Atleta de 28 anos não usava equipamento adequado e caiu de 300 metros de altura. Adepto de caminhadas ao ar livre também morreu no mesmo setor em 17 de agosto.
O francês Matthieu Craff, de 28 anos morreu ontem dia 24 ao cair de 300 metros de altura quando descia correndo a montanha Mont Blanc, nos Alpes franceses, sem equipamento adequado, informaram os serviços de auxílio.
Craff caiu quando estava a 4.500 metros de altitude, quando descia de Mont Blanc pela sua vertente Norte.
O atleta, acostumado a realizar este tipo de corrida ao ar livre, usava roupa para atividades físicas e não levava bastão ou qualquer tipo de equipamento de segurança, indicaram as autoridades de Chamonix.
Em 17 de agosto, um adepto das caminhadas ao ar livre também faleceu no mesmo setor, lembrou Jean-Marc Peillex, da autarquia de Saint-Gervais, comuna que conta no seu território com o “caminho real”, a mais antiga rota de acesso ao topo do Mont Blanc.
Após esse acidente, Peillex tornou obrigatório para os alpinistas usar equipamento adequado para subir a montanha, sob pena de multa.
A propósito das mortes que têm havido no Mont Blanc, reproduzimos as partes principais de um artigo publicado há cinco anos num blogue brasileiro por um colunista que já esteve no Mont Blanc e assina como “Parofes”.
A montanha da morte. Por que tantas mortes no Mont Blanc?
Mont Blanc, ou Monte Bianco como é conhecido pelos italianos. Vulgarmente conhecido como a montanha da morte. O Mont Blanc mata a cada ano tanta gente que chega a ser difícil documentar, é bem complicado encontrar online um site que determine “este é o número total de mortes até hoje”. Não encontrei. Esta é uma rápida análise da montanha e seus números assustadores que este ano fizeram o Clube Alpino Suíço repensar sobre segurança no teto dos Alpes.
O acidente deste ano colocou tudo novamente sobre a mesa. A avalanche mortal que matou nove alpinistas experientes relembrou e deixou mais do que claro que, quando se trata de risco de avalanche, não importa a experiência do alpinista, não importa a proteção bem feita, ele será arrastado montanha abaixo, o seu corpo será repartido e ficará soterrado sem vida sob metros de neve. Facto. Basta recordar grandes nomes do alpinismo mundial que constatamos que, na maioria, eles só foram parados por avalanches. Caso contrário, continuariam as suas conquistas geniais, rotas ousadas e aproximações agressivas nas encostas geladas alpinas, norte-americanas, canadianas, andes e no Himalaia.
Não sei se as pessoas se dão conta de quantos morrem nos Alpes a cada ano, não só no Mont Blanc, mas em todos os Alpes. Vale lembrar o Inverno do Terror, entre 1950 e 1951, quando foi registrado nos Alpes um número sem precedentes de avalanches de grandes proporções, 649 de grande porte. Número de mortos só naqueles 3 meses? Nada mais nada menos que 265 alpinistas. Dá para acreditar?
Por isso não se impressione quando ler ou ver na TV a notícia sobre nove mortos numa só avalanche no Mont Blanc, é normal. Não é normal morrerem nove alpinistas de uma só vez, mas no total, em todo o ano, morrem duas dúzias. As notícias só não chegam a ganhar proporções porque acontecem em eventos separados por semanas ou meses, mas somando o ano todo, aí sim assusta.
Em números absolutos, o Mont Blanc mata mais do que qualquer outra montanha que atrai muitos aventureiros em busca do seu cume glaciado. Infelizmente, quanto maior o número de pessoas tentando escalar o Mont Blanc, mais pessoas morrem. O aumento do número de mortes é exponencial, é claro.
Outro ano mortal na montanha e em seus cumes secundários foi 2007, quando 30 pessoas morreram no total da temporada, mais um ano sangrento.
Lembro como se fosse ontem quando me vi em uma situação de whiteout absoluto, com visibilidade de cerca de 4 ou 5 metros no maciço do Mont Blanc. Eu não confiava no meu próprio julgamento de distância, e só encontrei o refúgio Tete Rousse (3.167 metros – 10.390 pés) que estava literalmente a 6 metros na minha frente, uma construção de 10 metros de altura, diversos quartos, vestiário, sala com lockers, graças ao meu GPS. Eu já carregava 2 quilos de neve nos ombros e costas sobre minhas 2 mochilas e 25kg de carga, e estava absolutamente sozinho. Assustador.
Procurando na internet, encontrei um pedaço de artigo do The New York Times impressionante, um documento digitalizado que afirma que entre os anos de 1890 e 1901, ou seja, apenas 11 anos, o Clube Suíço Alpino contabilizou 303 mortes. Uma média de 27,54 mortes por ano.
As pessoas impressionam-se com este ano, onde reportes dão conta de 11 mortes até agora? Que tal falarmos de 2008, um ano bem mais próximo do que a assustadora década de 1890 a 1901, quando 58 pessoas morreram e 10 desapareceram, todas exclusivamente no Mont Blanc? Isso dá um total de 68 fatalidades num só ano!!!