Obesidade metabolicamente saudável – isso existe?
Não é difícil conhecer uma pessoa obesa que diz não apresentar qualquer alteração nos exames de rotina, como glicemia, lípidos, etc. Muitos de nós, duvidamos dessa pessoa, já que pensamos que é impossível alguém ser obeso e ao mesmo tempo saudável. Será?
As evidências científicas são categóricas quanto à relação direta entre a obesidade e o risco de desenvolvimento de doenças metabólicas, como diabetes do tipo 2 e hipertensão arterial. Contudo, gostaríamos de chamar sua atenção para a palavra “RISCO”. Isso quer dizer que embora uma pessoa obesa tenha, de facto, maior “risco” de desenvolver essas doenças, ela não irá necessariamente desenvolvê-las.
De facto, diversos estudos científicos mostram (e também observamos isso na prática) que há muitas pessoas obesas que não apresentam qualquer disfunção metabólica sendo chamados de “obesos metabolicamente saudáveis”.
Mas o que diferencia estas pessoas daquelas metabolicamente não saudáveis?
Parece que os obesos metabolicamente saudáveis apresentam menor acumular de gordura na região superior do corpo, ou seja, menor acumular da gordura localizada entre os órgãos, a chamada gordura visceral, a qual está mais associada ao aumento do risco cardiovascular. Em contrapartida, estas pessoas apresentam maior acumular de gordura na região inferior do corpo, a chamada gordura subcutânea, localizada no quadril e membros inferiores, além de maior capacidade de expansibilidade desse depósito de gordura. Embora isso possa parecer mau, esta é uma característica extremamente benéfica ao metabolismo, uma vez que o excesso de gordura é depositado neste tecido e não em outros tecidos como no fígado, por exemplo, onde acumular gordura, a chamada esteatose hepática, exerce efeitos bastante negativos.
Além disso, um estudo recente mostrou que a prática de atividade física também parece contribuir para a obesidade metabolicamente saudável. Os autores do estudo avaliaram 5.649 adultos obesos (isto é, com IMC > 30 Kg/m2), e relataram que os obesos metabolicamente saudáveis (os quais representavam 31% da amostra) apresentaram maior capacidade física (avaliada pelo teste de esforço máximo) sendo, provavelmente, mais fisicamente ativos, quando comparados aos obesos metabolicamente não saudáveis. Além da comparação pelo IMC, os autores também utilizaram percentual de gordura corporal como determinante da obesidade, e encontraram exatamente os mesmos resultados.
Essas evidências colocam em xeque a necessidade de “emagrecer” toda e qualquer pessoa obesa, principalmente por meio de dietas restritivas. Conhece-se muitas vezes, a falta de eficácia das dietas, além dos prejuízos psicossociais com a preocupação exagerada com o corpo e a alimentação, a diminuição da autoestima, e o desenvolvimento de compulsões e transtornos alimentares como consequência.
Este estudo evidencia ainda o grande potencial terapêutico do exercício físico por si só, independente da perda de peso corporal, para indivíduos obesos. Fica a confirmação de que é possível ser obeso e saudável, principalmente levando uma vida fisicamente ativa!