Retrato da prova descrito por Arons de Carvalho no seu livro “As grandes medalhas do atletismo português”
Rosa Mota foi a primeira atleta portuguesa a conquistar uma medalha de ouro olímpica. Foi em 23 de Setembro de 1988 em Seoul.
A Revista Atletismo assinala a data com o texto de Arons de Carvalho acerca do feito da grande maratonista nacional e publicado no seu livro “As grandes medalhas do atletismo português”.
Quatro anos e alguns dias (23 de Setembro de 1988) depois do título olímpico de Carlos Lopes na maratona, foi a vez de Rosa Mota se sagrar campeã olímpica na mesma distância. Foi a 13ª maratona da sua carreira e… a mais difícil, ao contrário do que se poderia antever depois dos quatro minutos de vantagem no Europeu de 1986 e dos sete minutos do Mundial do ano anterior. A opinião pública “exigia” a medalha de ouro a Rosa Mota…
Desta vez porém, a atleta portuguesa teve luta até final. Com ela, como uma sombra, seguiram até ao 38º quilómetro, a australiana Lisa Martin, detentora da melhor marca mundial desse ano (2.23.51 em Janeiro, em Osaka) que, curiosamente, corria também a 13ª maratona da sua carreira, e a alemã Katrin Dorre, vitoriosa em 13 das 16 maratonas já disputadas e com 2.25.24 como melhor marca (Rosa Mota tinha como melhor 2.23.29 três anos antes, em Chicago). Duas adversárias com quem Rosa Mota nunca perdera mas que a acompanharam até quatro quilómetros da meta. Antes, ainda na primeira metade da prova, a grande maioria das 72 participantes na prova se haviam atrasado, entre as quais a norueguesa Grete Waitz, quase 35 anos, campeã mundial em 1983, vice-campeã olímpica em 1984, nove vezes vencedora em Nova Iorque.
Aos 20 km de prova, passados em 1.08.50, nada menos de 38 segundos mais lentos que a “cavalgada” solitária de Rosa Mota um ano antes, no Mundial de Roma, já só estavam cinco atletas no grupo da frente, quase sempre liderado pela atleta portuguesa.
Tudo se decidiu no 38º km, tal como quatro anos antes, aquando do título de Carlos Lopes. Aproveitando uma descida e seguindo uma recomendação de José Pedrosa, que ali estava, Rosa Mota atacou e isolou-se, ganhando rapidamente vantagem que depois manteve. Entrou na pista com uma máscara de sofrimento (nela raramente vista) mas com preciosos 12 segundos de vantagem sobre Lisa Martin, que ainda aumentaram para 14 até á meta. Foi a vitória mais saborosa de sempre…
O QUE ELA DISSE
ANTES: “Estou ansiosa por que chegue o dia, nunca mais chega. Quero ver-me livre disto”.
DEPOIS: “Dedico esta vitória a todos os que me ajudaram. Os outros, os que só guerrearam, por favor não se aproveitem, não se metam em nada, não têm nada com isto”.
DEPOIS: “O Pedrosa tinha-me recomendado que aos 38 km, se ainda fosse acompanhada, olhasse para ele. Olhei e ele disse: ’Rosa, é agora ou nunca’. E fui-me embora”.
Pódio:
1ª Rosa Mota/Portugal 2.25.39
2ª Lisa Martin/Austrália 2.25.53
3ª Katrin Dorre/Alemanha 2.26.21