O Clube Spiridon de Gaia foi fundado em 1985 e tem em Tiago Faria o seu presidente. Com um orçamento anual de dez mil euros, conta com 65 atletas. Fez uma aposta grande na formação através do projeto Spiridon Kids e encontra-se focado em criar novos projetos para o atletismo e para a comunidade.
O Clube Spiridon de Gaia foi fundado em 1985, em Avintes, concelho de Vila Nova de Gaia, tendo-se mudado há alguns anos para uma freguesia vizinha, Pedroso.
O clube apareceu depois de o FC de Avintes ter suspendido a Secção de Atletismo. Alguns ex-atletas, juntamente com outras pessoas interessadas pela modalidade, lançaram mãos à obra e fundaram o Clube Spiridon de Gaia, com o objetivo de trazer a corrida às pessoas, com uma nova visão e dinâmica.
Tiago Faria é o presidente do clube que tem cerca de 30 sócios ativos que pagam uma quota anual de 15 euros.
O clube tem a sua sede, no mesmo local de treinos, o Estádio Jorge Sampaio, Pedroso, em Vila Nova de Gaia.
O Clube Spiridon de Gaia tem apenas em funcionamento a Secção de Atletismo, com 65 praticantes, a grande maioria deles jovens e a fazer apenas pista. No entanto, os fundistas começam a pré-época no corta-mato, seguindo depois para a pista. Alguns atletas mais veteranos correm mais na estrada, e esporadicamente no trail, mas este último, só pela curiosidade ou com um espírito apenas participativo.
Tiago Faria acumula as funções de presidente com as de responsável da Secção, apoiado pelos técnicos Domingos Fernandes e Artur Saldanha nos escalões superiores e da monitora Luana Alves no projeto Spiridon Kids.
Atletas internacionais
O clube está satisfeito com os resultados dos seus atletas mas como nos diz Tiago Faria, “como qualquer clube que busca mais e melhores resultados, acaba por ser natural que não estejamos completamente satisfeitos”.
O Clube Spiridon de Gaia conta no seu historial com três atletas internacionais, Joaquim Pereira no Mundial de 100 km, Cláudia Conceição na Taça da Europa de Marcha, e mais recentemente, Bárbara Bica no Campeonato Europeu de Juvenis, no lançamento do dardo.
Outros atletas já alcançaram resultados de valia nacional, alguns a baterem recordes regionais e a lutarem pelo triunfo em competições individuais e coletivas.
Tiago Faria refere ainda alguns nomes, desde os Benjamins até aos Veteranos, seja numa vertente mais pedagógica (caso dos Benjamins), descontraída (caso dos Veteranos) ou mais realista (Juvenis a Seniores). ”Os atletas Diogo Gomes, Samanta Zueva, Ana Zueva, Marco Paredes, Bárbara Bica, Joana Rocha, Rodrigo Alves e José Pedro Vieira são alguns nomes, mas temos igual carinho por todos e há muitos mais que poderíamos enumerar”.
“Os vários dirigentes devem ter uma abordagem diferente. Têm que trabalhar para angariar novos patrocinadores e parcerias”
Objetivos ambiciosos
Para Tiago Faria, o Clube Spiridon tem uma visão que vai para além da parte desportiva. Em termos de resultados, “ambicionamos voltar a conquistar um vasto número de títulos regionais, como já é habitual, assim como mais presenças e pódios a nível nacional. Para além disso, queremos continuar a participar da melhor forma possível no Campeonato Nacional de Clubes”.
Com o surgimento da academia de formação, denominada de Spiridon Kids, o clube espera ter uma boa prestação coletiva nas provas vocacionadas para os mais novos, em Campeonatos Regionais de Pista e em provas de pavilhão.
Outros objetivos passam por continuar a enriquecer o plantel nos vários escalões, para além de pugnar pela execução das metodologias do Kids Athletics nas escolas do concelho, dando a devida promoção à modalidade e ao Desporto Escolar.
CLUBE SPIRIDON DE GAIA
Concelho: Vila Nova de Gaia
Ano fundação: 1985
Presidente: Tiago Faria
Sócios: 30
Atletas: 65
Técnicos: 3
Orçamento: 10.000 euros
Orçamento de dez mil euros anuais
O valor do orçamento é feito em função da prova que o clube costuma organizar. Não incluindo esses valores, ronda os 10 mil euros.
O clube conta com apoios da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia e da Junta de Freguesia de Pedroso e Seixezelo. A nível privado, o clube colabora com a Logomark e a Esteves Alves e Carvalho que patrocinam os novos equipamentos de competição e com a Fisávin que fornece apoio a nível de fisioterapia em algumas competições do clube.
Como afirma Tiago Faria, “os subsídios vão dando para sobreviver. Um clube como o nosso que quer continuar a crescer, necessita de um orçamento mais avultado do que receber apenas as quotas de atletas e sócios e os apoios da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia”.
Para equilibrar as receitas com as despesas, a Direção promove por vezes, alguns sorteios e eventos.
Os apoios aos atletas passam por descontos às famílias que inscrevem mais do que um atleta, como também aos atletas que conseguem chegar às provas nacionais. Oferece ainda a inscrição e o seguro desportivo e garante o transporte para as competições, para além de uma fisioterapeuta.
Pioneiro do sistema de chips
Desde a sua fundação, o Clube Spiridon de Gaia já organizou 32 provas distintas, com a maioria delas a ter mais do que uma edição. No virar do milénio, o Clube Spiridon de Gaia era pioneiro no sistema de chips, tendo contribuído para a organização de provas como a Volta a Paranhos, Meia Maratona da Nazaré, 15 km de Avintes, GP de Marcha em Avintes, 17 km Pedorido S. Domingos, entre outras.
Atualmente, a prova-cartaz do clube é a Petrus Run, que percorre a freguesia de Pedroso e Seixezelo e tem a meta instalada na Pista do Estádio Jorge Sampaio. A última edição contou com cerca de 1.200 atletas.
“O atletismo é um desporto inclusivo, que não olha a idades, peso, altura, etnia ou ideologia”
Principais dificuldades na prática da modalidade
O Clube Spiridon de Gaia sofre da maior parte dos problemas da maioria dos clubes que mantêm de pé o desporto nacional a nível amador. Para além de ser necessário angariar mais receita, Tiago Faria menciona que o clube deseja ver as sus iniciativas irem avante, para que o desporto seja uma área mais valiosa e com melhores condições para os atletas. Eis o seu depoimento com subtítulos nossos:
Dirigentes devem ter uma nova abordagem na angariação de verbas
A generalidade das coletividades do país queixa-se da quantidade reduzida de apoios estatais que recebe. De facto, os subsídios fornecidos pelas entidades públicas não permitem que os clubes, em especial o Clube Spiridon de Gaia que se encontra em fase de crescimento, possam fazer a sua atividade de forma sustentável. Por outro lado, os vários dirigentes devem ter uma abordagem diferente. Têm que trabalhar para angariar novos patrocinadores e parcerias, pois os subsídios fornecidos pelas autarquias devem ser vistos como um apoio complementar e não como um fator decisivo para a sobrevivência das suas coletividades.
Projeto da construção de um Centro de Lançamentos Municipal
O Clube Spiridon de Gaia tem trabalhado ativamente em novos projetos e iniciativas. Criámos o projeto da construção de um Centro de Lançamentos Municipal, infraestrutura fundamental que faz falta no norte do país, e após o desenvolvimento da ideia, tivemos que angariar vários testemunhos para comprovar a importância da criação deste Centro. A ideia, inicialmente apresentada a nível municipal, avançou quando decidimos participar no Orçamento Participativo Jovem Municipal, onde cada cidadão até aos 30 anos, pode livremente concorrer. Estamos agora a aguardar pelo início da sua construção.
“A pista de tartan tem agora buracos, rasgos, fissuras e altos que põem em perigo qualquer utilizador, especialmente as crianças que lá treinam”
Demora em levar o atletismo às crianças nas escolas
Criámos também uma ideia que consistia em levar o atletismo às escolas. Por outras palavras, o clube ficaria responsável por ter um ou vários técnicos, que em parceria com o agrupamento das escolas, poderia fazer a introdução do atletismo às crianças, utilizando as metodologias do Kids Athletics. Seria uma forma simples, saudável e inovadora de promover hábitos de vida saudáveis, combater o sedentarismo, promovendo a modalidade com a captação de novos talentos. Procurámos e falámos com várias entidades e obtivemos um parcer negativo por causa da situação pandémica. Sendo um motivo compreensível, aceitámos e pedimos apenas para poder entregar material promocional do clube. Não satisfeitos, estamos a planear as atividades e brevemente, voltaremos a pugnar por este assundo, pois achamos que é de extrema importância.
Dificuldades na sinalização do local de treinos
Embora o Estádio Jorge Sampaio seja um local privilegiado para a prática desportiva, a sua localização não é favorável. Muito recentemente, tivemos a ideia de divulgar a localização do nosso local de treinos. Por iniciativa própria, criámos um pedido para poder colocar sinalização vertical que indicasse a existência de uma Escola de Atletismo nas principais estradas da periferia. Após pedido efetuado, eestamos a aguardar resposta.
Pista completamente degradada
A pista onde treinamos está degradada. A falta de manutenção, aliada às sucessivas intervenções de máquinas pesadas, fizeram com que a pista de tartan tenha agora buracos, rasgos, fissuras e altos que põem em perigo qualquer utilizador, especialmente as crianças que lá treinam. Já fizemos o pedido de reparação da pista.
O município de Vila Nova de Gaia é uma referência no desporto e na juventude, para o qual tem trabalhado arduamente. No entanto, temos a opinião de que o desporto precisa de ser seguido de uma forma mais descentralizada. Penso que há lugar para todos podermos contribuir para uma sociedade mais equilibrada e ativa, apostando nas ideias que têm viabilidade. Esperemos que esta parte evolua, pois iremos continuar por cá, ativos e prontos para ajudar no que for necessário.
“O atletismo é um desporto onde podemos sempre jogar a titular, onde não há atletas de primeira e de segunda”
Reinventar-se na pandemia
Como na sociedade em geral, não tem sido fácil ao Clube Spiridon de Gaia trabalhar durante a pandemia que já dura há cerca de dois anos. Tiago Faria classifica de “Desafiante” a luta contra a pandemia a nível da modalidade.” A fase pandémica já nos trouxe momentos piores e outros melhores. Um clube como o nosso, que aposta no convívio, viu a sua rotina ser completamente alterada. Poder deixar de treinar regularmente e de estar com as outras pessoas, foi muito complicado, e como em todo o sítio, houve atletas que desistiram. Por outro lado, a nossa rotina foi reinventada e para além de palestras motivacionais e treinos em modo digital, pudemos no regresso, captar novas pessoas que deixaram de treinar noutras modalidades, devido ao encerramento de pavilhões e piscinas”.
Praxe nos Campeonatos Nacionais de Clubes
Quanto a estórias, Tiago Faria refere uma praxe. “O Nacional de Clubes é mais do que a prova em si. É um momento de reunião e de partilha onde o resultado coletivo é importantíssimo para conseguir o objetivo delineado. Nas fases finais, onde o clube já esteve presente por duas vezes (3ª Divisão), existem vários momentos hilariantes. Nesse tipo de competições costuma haver uma ‘praxe’, obviamente feita com o intuito de integrar e não de punir, onde os estreantes têm de fazer várias coisas, desde maquilharem-se, usarem fralda e fazerem figuras ou danças que deixam qualquer um a rir.
Quando o treinador da Marcha foi desclassificado ao fim de 500 metros…
Outra estória engraçada aconteceu não com um atleta, mas com um treinador. Em 2004, o clube foi a Ferreira do Zêzere participar numa prova de marcha. Levou vários atletas, alguns deles estreantes. Subitamente, e após o desafio feito por várias pessoas, o treinador da marcha decidiu também participar. Numa prova que era suposto durar alguns quilómetros, a mesma ficou concluída em 500 metros. Escusado será dizer que a viagem de regresso foi “complicada” para o treinador. Acabou por ser um momento muito divertido para todos.
Levar o atletismo a todas as pessoas
A terminar, Tiago Faria deixou um pedido: “O que pedimos é uma oportunidade para podermos debater e implementar as nossas ideias, comprovando o valor que podemos adicionar a todos: às pessoas, aos atletas, ao atletismo e às freguesias. É muito importante continuar a levar o desporto, em particular o atletismo, às pessoas para que haja mais praticantes. O atletismo é um desporto inclusivo, que não olha a idades, peso, altura, etnia ou ideologia. É um desporto onde podemos sempre jogar a titular, onde não há atletas de primeira e de segunda. O Clube Spiridon de Gaia reflete-se nesta visão e está cá para a ajudar a construí-la. É importante o desenvolvimento de novos atletas, especialmente na área infanto-juvenil, para que tenhamos uma população mais ativa, mas sobretudo mais enriquecida na cultura desportiva”.