Nos seus primeiros tempos de atletismo, Gudaf Tsegay tinha Meseret Defar como um modelo. Como muitos dos melhores corredores etíopes, Tsegay, a recente recordista mundial dos 1500 m em pista coberta, começou a correr na escola. A mais nova de cinco filhos, Tsegay vivia na cidade de Bora, na região de Tigray, mas sabia pouco sobre a variedade de distâncias que podia correr.
À medida que ficava mais claro que ela teria sucesso nas distâncias médias, ela voltou os seus olhos para outra lenda etíope: Genzebe Dibaba.
Mas se Tsegay sonhava em igualar o sucesso de Dibaba, bater o recorde mundial dela, não fazia parte do plano original. “Genzebe é uma atleta forte”, disse Tsegay na semana passada em Addis Abeba, depois de ter regressado brevemente à capital etíope, entre as suas participações no World Athletics Indoor Tour. “Comecei a pensar que, se conseguisse treinar duro como Genzebe, podia tornar-me forte e bem-sucedida também e chegar longe.”
E ela fez isso longe de casa. Ela foi para um clube em Mekele e depois para Addis Abeba, onde treina a maioria dos atletas da Etiópia, e foi para o exterior pela primeira vez em 2013.
Em 2014, ela representou o país no Campeonato Mundial de pista coberta em Sopot e depois, no Campeonato Mundial Sub-20, onde ganhou uma medalha de prata nos 1500 m. E ao longo dos anos seguintes, ela foi melhorando os seus tempos, batendo em 2016, o recorde mundial de sub-20 em pista coberta.
Apesar da sua evolução, Tsegay achava que ela e as suas companheiras de treino, Lemlem Hailu e Hirut Meshesha, não estavam a concentrar-se tanto na velocidade como poderiam. Esta foi uma mudança observada este ano pelo seu treinador, Hluf Yihdego, importante para bater em Liévin, o recorde mundial em pista coberta da sua antiga ídolo, em dois segundos, com 3.53,09. “Eu tinha esse álbum na minha mente há muito tempo – talvez há seis ou sete anos”, disse Tsegay.
Apesar de admirar Dibaba, Tsegay também a considerou sempre superável. “Mas a velocidade final não estava lá”, diz ela. “Ano a ano, estávamos a ficar mais fortes e mais rápidas, mas não fazíamos um trabalho de velocidade suficiente. Mas este ano, focámos realmente na velocidade. E finalmente, valeu a pena. ”
Em meados de Janeiro, a Federação Etíope de Atletismo realizou uma competição de pista pré-testes, no Estádio Nacional em Addis Abeba, situado a 2.300 m de altitude. Tsegay venceu os 1.500 m por uma margem de quatro segundos para terminar em 4.02.4, o melhor tempo já registado na Etiópia.
“Isso foi o que me deu realmente confiança para ir desta vez, atrás do recorde”, disse Tsegay, que ganhou a medalha de bronze nos 1.500 m no Campeonato Mundial de Atletismo de Doha 2019, com 3.54,38, tornando-a uma das atletas mais rápidas da história na distância. “Eu sabia que correr tão rápido em Addis Abeba, significava que estava pronta.”
Num ano muito afetado pelos efeitos da pandemia, não é fácil formular planos concretos. Tsegay ainda não definiu qual o recorde mundial a atacar no futuro mas está decidida a bater mais recordes. Ela e o seu treinador estão confiantes de que poderá haver uma hipótese de bater os recordes mundiais ao ar livre nos 1.500 e 5.000 m.
Aos 24 anos, Tsegay não impõe limitações de tempo ou distância. Ela acredita, e acreditou por muito tempo, que pode competir a alto nível, desde os 800 aos 5.000 m e bater recordes mundiais.
Apesar de seu comportamento humilde e despretensioso, as ambições de Tsegay não são novas. O único aspeto novo do seu treino com o qual ela agora luta, é que o herói etíope que ela passou a admirar, é ela mesma!