De acordo com a Justiça Francesa, pagamento de comissões antes da escolha da capital japonesa como cidade olímpica abriu linha de investigação que revelou esquema ilícito no Rio 2016
Não são apenas os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro que estão sob suspeita de fraude na escolha da cidade sede. Enquanto a Justiça brasileira investiga provas do pagamento de comissões para a eleição do Rio de Janeiro nesta ocasião, a Justiça francesa investiga operações semelhantes na escolha de Tóquio como sede olímpica em 2020 e de cidades que receberam ou vão receber Mundiais de Atletismo.
Houve a comprovação de um pagamento feito pelo Comité Organizador japonês para uma conta em Singapura pertencente a uma das empresas de Papa Massata Diack, então membro da IAAF e filho do presidente da entidade, Lamine, que esteve no cargo entre 1999 e agosto de 2015.
Tal movimentação foi descoberta enquanto a Justiça francesa procurava provas de que os Diack, pai e filho, haviam recebido pagamentos para esconder um programa de doping estatal financiado pela Rússia. A partir deste ponto foram criadas duas diferentes linhas de investigação, uma sobre o esquema russo e outra sobre influências indevidas na escolha das sedes de grandes eventos desportivos.
A parceria com as autoridades brasileiras levou à instauração nesta terça-feira, no Brasil, da operação Unfair Play, um desdobramento da Operação Lava-Jato para apurar o uso de dinheiro público no pagamento de comissões para a compra de votos que garantiriam a eleição do Rio de Janeiro como sede dos Jogos de 2016.
O procurador adjunto-financeiro da França, Jean-Yves Lourgouilloux, afirmou que há também investigações em curso sobre a escolha das sedes de algumas edições de Mundiais de atletismo.
– “O trabalho indicou o mesmo para Mundiais de atletismo, mas nesse momento estamos focando mais em Jogos Olímpicos. Mas há indicação de fraude de edições passadas e edições futuras (de Mundiais de atletismo) sim. Se com as edições futuras, pode haver mudança é uma questão a se colocar ao presidente atual da IAAF (Sebastian Coe)”.
Segundo a imprensa francesa, há cinco edições de Mundiais na mira da Justiça do país, três já realizadas e duas no futuro: Moscovo 2013, Pequim 2015, Londres 2017, Doha 2019 e Eugene 2021. Tanto Doha quanto Eugene foram apontadas como escolhas polémicas à época dos anúncios: a cidade qatari por ter sido escolhida mesmo no meio a denúncias sobre utilização de trabalho escravo no país para as obras da Copa do Mundo de futebol de 2022, e a cidade americana por suspeita de lobby de Coe, agora presidente da IAAF.
Eugene foi escolhida ainda na gestão de Lamine, que ignorou a intenção da sueca Gotemburgo de receber o evento e anunciou a cidade vitoriosa sem a realização de um processo eleitoral. Coe, na época vice-presidente da IAAF, tem uma longa relação como consultor da Nike, gigante do mercado de materiais desportivos com sede no estado do Oregon, onde fica Eugene. Questionado sobre um possível conflito de interesses quando assumiu a presidência, Coe garantiu a sua isenção neste caso.