Lee Evans era um atleta muito influente no ativismo político norte-americano. Ele foi um dos participantes do projeto olímpico pelos direitos humanos, que lutava pela igualdade e o fim do racismo no meio desportivo.
Apesar dos rostos desportivos do movimento que ficaram imortalizados na história terem sido os de Tommie Smith e John Carlos, Evans foi um dos grandes impulsionadores do movimento. Ele foi um dos idealizadores do protesto com uma peça de roupa no pódio olímpico.
Finalista dos 400 m dos Jogos Olímpicos da Cidade do México em 1968, Evans viu dois dias antes os seus amigos Smith e Carlos protestarem com luvas e com o punho cerrado no pódio olímpico, uma imagem que ficou marcada para sempre na história dos Jogos. E no dia da sua final, ele viu os velocistas americanos serem expulsos da seleção e mandados de volta para os Estados Unidos. Revoltado, Lee anunciou que não correria a final e se retiraria também da seleção americana.
E somente os expulsos John Carlos e Tommie Smith conseguiram persuadir Evans a desistir da ideia e articular mais um protesto silencioso no pódio. Além de Evans, Larry James e Ron Freeman eram os outros afro-americanos presentes naquela final olímpica. E era muito elevada a hipótese do pódio olímpico 100% americano nos 400 metros. O que se confirmou, com Evans a bater o recorde mundial com 43,86 s, recorde mundial que levou 20 anos a ser batido, seguido dos seus compatriotas James e Freeman.
No pódio de boina e punhos cerrados
No pódio, o trio apareceu de boina, iguais às usadas pelo partido dos Panteras Negras. E ao receberem as suas medalhas, cerraram os punhos em sinal de protesto. Somente no momento do hino nacional americano, os três tiraram as boinas.
Tal gesto enfureceu mais uma vez o COI, que quis manter sempre uma imagem apartidária e proibindo quaisquer tipos de protestos políticos no pódio.
O COI pressionou o Comité Olímpico dos Estados Unidos, exigindo a mesma punição dada a Tommie Smith e John Carlos. Mas nesse caso, não teve sucesso e por um motivo meramente competitivo: Os Estados Unidos precisavam dos três atletas para vencerem a estafeta 4×400 m em 20 de Outubro, dois dias depois da final dos 400 m.
Os americanos fizeram assim vista grossa ao gesto do trio no pódio dos 400 m, que sofreu uma simbólica advertência por escrito. Avery Brundage, presidente do COI na época, ficou furioso mas também não fez nada, devido à grande repercussão que a expulsão de Carlos e Smith teve na imprensa internacional.
Na final do 4×400 m, o quarteto americano formado por Evans, Freeman, James e Vicent Mattews pulverizou o recorde mundial dos Jogos Olímpicos, que levou 24 anos para ser batido.
Afinal, o gesto de Evans, James e Freeman, tão simbólico quanto o de Smith e Carlos, ficou esquecido na história, ao contrário do gesto do punho cerrado com luvas que ainda hoje é lembrado como o protesto político mais marcante da história olímpica.