Eliud Kipchoge, Prémio Princesa das Astúrias do Desporto deste ano, deu uma entrevista à agência espanhola EFE, analisando as suas conquistas e também os seus novos desafios. Eis a entrevista publicada na imprensa espanhola.
Eliud Kipchoge, vencedor do Prémio Princesa das Astúrias do Desporto 2023 e, para muitos, o melhor maratonista de todos os tempos,é uma lenda sentada numa cadeira de plástico. Em vez de levar uma vida de luxo, a sua casa é um simples centro de treino no oeste do Quénia, onde agora fala com a EFE.
Kipchoge compartilha este canto tranquilo – não havia sequer eletricidade na área até que os patrocinadores do centro instalaram recentemente alguns painéis solares – com dezenas de corredores com quem ele mora e treina todos os dias.
O queniano quebrou por duas vezes o recorde mundial da maratona. Ele ganhou duas maratonas olímpicas consecutivas . E é o único ser humano que percorreu essa distância (42,195 quilómetros) em menos de duas horas.
Para conseguir este último feito em 2019, Kipchoge utilizou algumas condições que a World Athletics não permite em competições oficiais. Mas, o maratonista garante que, mesmo assim, é desse feito que mais se orgulha.
“Isso é história. E permanecerá para sempre”, disse à EFE.
– Acha que estamos perto de ver alguém baixar das duas horas numa maratona oficial?
– Acho que é possível. No futuro, algum corredor irá consegui-lo.
– Gostaria de tentar?
– Não sei… Acho que já mostrei aos outros corredores qual é o caminho. (…) O mundo está aberto agora que mostrámos às pessoas que não há limites.
– E que outros objetivos tem? Restam apenas os de Boston e Nova York para vencer todas as chamadas Grandes Maratonas. Gostaria de participar neles antes dos Jogos Olímpicos de 2024?
– Tenho essas corridas na minha lista de desejos. (…) Mas os Jogos Olímpicos são importantes para mim. Vou esforçar-me mais nos Jogos Olímpicos e talvez fazer uma pausa noutras coisas. (…) Vai deixar-me feliz vencer três maratonas olímpicas seguidas. 2024 é um ano importante para mim.
– E a maratona de Valência?
– Acho que tenho uma longa lista de desejos… Mas acho que Valência é uma corrida muito rápida. (…) É o lugar onde realmente pôros pés.
– Disse que a suas primeiras corridas tinham como objetivo ir à escola.
– A minha escola não era muito longe, uns quatro ou cinco quilómetros. Mas a vida no Quénia naquela época era… Você tinha que ir para a escola de manhã, voltava para casa para comer e depois tinha mais aulas à tarde. Correr era a única maneira de não atrasar-se.
– Foi então que descobriu que queria dedicar a sua vida ao atletismo?
– Aconteceu durante as corridas da escola. Normalmente, eu ganhava-as. E depois disso, eu disse a mim mesmo: ‘vamos tentar…’”.
– Agora, podia morar numa mansão em qualquer lugar do mundo. No entanto, escolheu viver uma vida simples neste centro de treino. Porque?
– Eu confio e acredito que estar com os pés no chão é o caminho para treinar bem, assegurar-te de não sair do carril, desfrutar da vida, estar com as pessoas, pensar e concentrar-te no futuro.
– Como se sentiu ao receber o Prémio Princesa das Astúrias do Desporto 2023?
– Eu estava muito feliz. Nunca esperei receber um prémio da princesa da Espanha. Tal, realmente deixou-me muito feliz. Revi a lista de premiados anteriores e é uma honra estar entre eles.
– Ao receber esse prémio, garantiu que “um mundo de corredores é um mundo mais pacífico, mais feliz e mais saudável”. Pode explicar isso?
– Correr faz-nos estar unidos, fazendo-o a todos por igual e fazendo-nos desfrutar da vida neste mundo… Esse reconhecimento veio de fora do mundo do desporto. Quando essas pessoas podem premiar-te, significa que inspiraste a toda a gente. (…) Estou satisfeito e inspira-me ver que foi criado um mundo que será um mundo de corredores, um mundo unido, um mundo pacífico.
– Que figuras te inspiram, dentro e fora do desporto?
– Nelson Mandela inspira-me porque costumava dizer que o desporto pode unir os jovens e dar esperança aos que perderam a esperança, mostrando-lhes um caminho. Mandela disse ainda que o desporto é capaz de falar uma linguagem que os jovens, as novas gerações, são capazes de compreender. (…) Também me inspiro na liderança do ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
– Qual é o segredo para conseguir feitos como o seu?
– O segredo é ficar com os pés na terra. Se posso dar-lhe algum conselho, é simplesmente manter os pés na terra. Porque então, a tua mente vai acordar e poderás ver o que vem a seguir.”