A Marinha Grande viu nascer o Clube de Atletismo Mónica Rosa em Outubro de 2017. Como o nome o indica, Mónica Rosa é a presidente do clube que já tem 52 atletas filiados, a maioria benjamins.
Não existem muitos clubes com nomes de atletas que se tenham destacado na modalidade. Mónica Rosa é um deles, com um rico curriculum na pista, corta-mato e estrada, com vários títulos nacionais e internacionais.
O Clube de Atletismo Mónica Rosa (CAMR) está situado na Marinha Grande e nasceu em 16 de Outubro de 2017, primeiro dia das transferências no atletismo daquela época.
Segundo José Barradas, treinador e seu esposo, o nascimento do clube era um sonho há muito guardado pela Mónica. “Devido às dificuldades que sentiu no início da sua carreira, ela teve sempre o objetivo de ajudar crianças com mais dificuldades materiais que desejassem iniciar-se na prática do atletismo”. Outro objetivo importante passava por “retardar a especialização precoce e aumentar o gosto e prazer na prática desta modalidade”.
“Partimos da premissa que as crianças têm necessidade de brincar”
Falta de sede obriga a solução engenhosa para os troféus conquistados
Mónica Rosa é naturalmente a presidente do clube que está nesta fase, na recolha de propostas de sócios, com 40 já entregues. O valor das quotas é de um euro mensal.
Ainda não existe uma sede o que obrigou o clube a uma solução engenhosa quando ganha um troféu coletivo, ele circula pela casa de cada um dos atletas.
“Os resultados desportivos na faixa etária dos Benjamins não podem ser uma prioridade”
O futuro está aqui!
O CAMR tem em atividade apenas a Secção de Atletismo, tal como o exigem os seus estatutos. Os responsáveis são naturalmente Mónica Rosa e José Barradas.
Tem 52 atletas filiados, a maioria deles no escalão de benjamins. Para além destes 52, tem ainda um grupo de dez crianças, entre os três e os seis anos, para os quais foi feito um seguro de grupo, que desenvolvem atividade adequada à idade.
José Barradas acredita assim que dentro de 5/6 anos, o clube passará a contar com Juvenis e Juniores a destacarem-se a nível nacional. “O futuro está aqui!”
“Antes de formar atletas queremos contribuir para formar pessoas”
Aposta séria na formação
Para o clube, a formação baseia-se no princípio: “Antes de formar atletas, queremos contribuir para formar pessoas”. O objetivo principal passa antes de mais, pela angariação de adeptos para a modalidade, “dado que, nesta como noutras modalidades desportivas, não há só atletas, são necessários dirigentes, treinadores, juízes, médicos fisioterapeutas e massagistas”.
As crianças são cativadas através de jogos que lhes criem a sensação de prazer e que contribuam para a sua formação física, psicológica e social. “Partimos da premissa que as crianças têm necessidade de brincar”.
Em quase todas as sessões de treino, as crianças enfrentam desafios, sejam de ordem física, com solicitações de coordenação, velocidade, força ou resistência, como de ordem social, como terem que trabalhar em equipa, para vencerem uma qualquer dificuldade.
Neste trabalho, são utilizados por todos, os artefactos utilizados no treino, como barreiras, pinos, arcos, etc., e ainda, outro tipo de objetos improvisados para alcançar-se os objetivos definidos para cada sessão de treino. “Apostamos na formação completa, a multidisciplinaridade está sempre presente e a multidesportividade também. Todos, semanalmente passam por diversas disciplinas do Atletismo, mas, também, muitas vezes, por desportos diferenciados”.
Neste sentido, o clube já adquiriu uma tabela de basquetebol e uma rede utilizada no voleibol ou badmínton, adaptando as regras dos desportos introduzidos, de forma a que todos se mexam e todos participem nos jogos. A diversidade de locais de treino, quando o clima o permite, também está sempre presente, a praia, a mata ou parques públicos, somam-se ao pavilhão e à pista.
Barradas esclarece ainda que na atração dos jovens à prática do atletismo, nunca foi usado o nome de Mónica Rosa como atrativo. A maior parte ou a quase totalidade dos Benjamins, só agora começa a saber quem foi, como atleta, a pessoa que lhes orienta o treino. “O passa-palavra, do que realizamos no treino e do acompanhamento que fazemos dos jovens é a melhor publicidade que temos tido”.
Clube de Atletismo Mónica Rosa
Concelho: Marinha Grande
Ano fundação: 2017
Presidente: Mónica Rosa
Atletas: 52 filiados
Técnico: 2
Orçamento: cerca 5.000 euros
Tiago Vieira, um campeão distrital que é um exemplo para os mais novos
O clube participa em todo o tipo de competições que o calendário competitivo oferece, principalmente Convívios de Benjamins e pista, provas de estrada, corta-matos e trails, estes com o grupo de veteranos.
Barradas mostra-se muito satisfeito com o desenvolvimento físico e social dos seus atletas, “até porque os resultados desportivos, na faixa etária dos Benjamins não pode ser uma prioridade”.
Mesmo assim, os resultados têm sido excelentes, com várias provas onde os pódios foram apenas ocupados por atletas do clube.
Tiago Vieira é um nome a merecer particular destaque. Finalista do Mestrado em Engenharia Mecânica da Universidade Nova de Lisboa, tem-se destacado, a nível distrital nos 800 metros, trazendo para o clube o primeiro título de Campeão Distrital Absoluto. “O destaque não é só desportivo, pois é um exemplo para as nossas crianças, como aluno de eleição”.
Objetivos a curto prazo
Para a presente época, os objetivos estão bem definidos: aumentar a capacidade de intervenção junto dos jovens; aumentar o grau de satisfação das crianças na prática, por forma a fixá-los na modalidade; aumentar o número de praticantes veteranos e ter pelo menos um atleta nos campeonatos de Portugal de Ar Livre.
Para todo este trabalho, o clube conta com dois treinadores – Mónica Rosa e José Barradas. Bárbara Ferreira está a ser preparada para acompanhar o grupo das crianças dos 3 aos 6 anos e irá frequentar um curso de formação, logo que a sua idade o permita.
Outro objetivo passa pela organização de um Convívio de Benjamins no próximo 25 de Maio, para o qual são esperados cerca de cento e cinquenta crianças.
“Tivemos a sorte de deparar com um grupo de pais excecionais”
Subsídios insuficientes para orçamento inferior a 5 mil euros
O orçamento anual está um pouco abaixo dos 5.000 euros e os apoios estatais ainda não chegaram. Existe uma abertura da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia para possíveis apoios pontuais e houve autorização para utilizar todo o espaço praticável do Estádio Municipal da Marinha Grande.
A nível privado, Barradas destaca os apoios de Vasco Noronha, a Real Padaria, a clínica de fisioterapia Physioclem, a On-Time, a Grifin e a Cristal-Saúde.
Como acontece com a maior parte das coletividades, os subsídios são insuficientes para suportar todas as despesas. Há que pôr mãos à obra, daí a realização de atividades como sorteios, festivais de sopas ou até, um grupo de sócios que tomou a iniciativa e se prontificou a organizar uma competição de quatro rodas com o objetivo de angariar fundos. “Tivemos a sorte de deparar com um grupo de pais excecionais, não só no acompanhamento dos jovens, mas, também na disponibilidade que têm demonstrado para iniciativas que visem o desenvolvimento e divulgação do clube”.
Apoios aos atletas
Os apoios aos atletas passam pelo pagamento das inscrições das provas do calendário federativo, a deslocação e alojamento nos Campeonatos Nacionais fora da área de residência, pelo serviço de massagens. O clube também nomeia “O Atleta do Mês” que é contemplado por algum material de treino e, no final da época, “O Atleta do Ano” que é também premiado com material.
Aquisição de uma carrinha
O clube vai ainda procurar adquirir uma carrinha para deslocações a provas regionais, nacionais e recolha de crianças para os treinos. O crescimento tem sido grande devido à capacidade da Mónica Rosa em atrair e fixar crianças na prática da modalidade e já não bastam as viaturas particulares dos dirigentes e pais dos jovens.
Reconhecimento à Sociedade Instrutiva e Recreativa (S. I. R.) 1º de Dezembro
Desde o seu nascimento, têm sido várias as dificuldades encontradas pelo CAMR. Dificuldades que vão sendo ultrapassadas, por vezes com o apoio de terceiros. Barradas mostra o seu grande reconhecimento a um clube dos arredores da cidade, a Sociedade Instrutiva e Recreativa (S. I. R.) 1º de Dezembro que disponibilizou as suas instalações. “Um salão com condições ótimas para o que necessitávamos, um espaço ao ar livre que usamos quando está livre e um espaço que nos serve de arrecadação. Ficaremos eternamente gratos e nunca nos esqueceremos deste clube e pessoas que o dirigem pela compreensão, apoio e disponibilidade para colaborar no que for necessário e estiver ao seu alcance ajudar”.
Quando os mais novos descobriram quem tinha sido Mónica Rosa
O clube tem apenas ano e meio de existência mas estórias não faltam. Barradas conta-nos duas, a primeira passada na primeira prova de pista com os atletas benjamins. “A Mónica Rosa levou vários sapatos de bicos, de marcas diversas, que tinha usado ao longo da sua carreira para que, aqueles a quem servissem, pudessem utilizar. Foi quando os nossos jovens atletas começaram a perceber quem tinha sido a sua treinadora, porque, de imediato lhe começaram a perguntar onde tinha ido buscar aqueles sapatos todos, de marcas conhecidas”.
Carrinhos para desenvolvimento da coordenação, força e trabalho em equipa
Numa outra vez, o clube comprou carrinhos com o objetivo de desenvolver a coordenação, força e trabalho em equipa. Os jovens não se mostravam capazes de os movimentar na trajetória desejada até que um deles pediu ao seu treinador que o fizesse, pensando que este não seria capaz. Barradas não teve naturalmente dificuldades em levar o carrinho para onde queria. A partir daí, tornou-se fácil para todos, sem mais dúvidas.
Regulamento Municipal estranho na área do atletismo
A terminar, José Barradas manifestou o desejo de que o Regulamento da Câmara Municipal da Marinha Grande de apoio às coletividades, venha a ser alterado, no que ao atletismo diz respeito. Nesta modalidade, o apoio é apenas atribuído a um clube por freguesia, precisamente aquele que tiver mais atletas filiados. Também a nós nos parece estranho tal regulamento (feito por encomenda?) porque sabemos que quantidade não significa qualidade.
O atletismo precisa de clubes como o CAMR que dão um grande ênfase à formação, suficientemente cuidada para que as crianças não desistam cedo e cheguem longe na modalidade.