A queniana Margaret Wambui é uma das atletas com elevado nível de testosterona que a impede de participar em provas entre os 400 metros e a milha. Ela disse agora que a World Athletics devia introduzir uma terceira categoria de eventos para que as atletas como ela possam competir nas suas distâncias preferidas.
De acordo com a decisão da World Athletics, como outras atletas classificadas como tendo diferenças de desenvolvimento sexual – ou DDS, Wambui deve reduzir artificialmente os seus níveis de testosterona.
“Seria bom se fosse introduzida uma terceira categoria para atletas com alto nível de testosterona, porque é errado impedir as pessoas de usarem os seus talentos”, disse Wambui à BBC Sport Africa.
A World Athletics já disse que não tem planos de introduzir tal categoria e irá ater-se às classificações atuais de eventos masculinos e femininos.
A ideia de uma terceira categoria no atletismo já tinha sido lançada antes mas Wambui é a primeiro atleta a expressar total apoio à sugestão.
“Seríamos as primeiras pessoas a competir nessa categoria, para que possamos motivar outras pessoas que estão a esconder a sua condição”, disse ela.
“Poderíamos mostrar a elas que não é culpa delas, que foi assim que foram criadas e que não fizeram nada de errado. Eu sinto-me mal por não estar nos Jogos Olímpicos”.
A jovem de 25 anos, que não compete desde Julho de 2019, não vai estar em Tóquio.
Desde que a World Athletics introduziu as suas últimas regras que regem as atletas do DSD em 2018, nenhuma das três atletas que subiram ao pódio dos 800 m no Rio disputou a distância numa grande competição internacional.
Nos Jogos de 2016, Wambui ficou com uma medalha de bronze, atrás de Caster Semenya e de Francine Niyonsaba.
“É triste ver que todo o pódio não estará lá”, disse Wambui. As três estão classificadas como tendo diferenças de desenvolvimento sexual devido aos seus níveis de testosterona mais elevados do que o normal.
“Eles abreviaram as nossas carreiras, porque esse não era o nosso plano. Sinto-me mal por não estar nos Jogos por causa das regras da World Athletics.”
No entanto, ao contrário de Wambui, Semenya não quer uma terceira categoria introduzida no atletismo.
“Caster Semenya nasceu, cresceu e treinou, viveu e competiu como mulher e todo o caso é sobre o seu direito de fazê-lo”, disse o seu advogado. “Pior do que isso, é o facto de que, se for criada uma categoria como esta, significa que ninguém pode concorrer nessa categoria sem declarar publicamente detalhes privados de saúde. Seria apenas outra forma de teste de sexo por autodeclaração forçada.”
Enquanto isso, a World Athletics descartou qualquer possibilidade de uma terceira categoria.
“Deve-se notar que atletas com essa condição representam 0,7% da população de atletas de elite, então uma terceira categoria pode não ser viável em muitos eventos”, disse a World Athletics num comunicado à BBC.
Se é uma condição anómala (ainda que natural) e se representam uma faixa tão pequena, porque não englobá-las numa nova categoria para elas no Jogos Paralímpicos?
Não seriam as únicas atletas com nível de máxima elite que estariam afastada das competições não paralímpicas, pois também, por exemplo os atletas que competem com próteses têm uma comprovada vantagem que não é comparável com atletas sem próteses, logo não estão habilitados para participar em campeonatos contra atletas sem próteses.