Já relatámos em artigo anterior dedicado a Spiridon Louis como foi a primeira maratona olímpica disputada em Atenas, no ano de 1896. Vamos agora relatar estórias pitorescas passadas nas maratonas de 1904 e 1908, reveladoras do total amadorismo e desorganização então reinante.
Saint Louis em 1904 – Primeiro é desqualificado por apanhar boleia e vencedor bebe brandy e estricnina durante o percurso!
Os Jogos Olímpicos de 1904 disputaram-se em Saint Louis, nos Estados Unidos. Estiveram presentes 651 participantes de 12 países, em 17 modalidades.
A prova da maratona foi uma das mais confusas e irregulares de todos os Jogos Olímpicos. Disputada sob forte calor e num percurso em que boa parte dele foi em terra batida. Grandes quantidades de poeira eram levantadas pelos carros que acompanhavam os maratonistas, prejudicando-lhes a visão e a respiração.
Entre outros factos irregulares e pitorescos acontecidos durante a prova, o mais conhecido foi o de o primeiro corredor a cortar a meta, Fred Lorz só ter corrido 15 km do percurso, apanhando depois uma boleia num carro que o deixou a 7 km da entrada do estádio.
Ele mesmo reconheceu a fraude, dizendo que era apenas uma piada, quando ia receber o prémio das mãos da filha do presidente norte-americano Theodore Roosevelt e foi banido do desporto por um ano.
O norte-americano nascido na Inglaterra, Thomas Hicks, que chegou em segundo, foi declarado vencedor, mas ele mesmo viu-se envolvido em atos fraudulentos. Completamente exausto, foi ajudado pelos seus acompanhantes que lhe deram doses de brandy e 1 mg de estricnina para poder continuar em prova. Conseguiu cortar a meta em 3h28m53s mas teve um colapso assim que a cortou.
Os médicos que o examinaram, concluíram que se ele tivesse ingerido outra dose de estricnina, ela poderia ter sido fatal. Depois da maratona olímpica, Hicks nunca mais participou noutra prova.
Londres em 1908 – Primeiro foi desqualificado por ter sido ajudado pelos juízes
Foi nestes Jogos que pela primeira vez na cerimónia de abertura, os atletas desfilaram pelos seus países.
A maratona ficou marcada pelos momentos dramáticos do italiano Dorando Pietri, ao vencer completamente exausto e desorientado. Foi desclassificado logo depois, por ser ajudado a cortar a meta pelos juízes da pista, caindo desmaiado a seguir.
Pietri, com apenas 1,59 m de altura, foi o primeiro a entrar no estádio. Porém, completamente exausto e desorientado, tomou a direção errada e começou a fazer a volta pela pista ao contrário. Advertido pelos juízes, voltou na direção certa e por três vezes durante os metros finais, caiu no chão, sendo ajudado por médicos e juízes e fiscais para que pudesse, aos tropeções, cortar a meta.
À medida que a atenção da multidão se voltava para o drama de Pietri, que saiu em maca do estádio logo que completou a prova, entrava no estádio, quase despercebido, o pequeno americano Johny Hayes, que correndo sem ajudas, cortou a meta em segundo lugar com o tempo de 2h55m18s. Imediatamente, os chefes da delegação norte-americana fizeram um protesto oficial junto à organização dos Jogos, pela ajuda que o italiano tinha recebido para terminar a prova. A vitória e a medalha de ouro acabaram por ser oficialmente entregues a Johnny Hayes.
O episódio acabou por ser mais benéfico a Pietri do que a Hayes, ficando muito mais famoso que o campeão olímpico. Pietri acabou por receber uma taça de ouro das mãos da própria rainha Alexandra da Inglaterra.