Fernando Chamusca, de 74 anos e Vanda Augusto, de 69 anos, são um casal inseparável. Ambos têm a paixão do atletismo, onde vai um correr, vai o outro. Campeões nacionais na pista e estrada, são donos de vários recordes nacionais nos seus escalões.
Este mês, não vamos ter um ‘Atleta do Pelotão’ mas sim um casal, Fernando Chamusca e Vanda Augusto, mais conhecido no atletismo veterano pelo ‘Casal Maravilha’.
Ambos nascidos em Lisboa, Chamusca com 74 anos e Vanda à beira dos 70 anos, correm atualmente pela Associação Natureza Ensina, clube situado no concelho do Seixal.
Chamusca no 1º Passo do Benfica
Chamusca descobriu o atletismo através do seu irmão Custódio que também corria. Foi convidado para correr o 1º Passo no SL Benfica e obteve um excelente segundo lugar. Foi companheiro entre outros de Anacleto Pinto, Cidálio Caetano e Carlos Tavares da Silva.
Acabou por abandonar o atletismo ao fim de quatro anos, a vida era então, bem dura e o trabalho era prioritário. Cumpriu o serviço militar e no regresso a Portugal, voltou ao trabalho. Foi quando descobriu que a sua empresa tinha uma Secção de Atletismo e voltou a correr.
Vanda nas “Papoilas Rubras”
Já Vanda praticou andebol, voleibol e atletismo. Fez parte da primeira equipa feminina de andebol no SL Benfica, conhecida pelas “Papoilas Rubras”, onde esteve cinco anos até 1974.
O casal esteve parado 25 anos e recomeçou a correr em 1994. As provas apareceram dois anos depois.
Chamusca: “Só descansamos quando o corpo já não quer”
Estreias na estrada
Chamusca estreou-se na estrada num Grande Prémio do Natal quando a partida era no Campo Grande, ao pé da Churrasqueira. “Foi bom, fui sétimo”. Lembra-se ainda de ter corrido um Cross Regional de Lisboa e ter sido terceiro.
A Vanda estreou-se na Corrida do 25 Abril que teve a partida na Pontinha e meta nos Restauradores. Foi a terceira do escalão. “Só havia três veteranas + 45 anos, eu e outras duas. Então, só havia Veteranas 1 (-45 anos) e Veteranas II (+ 45 anos).
Onde vai um, vai o outro
Atualmente, treinam todos os dias com um plano elaborado por eles. “Só descansamos quando o corpo já não quer”, diz Chamusca.
Onde vai um, vai o outro. Correm em média 30 provas por ano. Quanto às distâncias preferidas, Chamusca opta pelos 800 m e 1.500 m. Vanda gosta das distâncias entre os 400 m e os 3.000 m. Ambos, correm mais na estrada que na pista. Aqui, não dispensam os Regionais e Nacionais.
Vanda: “desde que parta e chegue ao fim bem, gosto de todas as provas”
Batota nas Meias das Pontes em Lisboa
Quanto às provas preferidas, Chamusca lembra a Corrida do Tejo com o anterior percurso e as Meias Maratonas das Pontes 25 de Abril e Vasco da Gama. “Mas agora, há muita batota nessas das Pontes”. Já para Vanda, “desde que parta e chegue ao fim bem, gosto de todas as provas”.
Nunca experimentaram a maratona e já não pensam fazê-lo, correndo até à meia maratona.
Chamusca ainda não experimentou o trail mas quer experimentar um dia. E Vanda não se fica atrás, “Se ele for, também vou”.
Momentos mais marcantes das carreiras desportivas
Para Vanda, os momentos mais marcantes da sua carreira desportiva estão ligados à chegada ao escalão F60 e quando começou a ser campeã nacional em pista coberta e ao ar livre, e os recordes obtidos nos escalões F60 e F65.
Já Chamusca, não esquece o dia em que foi terceiro em M65 nos 1.500 m do Campeonato do Mundo disputado em Lyon, em 4m54s que ainda é recorde nacional do escalão.
Recordista nos escalões M65 e M70
Chamusca é dono de vários recordes nacionais nos escalões M65 e M70. Em M65, nos 800 m com 2m24s e nos 1.500 m com 4m54s. Em M70, nos 3.000 m com 11m15s que é também, a terceira melhor marca mundial. Correu a sua última milha urbana em 5m46s, a uma média 3m37s/km.
O nível dos seus resultados levaram-no a ser eleito “Atleta Veterano da ANAV” em 2020 e da Associação de Atletismo de Setúbal em 2022. Pelo seu clube, em 2020 e 2023. Tem ainda um louvor de mérito quando representou o Linda-a-Pastora SC.
Chamusca: “Conhecemos muita gente que não seria possível de outra forma. E pessoas que não são vaidosas”
Atletismo, só atletismo
Não dispensam os exames médicos até porque estando filiados na Associação de Atletismo de Setúbal, o exame médico é obrigatório. “Em Lisboa, não é obrigatório”, diz Chamusca.
Têm os cuidados devidos com a alimentação, evitando particularmente os fritos e privilegiando o peixe grelhado, frango e peru.
Ambos, pensam correr “até o corpo deixar”. As lesões raramente os têm visitado. “Curam-se em casa”, diz Vanda.
E qual seria a modalidade alternativa ao atletismo? Ambos respondem “só podia ser atletismo”.
Sendo um casal que participa habitualmente nas mesmas provas, ambos apreciam particularmente a camaradagem e convívio entre os atletas. “Conhecemos muita gente que não seria possível de outra forma. E pessoas que não são vaidosas”, diz Chamusca.
Futuro negro na modalidade
Chamusca é pessimista acerca do futuro da modalidade. “É negro. A juventude não tem apoios nenhuns e os clubes acabaram com as pistas”.
Quanto ao nível organizativo da provas, consideram que elas são bem organizadas assinalando contudo a necessidade de mais wc’s nas partidas.
Venham mais recordes
A idade deste casal veterano não o impede de ter projetos definidos e que passam essencialmente por bater mais recordes do escalão. Assim pensa Chamusca para quando passar a M75 e Vanda a F70.
Quando uma dor grande num treino revelou uma doença grave
E estórias nas corridas? Chamusca conta-nos uma passada consigo que teve um final feliz. Num treino de subidas com outros companheiros, teve uma dor muito grande. Valeu-lhe um médico que corria com ele e o aconselhou logo a ir ver o que se passava. Assim fez e foi-lhe detetado um cancro na próstata. “Esse médico ajudou-me até ser operado. Se não fosse o atletismo, não o tinha conhecido. Chama-se Francisco Farrajota”.