Para terminar a abordagem olímpica, recorda-se aquele que é lembrado como um dos maiores momentos de desportivismo.
Nos Jogos Olímpicos de Berlim em 1936, no auge da supremacia ariana, Luz Long protagonizou um acto que para todos e também certamente na opinião do actual presidente do COP, foi de heroísmo. Tornou-se parte das lendas olímpicas por ter conquistado a medalha de prata e por ter dado conselhos ao seu adversário que viria a sagra-se campeão olímpico.
Nas qualificações para a final da prova de salto em comprimento, Luz Long obteve um novo recorde olímpico. A marca de qualificação para a final era 7,15m, Jesse Owens estava em sérias dificuldades para superar essa marca, restava-lhe uma tentativa para obter tal marca. Long, ao aperceber-se da dificuldade, percebeu que tinha um conselho que podia ajudar Owens a ultrapassar a qualificação no salto em comprimento.
Aceitando o conselho de Long, no último salto Owens conseguiu 7,25m classificando-se para a final. O alemão desafiou Hitler e ajudou Jesse Owens.
Long era patriota, de tal forma que haveria de perder a vida na frente da batalha mas tal não o impediu de ajudar o recordista do mundo, aquele que era o seu principal adversário. Ajudou-o nas barbas de Goebbels e Hitler, não arriscou a medalha de ouro, arriscou a própria vida. Long havia tido anteriormente vários triunfos para a sua nação.
Na final, Long não foi além da medalha de prata, imediatamente atrás do Jesse Owens, mas ficou imortalizado pela história de desportivismo.
O que aconteceu a seguir é contado por Jesse Owens a Kai Long, filho de Luz, quando o norte-americano regressou a Berlim em 1964:
«O teu pai veio em meu auxílio. Ajudou-me a medir um pé de distância para a tábua e o mesmo no sítio em que costumo correr. Consegui acertar mesmo no meio entre as duas marcas e foi assim que consegui a qualificação».
Foi preciso uma grande coragem para se aproximar de Jesse Owens à frente de Hitler.
Com esta atitude de desportivismo, ficou imortalizado. Ainda hoje lembramos o nome deste atleta mas ninguém sabe o nome do Presidente do Comité Olímpico Alemão da altura.
Se esta história heroica ocorresse hoje mas com outros protagonistas, seria um crime lesa pátria.
João Junqueira