Joana D’Arc Chouriço nasceu no Brasil há 60 anos e reside em Portugal há 33 anos. Atleta do Running Club da Santa Casa da Misericórdia, é muito sociável e dona de grande simplicidade, sendo muito conhecida nas provas disputadas na Grande Lisboa.
Joana D’Arc Chouriço nasceu no Brasil, cidade de Alexandria situada no Estado do Rio Grande do Norte. Oriunda de uma família muito humilde, tirou o curso de Artista Circense na Escola Nacional de Circo, no Rio de Janeiro. Depois do curso, “trabalhava numa loja de magia. Fazia magia ao balcão numa loja na Av. Copacabana. Aos sábados, ia a festas de aniversário, fazia a decoração e a animação como palhaça ou mágica”.
A procura de uma vida melhor trouxe-a para Portugal há 33 anos. A vida não lhe sorriu muitas vezes. Ficou viúva com duas filhas ainda crianças mas como grande mulher e mãe que é, conseguiu dar cursos superiores à suas filhas e ultrapassar períodos mais agrestes.
Agora aos 60 anos de idade, é Monitora de Atividades de Tempos Livres na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e adicionalmente, é artista circense “Mestre de Pista”.
“Hoje em dia, o meu treino é a correria da vida durante a semana”
42 anos no mundo das corridas
O atletismo apareceu na sua vida aos 18 anos quando uma amiga a desafiou a ir a uma prova. “Na altura, lembro-me de me sentir realizada e com uma sensação de bem estar físico e mental. Tomei o gosto e nunca mais parei. Nessa altura, treinava duas vezes por semana e também fazia ginásio.”
Joana é bem conhecida do pelotão popular na área da Grande Lisboa. Corre pelo Running Club da Santa Casa da Misericórdia. Não treina, só vai às provas. “Hoje em dia, o meu treino é a correria da vida durante a semana. Mas houve uma altura que treinava todas as terças-feiras pelo clube. Deixei de ir porque não conseguia conciliar com o trabalho. Mas no dia a dia em Lisboa, ando sempre a pé”.
“A sensação de conseguir terminar (a maratona) é maravilhosa”
60/70 provas por ano
São raros os fins de semana que não tenham Joana a correr. Corre cerca de 60/70 provas por ano, chegando a participar em duas no mesmo dia. Só até finais de Novembro, já ia com uma de 22 km (trail), oito meias maratonas, 51 de 10 km e cinco de 15 km.
A sua lista de provas preferidas engloba a S. Silvestre da Amadora, a do 1º de Maio e a do 25 de Abril e todas as provas de cariz solidário como a da APAV e a Corrida D. Estefânia.
Já as provas que menos merecem o seu agrado são aquelas que têm os carros a passarem no outro lado da estrada.
Elege os dez quilómetros como a sua distância preferida. “Porque me sinto desafiada mas ao mesmo tempo, acabo a corrida a sentir-me bem fisicamente”.
Estreia na maratona no Rio de Janeiro
Já correu seis maratonas, a primeira aos 23 anos, no Rio de Janeiro, quando ainda vivia no Brasil. “Estava com algum receio de não conseguir terminar mas no final, correu tudo bem e superei o desafio a que me propus. A sensação de conseguir terminar é maravilhosa”.
Também já experimentou o trail, correu este ano seis provas e o objetivo é continuar. “Adoro a sensação de liberdade e do desafio que é correr na natureza”.
Momentos marcantes com a filha corredora
A filha mais velha de Joana também é corredora. Os seus momentos marcantes são quando corre com a filha em locais longe de Lisboa. “Aproveitamos e passamos o fim de semana juntas a passear. É dos melhores momentos da minha carreira desportiva”. Lembra ainda outros momentos marcantes como a participação na Meia Maratona de Lisboa e as Corridas da Água e da Árvore.
“Tenho muito cuidado, não vou ao meu limite. Vejo o tempo limite de cada prova, presto atenção ao que dizem os mais entendidos”
Não às lesões e cuidado com a alimentação
Não dispensa os exames médicos de rotina. Nunca teve lesões graves e pensa correr “até a saúde me permitir continuar. Tenho muito cuidado, não vou ao meu limite. Vejo o tempo limite de cada prova, presto atenção ao que dizem os mais entendidos”.
Também tem os devidos cuidados com a alimentação. “Tento comer de forma saudável no dia a dia mas não me proíbo de nada”.
Nos seus projetos futuros, Joana gostaria de se reformar daqui a três anos e poder dedicar-se mais a si, à família e aos seus treinos/corridas. Aprecia particularmente a camaradagem, os sítios que se conhecem, o sentimento de realização após as corridas.
E se não estivesse no atletismo, qual a modalidade que gostaria de ter seguido? “Em criança, gostava muito de fazer salto em comprimento”.
Faltam mais apoios no atletismo
Para Joana, Portugal é um país com muitos jovens a gostarem de atletismo. “Mas depois, não têm tempo ou condições para continuarem porque o apoio do Estado e patrocinadores, é pouco”. Considera muito importante o combate ao sedentarismo, devendo haver uma maior aposta financeira no atletismo e também noutras modalidades.
“Adoro a sensação de liberdade e do desafio que é correr na natureza”
Nas inscrições, não ser obrigatória a compra da t-shirt
Nas sugestões para uma melhor organização das provas e com boa parte das inscrições a serem caras, deixa uma já levada à prática por exemplo, pela Xistarca, a não obrigatoriedade na compra da t-shirt.
Quando a confundem nas corridas com a filha
A filha mais velha também se chama Joana Chouriço. Quando correm as duas, surgem as confusões. “Tenho amigos que vão ver os tempos dos participantes e acabam por me dar os parabéns pensando que o meu tempo foi o da minha filha de 31 anos que tem mais pedalada do que eu”.
Mas este tipo de confusão já deu origem a um momento menos agradável. “Uma atleta chamou-me vigarista porque a Joana Chouriço foi chamada ao pódio. A outra que me ofendeu tinha feito a prova ao pé de mim, como podia eu ir ao pódio? A minha filha é que foi chamada ao pódio, a outra veio depois pedir-me desculpa”.
Joana lembra também o apoio dado muitas vezes pelos utentes da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. “Quando passo nos sítios onde residem e trabalhei lá, muitos utentes da Santa Casa, gritam por mim”.
Clubes de empresa
A terminar, Joana salientou a criação de clubes de empresa. “A corrida é uma coisa tão boa que as grandes empresas estão a criar clubes de corrida para os seus trabalhadores se encontrarem ao fim de semana com um objetivo comum”. E reforçou a sua fidelidade ao clube. “Faço em média 60/70 provas por ano e corro sempre com a t-shirt da SCML. Sou uma corredora resistente e com ritmo estável ao longo de todo o percurso da corrida”.