É uma sensação conhecida: dói a descer escadas ou a levantar-se rapidamente da cadeira. É um sentimento normal, se treinou demasiado nas últimas sessões. As dores musculares derivam do esforço a que os tecidos moleculares foram submetidos e as dores sentidas podem ser um sintoma da adaptação a que o organismo se está a sujeitar na busca de outros limites, para um treino ainda mais forte e com novos objetivos.
Mas podem ser um sinal de que algo está errado e, é aí, que o corredor tem de conhecer-se e saber responder à grande dúvida que se avolumará: Deverei relaxar-me, sentindo que é o meu corpo a responder ao treino e a adaptar-se, ou deverei parar, porque é uma lesão e não posso correr o risco de ficar pior?
Como reconhecer essa linha entre a dor suportável ou o mal-estar que é sintoma de lesão?
Dor ao correr
Acontece frequentemente: notam-se dores musculares fruto do stress do treino causado pelo exercício mais forte. Deve-se ao movimento biomecânico da passada, que empurra o seu corpo para baixo e, apesar das sapatilhas que usamos estarem preparadas para amortecer os impactos, a verdade é que alguma dessa força retorna às suas pernas. Os músculos recebem o golpe, segregam uns ativadores químicos que estimulam as fibras nervosas da dor e é assim que aparece um desconforto crescente.
Uma forma de reduzir estas dores é utilizar sapatilhas adequadas, assegurando-se que o desgaste não é demasiado (dependendo do corredor, poderão aguentar mais ou menos quilómetros, sendo desejável que o corredor observe sempre as sapatilhas, vendo ou não sinais de desgaste). Mudar a superfície do treino, para um piso mais mole poderá ser suficiente (trocar o asfalto por terra batida, ou melhor, por relva). Ou reduzir a intensidade e a distância dos treinos, se a dor persiste.
Se a dor incomoda, pode variar o treino, para a bicicleta ou a natação, no dia seguinte ao treino, para recuperar mais facilmente.
Dor após o treino
Outra situação: durante o treino sente-se glorioso, com tudo a correr muito bem. Porém, no dia seguinte, começam os problemas, algo conhecido como “febre muscular”, uma dor que chega ao máximo nas 24 a 48 horas posteriores ao exercício e que tarda cinco a sete dias em desaparecer. A causa principal é o exercício excêntrico dos músculos (que aumenta a tensão muscular durante a extensão). Quando pode suceder?
Depois de uma sessão de treino de séries mais curtas e intensas, de uma competição, um treino mais longo ou uma sessão pouco habitual.
Essa intensidade sobrecarrega as células musculares. Algumas estarão mais fortes devido ao treino regular, porém algumas há que são algo débeis, as que o esforço pode ocasionalmente provocar microroturas e a consequente dor. Bom, o facto de após a “reparação” e regeneração se fortalecem e resistem bastante em oito semanas.
Neste período, é possível correr ou caminhar suavemente, evitando sempre treinos mais fortes e de grande intensidade. Não é preocupante o facto de a dor aparecer nos primeiros 15 minutos, isso é normal. Porém, dever saber-se distinguir entre uma dor residual, consequência do último treino, de uma dor devido a lesão forte. Se nessa semana, não se verificarem melhorias significativas, se a dor persiste e é mais forte ou surge um hematoma, então está na hora de procurar ajuda clínica.
Entretanto, convém perceber que se o treino ou competição for regular dentro dos limites do corredor, não será necessário deslocar-se ao apoio médico.
Recorde: as lesões acontecem mais facilmente quando o corredor não está preparado para o esforço que vai encontrar, quando corre acima dos seus limites, quando não aqueceu corretamente.
Dor com os anos
Os nossos músculos são inteligentes, acostumam-se a um regime determinado de atividade e lesionam-se menos, adaptando-se e regenerando-se, dando menos sinais de lesão. É um mecanismo de defesa e adaptação lógica, porém não há regra sem exceção.
Conforme envelhecemos, estamos mais sujeitos a sofrer muitos tipos de dor. Isto porque o número de células vai diminuindo (não é só a inatividade que provoca a diminuição de células, é a idade também). Depois de um treino o “exército celular”, cada vez mais reduzido, tem mais dificuldades em chegar às zonas mais gastas.
Há uma boa divisão desse “exército” que fará o atleta cumprir o treino ou corrida mas não chegarão para evitar os danos colaterais. As dores e as inflamações surgirão com mais naturalidade. Com a idade, a flexibilidade é menor e os períodos de recuperação têm de ser mais prolongados e cuidadosos.