O Comité Olímpico Internacional reconheceu que as regras internacionais sobre atletas transgéneros não são adequadas e serão atualizadas em breve.
O anúncio foi feito depois da halterofilista neozelandesa Laurel Hubbard ter sido a primeira mulher abertamente transgénero a competir nos Jogos Olímpicos. Embora ela não tenha conseguido resultados de relevo, a sua presença por si só, atraiu a atenção significativa da comunicação social e debate sobre a inclusão de atletas transgéneros em certas modalidades.
Num comunicado, Laurel Hubbard disse: “O meu desempenho não foi o que eu esperava, mas estou emocionada com o apoio que recebi de tantas pessoas em toda a Nova Zelândia. Estou ciente de que a minha participação foi controversa. Obrigado ao COI por viver de acordo com os valores olímpicos e mostrar que o desporto é para todos e que o halterofilismo pode ser feito por todos os tipos de pessoas”.
O Dr. Richard Budgett, diretor médico e científico do COI, disse que a ciência avançou desde que as regras foram publicadas em 2015. Essas diretrizes exigiam que as mulheres transgéneros demonstrassem que os seus níveis de testosterona estavam abaixo de 10 nanomoles por litro (nmol/l) durante 12 meses antes da competição, valores que podem ser conseguidos através de medicamentos. Laurel Hubbard pôde competir pela seleção olímpica da Nova Zelândia porque atendeu a essas diretrizes.
No entanto, segundo Budgett, a referência de 10 nmol/l foi prejudicada por investigações mais recentes. “Na época, os 10 nanomoles por litro foi definido porque pensávamos que era o nível mais baixo para os homens”’, disse ele ao The Guardian . “Nós sabemos agora que eles caem para sete e nas mulheres, podem também ser mais altas. Concordar com outro número é quase impossível e possivelmente irrelevante. Pode-se debater isso sem parar”.
Como resultado, as diretrizes do COI serão atualizadas nos próximos dois meses. Caberá às federações individuais encontrar o “ponto ideal” entre segurança, justiça e inclusão, disse Budgett, porque não existe um “tamanho único” para as modalidades. “Há alguma pesquisa, mas depende se estamos a partir da visão da inclusão como a primeira prioridade, ou da justiça absoluta no enésimo grau a ser a prioridade,” explicou.
“Se está preparado para extrapolar a partir das evidências que existem, e considerar o facto de não ter havido mulheres abertamente transgénero no nível mais alto até agora, acho que a ameaça ao desporto feminino foi provavelmente exagerada”.
Em nota, o COI disse que está “a concluir uma série de consultas que consideram não apenas as perspetivas médica, científica e jurídica, mas também a dos direitos humanos, com ênfase na visão e nas experiências dos atletas afetados”.
“Este processo de consulta levará ao desenvolvimento de uma estrutura que reconhecerá as diferenças que existem entre as modalidades, a fim de encontrar mecanismos, políticas e abordagens adequadas para garantir a inclusão, não discriminação, justiça, proporcionalidade e segurança para todos os atletas em cada modalidade”’, acrescentou.