O desafio dá pelo nome de World Marathon Challenge, formato criado em 2015, e consiste em correr sete maratonas, em sete continentes, em sete dias seguidos. Este ano, o vencedor foi o norte-americano Michael Wardian, da competição que se disputa em seis continentes ao longo de uma semana.
O norte-americano Michael Wardian foi o vencedor da terceira edição desta exigente prova de maratonas, que obriga os participantes a viajarem cerca de 40 mil quilómetros de avião no espaço de uma semana, além de terem de cumprir 42,195 quilómetros diários a correr.
A competição iniciou-se a 23 de janeiro e teve como palco inaugural o glaciar da Antártida, onde os participantes começaram por correr sob temperaturas negativas de 25 graus. Esta etapa é considerada a de maior exigência, tanto que o vencedor da primeira edição, David Gething, admitiu que era uma experiência para não repetir. “Perdi parte dos dedos porque ficaram congelados, e dei cabo dos tendões nos pés”, lamentou.
Mas Michael Wardian é um ultramaratonista bastante experiente e conhecido nos EUA. O atleta de 42 anos conseguiu terminar o evento com uma média de 2h45m56s por maratona, bem inferior à marca média de 3h32 m25s estabelecida por Daniel Cartica no ano passado.
Michael Wardian ganhou as 7 maratonas. A mais lenta que ele correu foi na Antártida, em 2h54m54s. “Todos os dias eu questionei a minha sanidade ao fazer isso”, disse o recordista ao Washington Post, após completar o feito. Entre as mulheres, a chilena Silvana Camelio foi a campeã geral com uma média de tempo de 4h12m37s.
Ao longo da competição, que reuniu 25 homens e oito mulheres, as temperaturas variaram 45 graus de uma corrida para a outra: a segunda etapa decorreu em Punta Arenas, no Chile, seguindo-se a passagem por Miami, na América do Norte, e Madrid, na etapa europeia.
Os atletas comem e dormem durante as viagens de avião, e tiveram como palco da quinta corrida’ Marraquexe, em África. A penúltima etapa decorreu no Dubai, na Ásia, e a corrida terminou novamente em Sydney, na Austrália, tal como já havia acontecido no ano anterior.
Uma corrida (muito) cara
Apesar da elevada exigência, que implica um total de 295 quilómetros no espaço de sete dias, apenas um dos 33 participantes não conseguiu terminar todas as maratonas. O número de participantes é particularmente baixo por se tratar de um evento inacessível a atletas amadores: o preço de inscrição é de 36 mil euros, despesa que inclui os preços das viagens e de alojamento. Ainda assim, trata-se de uma quantia só ao alcance de atletas profissionais ou com altos rendimentos fora do atletismo.
Michael Wardian foi tricampeão nos 50 quilómetros dos EUA, entre várias conquistas em solo norte-americano, que fazem dele, um dos ultramaratonistas mais destacados no país, embora nunca tenha testado palcos Europeus, Mundiais ou Olímpicos. Wardian é conhecido por correr várias maratonas no espaço de poucos dias e nunca ter preferido apostar em seguir uma carreira mais disciplinada no atletismo – concilia a corrida com a profissão de agente marítimo, é vegetariano e garante nunca ter pensado em metas mais exigentes.
“Sim, dizem-me que podia ser o tipo que corre a maratona em duas horas e pouco. Mas isso se calhar significa correr apenas uma ou duas por ano, guardar-se para os grandes eventos. Então e se se lesionam e falham uma? Está o ano perdido. Há tantas oportunidades para correr e eu quero aproveitar o máximo. Adoro a sensação de correr, de resistir e de cortar a meta. Gosto de testar os meus limites, não apenas numa corrida mas no máximo que conseguir fazer”, destacou.
Vietnamita correu as sete maratonas aos 70 anos de idade
Uma das participantes neste World Marathon Challenge foi a vietnamita Chau Smith que aos 70 anos de idade, não tem medo de desafiar os limites do seu corpo. Experiente em corridas (ela já correu mais de 70 maratonas durante a vida), Chau estabeleceu uma nova missão: correr sete maratonas em sete dias – e em sete continentes. Em Janeiro de 2017, ela completou o desafio.
Nascida no Vietname na década de 40, Chau foi morar para os Estados Unidos em 1972 e hoje administra uma lavandaria em Missouri. Em entrevista à CNN, ela contou que, apesar de os dias de trabalho serem cansativos, correr faz com que ela se sinta melhor. “Minha vida é stressante, trabalho 10 horas por dia, mas o sentimento que tenho depois de correr é inexplicável”, disse.
Chau explicou que começou a correr há décadas, pequenas maratonas na cidade onde vive, mas ao longo dos anos passou a procurar novos desafios. No ano passado, correu quatro maratonas em quatro semanas: em viagem à Ásia, completou uma prova em Miamar, seis dias depois, fez outra na Nova Zelândia e, em seguida, na Tanzânia.
“Fiz muitas loucuras durante a minha vida, a minha família nunca sabia onde eu estaria. Sempre mostrei a eles que eu poderia fazer qualquer coisa, assim como os meninos”, contou.
Quando a ideia de participar do desafio “Triplo 7” (7 maratonas, 7 dias, 7 continentes) surgiu, as duas filhas e o marido de Chau, que costuma correr com ela, ficaram preocupados com a saúde da mulher. Mas ela foi mesmo assim e disse à família que, se algo acontecesse com ela enquanto fazia algo que ama, valeria a pena.
A partir de então, ela intensificou a preparação e, durante oito meses, corria até 200 km por semana. Felizmente, completou o desafio a salvo, apesar do desgaste: depois de correr 42 km numa prova, ela apanhava um avião diretamente para a próxima fase.
Durante a etapa da Austrália, as altas temperaturas fizeram com que Chau tivesse insolação. Mas para ela, a passagem pelo Egito foi a mais difícil devido ao pouco tempo disponível. Os participantes chegaram à cidade da prova e tiveram apenas 10 minutos para se equiparem e saírem. “Chorei porque a chave do meu quarto não estava funcionando e eu quase perdi os meus 10 minutos”, disse Chau.
No fim, todo o grupo com quem Chau viajou para fazer o desafio, atrasou-se e a maratona, que inicialmente poderia ser feita em sete horas, precisaria de ser completada em seis para cumprir o cronograma da viagem. Chau terminou em 5h51m.
“Depois desse dia, ninguém mais ficou sugerindo que eu tentasse apenas as meias-maratonas”, deu o recado. Reforma? Ela ainda não pensa muito nisso, mas já adiantou que, quando tiver mais tempo livre, vai fazer uma caminhada pela cordilheira dos Apalaches, que vai do Canadá aos Estados Unidos.