Fernando Ferreira é aos 71 anos, um dos bons veteranos do pelotão nacional. Atleta dos Tãlentos Team, de Setúbal, sagrou-se campeão nacional de pista (2018) e estrada (2020) e recordista nacional da maratona no seu escalão em 2021.
Muito cuidadoso com o repouso e a alimentação, é grande conhecedor dos produtos naturais e suplementos alimentares.
Voou o tempo da entrevista com Fernando Ferreira. Foram duas horas de conversa, o tempo que Eliud Kipchoge demora a correr uma maratona. Grande conhecedor dos métodos de treino e dos produtos naturais, tem apresentado resultados de elevado nível para a sua idade.
Fernando Ferreira nascido e residente em Setúbal, tem 71 anos. Agora reformado, desempenhou a atividade de fotógrafo na sua cidade natal.
Começo no Benfica seguindo-se o Sporting
Descobriu o mundo das corridas aos 16 anos de idade. Começou a correr no SL Benfica, no seu antigo estádio no Campo Grande. Mas como era sportinguista e o estádio do Sporting CP ficava próximo, acabou por se mudar para o seu clube do coração. Este lá dois anos e chegou a ser treinado pelo professor Moniz Pereira, na mesma época de Carlos Lopes e Fernando Mamede. Então, participou em provas na pista até 3.000 m, distância limite para a sua idade.
Entretanto, cumpriu o serviço militar em Angola, ‘matando o vício’ com umas corridas no mato. Regressado a Portugal, foi trabalhar para Sines e correu entre os 27 e os 30 anos como popular na União Desportiva dos Empregados do Comércio. Lembra-se de que correu por este clube, a Meia Maratona da Nazaré em 1979 com uma marca a rondar 1h16m, no ano que venceu José Sena.
“Procuro cumprir sempre este programa (Train As One) e até agora, tem dado bons resultados”
Paragem prolongada nas corridas
Quando escolheu a fotografia como profissão, deixou o atletismo. “A minha profissão não me deixava muito tempo livre”. Mas não abandonou totalmente a prática desportiva, foi fazendo ginástica que incluía corrida de uma hora na passadeira.
Mais tarde, em 2015, começou a fazer umas caminhadas para abater uns quilos. Acabou por ser desafiado para correr o Duratrail, prova de trail com 25 quilómetros disputada no Parque Natural da Arrábida. Preparou-se e foi um bom regresso à competição, sendo quinto classificado do seu escalão.
Fernando Ferreira nunca mais parou e durante algum tempo, a montanha foi a sua paixão. “Fui muitas vezes ao pódio, era bom nas subidas mas tinha medo das descidas. Mas como me faltava velocidade, comecei a pensar mais na estrada”.
Plano de treino eficaz Train As One
É atleta da Associação Desportiva Tãlentos Team e participa em média, em 10/12 provas por ano. Agora, treina seis dias por semana, sempre sozinho. Treina com um programa escolhido na internet, o Train As One. “Procuro cumprir sempre este programa e até agora, tem dado bons resultados”.
A sua distância preferida passa pela meia maratona mas já foi a maratona. Gosta mais de correr na estrada mas treina também na Pista de Atletismo do Estádio Municipal do Vale da Rosa. “Serve para treinar os abastecimentos, deixo-os num local certo à beira da pista”.
Elege a Maratona de Sevilha pelo apoio popular e a de Lisboa pela paisagem, como as provas em que mais gostou de participar.
“São um bom motivo para passear. Conheci muita gente nas corridas”
Quanto mais velho, mais rápido!
No seu valioso curriculum, conta com um título nacional em 2018 (M65) nos 10.000 m na pista com 44.12,72. Foi ainda campeão nacional de estrada em 2020 (M65). Ainda nesse ano, foi vice-campeão nacional na pista com 41.26,72. Uma melhoria de mais de três minutos!
Ao contrário do que acontece com a generalidade dos corredores a partir de certa idade, Fernando Ferreira tem vindo a melhorar os seus tempos nas maratonas. Até agora, correu cinco, a primeira delas em Lisboa, em 2017 com 3h38m. Seguiram-se Sevilha em 2018 com 3h33m, Paris em 2019 com 3h30m, novamente Lisboa em 2019 com 3h22m e em 2021 com 3h18m11s, recorde nacional do escalão.
Recorde nacional da meia maratona que aguarda homologação desde 2021
Correu ainda em 2021, a Meia Maratona dos Descobrimentos em 1h29m16s, que é também recorde nacional. Enviou toda a informação necessária para a ANAV mas ainda aguarda a respetiva homologação.
Ciclismo em alternativa ao atletismo
Se não estivesse no atletismo, era capaz de ter optado pelo ciclismo. “Não gosto de desportos coletivos”. Mas os seus projetos futuros na modalidade passam por continuar federado e continuar a correr, estando também presente nos Campeonatos Nacionais de pista e estrada.
No mundo das corridas, aprecia particularmente o convívio. “São um bom motivo para passear. Conheci muita gente nas corridas”.
Muito cuidadoso com o repouso e a alimentação
Fernando Ferreira dá grande atenção ao repouso, jantando cedo e deitando-se cerca das 22 horas. Também é muito cuidadoso com a alimentação. Deu-nos uma aula de produtos naturais e suplementos alimentares, mostrando-se um profundo conhecedor da matéria. Toma muitos suplementos alimentares. Diz não ao glúten e ao leite e seus derivados. Come em média, uma dúzia de ovos por semana.
“Não vejo futuro na alta competição. Antigamente, havia mais bons atletas do que hoje”
Lesões
Não dispensa os exames médicos de rotina. Quanto a lesões, tem sido visitado por elas. A primeira, foi antes da Maratona de Sevilha em 2018. “Era uma dor semelhante à ciática, quem me curou foi um osteopata, a tempo de correr a maratona”. Mais recentemente, esteve completamente parado com menisco num joelho. Regressou aos treinos em Janeiro e conseguiu evitar a operação.
“Também não há tantos bons treinadores como antigamente”
Futuro sombrio na modalidade
Fernando Ferreira vê com alguma apreensão, o futuro da modalidade. “Não vejo futuro na alta competição. Antigamente, havia mais bons atletas do que hoje. Também não há tantos bons treinadores como antigamente.
Na sua opinião, as provas populares são bem organizadas. “Melhores que as da ANAV”.
Treino com bois bravos à vista
Não faltam estórias a Fernando Ferreira, curiosamente, duas delas passadas em treinos. Na primeira, foi correr com um amigo para uma herdade à saída de Setúbal. “Apareceu uma manada de bois bravos na nossa direção, fugimos logo mas os bois não nos ligaram nada”.
Perdido com a chuva
Numa outra vez, Fernando foi treinar. Entretanto, começou a chover muito e a trovejar. “Quis regressar a casa mas não se via nada, não sabia onde estava. Só depois é que soube que estava perto da minha casa sem o saber. Fui dar à Bela Vista, aí é que vi onde estava”.
Enterrado na lama até aos joelhos!
Esta passou-se já numa prova, no Trail Noturno do Javali, em Setúbal. “Tinha chovido muito, o piso estava péssimo, fiquei enterrado na lama até aos joelhos. Foram precisos dois atletas para me puxar e tirar-me de lá”.