O governo da África do Sul confirmou nesta segunda-feira que vai apresentar um recurso contra a decisão do Tribunal Arbitral do Desporto que rejeitou o apelo de Caster Semenya contra uma decisão que impede a bicampeã olímpica dos 800 metros de competir entre as mulheres em provas entre os 400 m e a milha se não reduzir os seus níveis de testosterona.
A norma que entrou em vigor a partir da semana passada e foi colocada em prática pela IAAF, obriga que atletas que possuam elevados níveis de testosterona, tenham de se medicar para poderem participar em provas femininas que tenham as distâncias acima referidas.
O Ministério dos Desportos da África do Sul revelou que a Athletics South Africa, entidade que comanda o atletismo do país, vai apelar também contra a decisão do TAS. Ao justificar a decisão de entrar com o recurso contra o máximo tribunal desportivo mundial, o ministério sul-africano diz que dois dos três juízes deste caso estavam “em conflito” e ressaltou que o julgamento ignorou “factos” ao determinar a sentença.
Um número reduzido de motivos pode justificar um apelo contra uma decisão do TAS, pois este tribunal é a última instância desportiva. Um apelo contra um veredicto do mesmo, precisaria neste caso, de ser julgada pelo Tribunal Federal da Suíça.
Dois dos três magistrados do TAS rejeitaram o apelo da sul-africana ao entenderem que “com base nas provas apresentadas pelas partes, essa discriminação é um meio necessário, razoável e proporcionado para alcançar o propósito da IAAF de preservar a integridade do atletismo feminino em eventos restritos”, conforme justificaram no veredicto divulgado em 1 de Maio. Estes dois juízes também entendem que mulheres com altos níveis de testosterona podem ter uma vantagem injusta sobre as suas adversárias com menores quantidades ou sem este hormónio no corpo.
Dois dias após a decisão do TAS, Semenya correu a sua última prova antes da nova regra da IAAF entrar em vigor. A sul-africana de 28 anos, venceu os 800 metros do meeting de Doha, incluído na Diamond League.
Dois dias antes daquele triunfo, Semenya deixou claro que se sente perseguida pelo órgão gestor do atletismo nos últimos dez anos ao comentar a decisão do TAS com as seguintes declarações: “Sei que os regulamentos da IAAF sempre visaram especificamente a mim. Durante uma década, a IAAF tentou frear-me, mas isso tem-me fortalecido. A decisão do TAS não me impedirá (de continuar competindo). Mais uma vez, vou subir e continuar a inspirar as mulheres jovens e atletas na África do Sul e em todo o mundo”.