Cristina Coelho tem 55 anos e corre desde 2008. É atleta do GDR São Francisco da Serra e prefere os trails à estrada. Corre em média 12 a 15 provas por ano. Já foi a Embaixadora do Alentejo Litoral no Trail Iberlince de Barrancos
Cristina Coelho nasceu há 55 anos no Carvalhal, concelho de Grândola. É empregada de limpeza e descobriu o mundo das corridas em 2008. Atleta do GDR São Francisco da Serra, os seus treinos são as provas e claro, não tem treinador.
Há quantos anos treina e como apareceu o atletismo na sua vida?
Comecei a correr em 2008. Na altura para mim, correr mais do que meia dúzia de metros era para malucos. Tinha vindo morar para Santiago do Cacém há pouco tempo, fiz amizade com um atleta, depois começámos a namorar, e passei a acompanhar em várias provas a equipa à qual ele pertencia. Achei que afinal, aquilo de correr até era fácil, e por brincadeira apostei com ele que em pouco tempo, era capaz de fazer 10 km em menos de uma hora. Nem eu imaginava onde me estava a meter…
Está inscrita nalgum clube?
Desde 2008 que corro pelo G.D.R. São Francisco da Serra, sou federada pelo clube na Associação de Atletismo de Setúbal e associada na ATRP.
“Faço os treinos nas provas e assim é muito mais divertido!”
Treina quantas vezes por semana?
Não gosto muito de treinar, por isso, é o mínimo possível. Faço os treinos nas provas e assim é muito mais divertido!
Como concilia os treinos e corridas com a atividade profissional?
Não trabalho aos fins de semana, por isso é fácil.
Quando foi a 1ª corrida oficial de estrada? O que achou dela?
Dia 27 de Dezembro de 2008, a São Silvestre do Sado. O meu amigo e grande campeão José da Luz venceu a corrida com o tempo de 29m39s, e eu a muito custo, consegui terminar em 54m23s. Adorei! Foi a minha primeira vitória! E fiquei super feliz porque tinha ganho a aposta de correr 10 km em menos de uma hora, mas afinal, a corrida era só de 9 Km!
Quantas corridas faz em média por ano?
No início, fazia poucas. Os rapazes da equipa iam correr e eu ia dar apoio e tirar fotografias. Foi assim que fiz boas amizades e conheci muita gente, a maioria atletas do pelotão que são os mais animados e divertidos. Em média, entre 12 a 15 provas.
Qual a corrida em que mais gosta de participar?
Tenho um carinho especial pela corrida do Tejo na qual participo desde 2009. A minha preferida é a que, apesar de não correr nela porque estou a ajudar na organização, a do meu clube, o G. P. de Atletismo Nª. Srª. do Livramento, em São Francisco da Serra.
E a que menos gostou de participar?
Apesar de às vezes reclamar, no final gosto sempre de todas!
Qual a distância preferida?
Em estrada, 10 km está de bom tamanho. Em Trail, entre 15 km a 25 km.
Já correu maratonas?
Não. Isso já é para quem treina a sério.
“Adoro andar no meio do mato (afinal, sou Coelho) na natureza, sinto-me bem e cada trail é uma festa”
Como participante em trails, qual a grande diferença relativamente às provas de estrada?
Para mim, a maior diferença é o espírito de entreajuda e o convívio. Na estrada, os atletas são mais competitivos.
O que mais a atrai nos trails?
Fiz o primeiro trail em Maio de 2017, o 1º Trail do Texugo no Redondo. Nunca tinha feito mais do que 12 km em estrada e não fazia ideia do que era um trail com 25 Km e 740 D + de altimetria. Mas achei que era capaz, e teimosa que nem uma mula, lá fui. O meu colega de equipa Bruno Gamito venceu a corrida com 2h 02m 51s, e eu consegui terminar em 4h 15m 39s. Adoro andar no meio do mato (afinal, sou Coelho) na natureza, sinto-me bem e cada trail é uma festa. Apesar da dureza, de alguns perigos, as amizades e os convívios no final, compensam tudo isso!
“Vou continuar a ser a tartaruga dos montes a corrinhar”
Qual foi o momento da sua carreira desportiva que mais a marcou?
Apesar de já ter ganho alguns prémios por escalão, não tenho nenhum momento marcante a destacar. Fiquei feliz e orgulhosa por ter sido convidada para ser a Embaixadora do Alentejo Litoral no Trail Iberlince de Barrancos. E agora com a entrevista para a vossa revista, desde já o meu sincero agradecimento.
Como tem sido a sua prática desportiva durante esta época de pandemia?
Estive parada cerca de um ano, a última prova foi o Trail de Mértola em Março de 2020. Há dois meses, voltei às “corrinhadas” aqui na Serra do Livramento.
Com o regresso das provas, está disponível para participar nelas de acordo com as novas regras sanitárias?
Sim. Em princípio, será nos 15 Km Comporta-Troia.
Até quando pensa correr?
Até quando as pernas deixarem, a cabeça e o coração tiverem vontade, vou continuar a ser a tartaruga dos montes a corrinhar.
Costuma fazer exames médicos de rotina?
Sim. Como sou federada, tenho de os fazer.
Tem tido lesões?
Não. Tenho uma anemia crónica com a qual é difícil lidar, tenho de gerir muito bem o esforço para conseguir sempre chegar ao final das provas.
Tem algum tipo de cuidado com a alimentação?
Não. Como e bebo de tudo.
Se não estivesse no atletismo, que modalidade gostaria de ter seguido?
Provavelmente nenhuma. Nunca fui grande desportista, até o atletismo apareceu já tarde e por acaso na minha vida.
Que futuro vê no atletismo em Portugal?
Existem alguns atletas jovens, com talento e futuro. Tenho dúvidas se terão o espírito de sacrifício necessário para obterem bons resultados.
O que mais aprecia no mundo das corridas?
Tudo! Rever os amigos que sempre nos apoiam e incentivam, o cansaço no início, ‘o raios parta isto, para a próxima já não venho’. Até à euforia a meio da prova porque está quase, e a sensação de bem-estar e orgulho no final porque consegui terminar.
Sugestão para uma melhor organização das provas?
Nada de relevante a apontar. Por norma, quando vejo algo que possa ser melhorado faço a sugestão à organização, sempre como crítica construtiva.
Projetos futuros na modalidade?
Continuar a ajudar na organização do G.P. Atletismo Nª. Srª. do Livramento e tentar convencê-los (a Direção do clube) a organizar o Trail do Livramento. Temos uma Serra linda que merece ser conhecida e visitada.
Uma ou duas estórias curiosas acerca das suas corridas?
Fui fazer uma corrida com uma colega que tinha entrado na equipa há pouco tempo e não tinha ainda equipamento. Ela fazia questão de levar a camisola do clube e emprestei-lhe uma das minhas. Durante a corrida, vinha um senhor atrás de nós, perguntámos se queria passar que nós íamos num ritmo lento. Ele disse que não, que estava bem assim e lá foi atrás de nós, até que ao fim de algum tempo disse: ‘Meninas, posso fazer uma pergunta’?
Pode, não sei é se podemos responder…
‘Vocês têm mesmo o nome igual? São as duas Cristinas Coelho’?
E foi um fartote de rir!