Isabel Nunes tem 53 anos e é atleta do Team El Comandante. Apesar dos graves problemas de saúde que tem tido, já correu 14 maratonas e duas ultras, sendo um exemplo para todos nós.
Isabel Nunes nasceu no Barreiro e tem 53 anos. É técnica de informática da Função Pública e é atleta do Team El Comandante.

O atletismo tem feito parte da sua vida desde tenra idade. Começou a correr aos quatro anos e aos 16, federou-se na Quimigal e depois, no Vitória de Setúbal. Correu um pouco de tudo, dos 800 aos 10.000 m. Na escola, completou o 12º na área de desporto. “Sempre fui muito ligada ao desporto”.
Parou aos 21 anos e regressou dez anos depois no BTT, onde esteve até 2013. Em 2007, começou a fazer duatlos, em 2013 fez o seu primeiro triatlo.
Saúde tem-lhe pregado partidas
Mas a saúde pregou-lhe uma grade partida em 2014 quando teve um primeiro problema cancerígeno. Teve paralisia facial e espinhal, tendo então deixado de fazer ciclismo e natação. Voltou novamente a dedicar-se apenas ao atletismo.

Mais tarde, Isabel Nunes teve um segundo problema cancerígeno, desta vez, da pele. Diz-nos que já foi operada mais de 15 vezes! Não recuperou totalmente mas a sua resiliência, tem-na mantido nas corridas, fazendo o que lhe é possível e que tem sido muito!
“A Dulce Félix e o Ricardo Ribas eram os meus ídolos, as minhas referências”
Muito desporto variado durante a semana
Corre 3/4 vezes por semana e faz ainda, yoga, pilates, cycling e reforço muscular. Corre com um plano de treinos elaborado por Ricardo Ribas, fundador e treinador do clube. “A Dulce Félix e o Ricardo Ribas eram os meus ídolos, as minhas referências. Em 2019, tinha feito quatro maratonas e vi um colega nosso que treinava com o Ribas. Falei com ele e fiquei então no clube”.
Treinar à hora de almoço ou de madrugada
Não tem sido fácil a Isabel Nunes conciliar o trabalho com a corrida. “Durante a semana, treino na hora de almoço ou então, de madrugada, antes de ir trabalhar”.

A sua estreia na estrada deu-se na Meia Maratona da Ponte 25 de Abril, em 2013. “Não tinha treinos para uma meia maratona. Quebrei aos 15 km, ia com o meu marido (José Ramalho) mas terminei”.
14 maratonas
A Maratona de Valência é a sua prova preferida. Foi lá que bateu o seu recorde pessoal na distância, com 3h39m em 2019.
Já correu por 14 vezes a mítica distância dos 42.195 metros. A sua estreia foi em Lisboa. “Inesquecível! Tinha três objetivos: terminar, correr sem parar e baixar das quatro horas. Fiz 3h47m”.
Gosta mais de correr na estrada onde tem na maratona, a sua distância preferida. Já na pista, as suas distâncias preferidas vão dos 800 m aos 10.000 m.
Em 2024, participou nos Campeonatos Nacionais de Masters, na pista coberta e ao ar livre. Já correu umas 20 provas por ano, agora fá-lo meia dúzia de vezes.

“Dá-me gozo fazer agora estas ultras, vou numa desportiva para desfrutar, conviver”
Momento alto da carreira desportiva na Maratona Popular Olímpica de Paris
Em 2023, Isabel Nunes tinha dito que a Maratona de Valência seria a sua última. Mas o melhor estava guardado para o ano seguinte.
Para a nossa entrevistada, a sua participação na Maratona Popular Olímpica de Paris foi o momento mais alto da sua carreira desportiva. “Quando era pequena, queria ir um dia aos Jogos Olímpicos mas nunca consegui tempos para isso. Inscrevi-me nos “Desafios” da aplicação e tive a sorte de ser sorteada. Fui para usufruir do momento. A prova foi às 21.30, o ambiente era fantástico, tivemos mais público a assistir do que de manhã quando foi a maratona dos atletas de elite”.

Sim ao trail e às distâncias ultras
Isabel Nunes também já experimentou o trail. “Adorei! Estava saturada da estrada”.
Depois da Maratona Olímpica de Paris, correu em Dezembro, os 90 km do Extreme Gerês. Já em junho deste ano, fez os 144 km da Ultra Maratona dos Caminhos do Tejo, de Lisboa a Fátima. “Fui pelo convívio, poder correr e caminhar. Fiz treinos longos na Serra da Arrábida. Dá-me gozo fazer agora estas ultras, vou numa desportiva para desfrutar, conviver. Gostei das experiências. Fiz os últimos cinco quilómetros a chorar, estava muito emocionada por concretizar um objetivo”.
“Não se aposta devidamente nos atletas jovens. E estes já não fazem os sacrifícios que se fazia antigamente”
Modalidade com futuro sombrio
Isabel Nunes vê o futuro da modalidade com alguma apreensão: “Não vejo grande futuro. Não se aposta devidamente nos atletas jovens. E estes já não fazem os sacrifícios que se fazia antigamente”.

Duatlo e triatlo como modalidades alternativas
Isabel Nunes é irmã de Céu Nunes, especialista dos 800 m na pista que se dedicou depois às provas de estrada e duatlos. Espera correr enquanto tiver saúde e força. Se não estivesse no atletismo, escolhia o duatlo e o triatlo.
Na modalidade, aprecia particularmente, o atletismo amador. “As pessoas, o superar-nos, realizar os sonhos que idealizamos”.
A importância de um bom aquecimento
Não dispensa os exames médicos de rotina. As lesões não a têm visitado muito. “Apenas uma dor que me incomoda na coxa. Devia fazer um bom aquecimento, alongamentos, mas para além de alguma preguiça, tenho muitas vezes, o tempo contado para ir treinar e não tenho tempo suficiente para fazer os exercícios que devia”.

Quanto à alimentação, não se priva de nada, procurando variar com os devidos cuidados.
Em quase hipertermia, embrulhada em mantas
Quanto a estórias, Isabel Nunes lembra-se de uma passada quando tinha apenas 12 anos de idade. “Nessa idade, era uma miúda apaixonada por ver a Rosa Mota e o Carlos Lopes a correrem maratonas. Fui fazer uma meia maratona à terra dos meus pais, em Longomel. A prova começou em Ponte de Sôr até Longomel e voltávamos novamente a Ponte de Sôr. Depois de darmos a volta aos dez quilómetros, começou a chover torrencialmente e a fazer muito frio. Aos 18 quilómetros, estava quase em hipotermia, os meus pais não me deixaram continuar a correr. Tiveram de me embrulhar em mantas e colocarem-me no carro. No final, deram-me a medalha por terem visto o meu esforço, mesmo não tendo terminado a prova”.

Prova de águas abertas com unhas cortadas e com canoa privativa ao lado
Esta estória passou-se em 2019. “Desafiaram-me para participar numa prova de águas abertas na Praia da Albarquel, no rio Sado. A prova tinha 600 metros, eu não nadava há algum tempo devido aos meus problemas de saúde. Fui treinar algumas vezes no rio, cheguei à prova e não podíamos ter unhas grandes. Uma regra para não magoar os restantes atletas pot causa do contato a nadar. Tive de as cortar. Depois, não tenho saliva. Tinha comigo a camelbak com uma garrafa de água. Perguntei à Organização se podia levá-la. Compreenderam o meu problema e nadei sempre com uma canoa ao meu lado para me darem água quando quisesse”.