qualquer desporto que inclua bolas “porque sou mesmo horrível (voleibol, basquetebol, futebol,…)”.
“Nem vale a pena mencionar a qualidade da Mariana Machado, porque é absolutamente soberba e surreal”
Olhar o futuro da modalidade com otimismo
Mostra-se esperançada num futuro risonho da modalidade. “Acho que poderemos ter pela frente um futuro bastante promissor e isso já se vê com as participações bastante positivas em Europeus e até Mundiais de vários atletas. Nem vale a pena mencionar a qualidade da Mariana Machado, porque é absolutamente soberba e surreal”.
A importância da união e do companheirismo
No mundo das corridas, aprecia particularmente a união e o companheirismo “que muitos acreditam que não existe”. Não vê o atletismo como uma modalidade individual pois nada se consegue sozinho. “Primeiro, porque antes de mais, temos um treinador, depois entra o apoio da família e da equipa. Tudo bem que depende de nós, da nossa capacidade de treino e empenho, mas também depende muito de toda a estrutura que nos segura”.
De última a segunda numa milha noturna
Estórias não faltam a Cátia. Esta passou-se numa milha noturna no final da época passada. “Dei sinais ao meu treinador e família que não estava a conseguir respirar (tenho asma de esforço desde 2017 e às vezes, tenho crises que dificultam os treinos e as provas) e comecei a ceder drasticamente na prova, ficando completamente descolada do grupo depois dos 400 metros. Não sei o que me deu, talvez um pico de adrenalina, e quando entrei nos últimos 400 metros, comecei a recuperar estupendamente e passei toda a gente que estava à minha frente, com uma distância considerável, exceto uma colega de equipa que terminou uns segundos antes”.
Correr prova de 3.000 m com um pé torcido
Numa prova de 2.000 m obstáculos, ela torceu um pé na vala de água após duas voltas e mesmo assim, terminou. “Quando cheguei à beira do meu treinador, sem sabermos ainda que eu tinha torcido o pé, ele disse-me que só competiria no dia seguinte se estivesse bem. Como eu queria muito competir, na manhã do dia seguinte, disse que estava ótima e fui fazer 3000 metros com o pé torcido. Maluquices que não aconselho a serem replicadas por ninguém. Mas a verdade é que ainda hoje brincamos muito com isto, até porque foi a primeira vez que fiz obstáculos e consegui mínimos para os Nacionais de Juvenis. Depois desses Nacionais, nunca mais me aventurei em nada que implicasse tirar os pés do chão”.