José Guia tem 75 anos e é atleta do Grupo Desportivo da Caixa Geral de Depósitos. Começou a correr em 1981 e nunca mais parou. Dono de grande resistência, até aos 50 anos, tinha o hábito de fumar três cigarros antes da provas. Ainda corre em média 45 provas por ano, incluindo maratonas e ultramaratonas. Tem 2h52m como recorde pessoal à maratona.
José Guia tem 75 anos e é algarvio, natural de Tunes, concelho de Silves. Na sua vida ativa, foi bancário na Caixa Geral de Depósitos e em 1981, tentou formar uma Secção de Atletismo, então sem sucesso. Pouco depois, ela foi criada e José Guia passou a ser um dos seus atletas.
A sua primeira prova foi em Setúbal, a já extinta Corrida dos Santos Populares. “Foi ainda em 1981, não tinha experiência de corrida. Fui com cuidado, só queria acabar a prova”. E acabou, ficando o prazer das corridas que ainda se mantém bem ativo.
“Às vezes, ainda corro aos sábados e domingos … E este ano, quero voltar a fazer o Ultra Melides-Tróia”
O prazer de correr longas distâncias
José Guia não gosta de treinos longos, embora ainda hoje, goste de correr longas distâncias. Treina de forma irregular sem um plano de treinos, 2 a 4 vezes por semana, agora habitualmente acompanhado. Corre em média, 45 provas por ano. “Às vezes, ainda corro aos sábados e domingos”.
São raros os atletas que se mantém nas corridas aos 75 anos de idade. Mais ainda, quando ainda correm ultramaratonas. Em Novembro passado, José Guia correu os 50 km do Ultra Trail Demónios do Lisandro. “E este ano, quero voltar a fazer o Ultra Melides-Tróia”
“Tenho pena de não ter levado o atletismo mais a sério”
Preferência pelas provas clássicas populares
José Guia gosta de todas as provas que tenham uma boa organização. Sem uma prova que mereça a sua preferência especial, ainda assim, lembra algumas clássicas populares como a dos Sinos em Mafra, a das Fogueiras em Peniche e a do Tejo em Algés. “Adoro correr!”
Já o Terrugem Trail (concelho de Sintra) foi a prova que lhe deixou recordações menos agradáveis. “Gostei do percurso mas as marcações estavam muito rente ao chão. Fui atrás de um grupo e não vi a separação do trail longo do curto. Fui erradamente para o curto e quando me apercebi, retirei o dorsal e fiz o resto a caminhar. Quando passei ao lado da meta, o chip acusou. Avisei então a Organização de que não tinha feito o percurso correto. Quando cheguei a casa, fui ver as classificações e para meu espanto, estava em primeiro lugar do meu escalão. Tinha o contato telefónico da prova e telefonei a avisar do erro”.
“Nos trails, em cada adversário, encontro um amigo. Ajudamo-nos mutuamente”
Mais de 20 maratonas de estrada
Mesmo aos 75 anos, José Guia tem preferência pelas provas com mais de 30 quilómetros. Já correu mais de 20 maratonas de estrada com a estreia a dar-se em 1989, na Maratona de Lisboa, então organizada pela Xistarca. “Fui sem treinos específicos, corri cinco meias meias maratonas durante a época. Inscrevi-me na prova mas era só para fazer 33 quilómetros. Como me senti bem então, continuei a correr e acabei a prova em 3h30m, tive uma quebra aos 38 km”. Tem como recorde pessoal, 2h52m na Maratona de Madrid.
Recentemente em 18 de fevereiro, correu a Maratona de Sevilha e mesmo lesionado num joelho, ganhou o seu escalão com 4h33m34s.
Montanha
Entre a estrada e o trail, a sua preferência vai para o trail, “é uma corrida mais solitária”. A sua paixão pela montanha vem de longe, sendo habitual participante das primeiras provas de montanha organizadas pelo António Matias. Mas há uma que lhe falta no seu vasto curriculum desportivo. “Tenho pena de nunca ter corrido os 12 km de Manteigas-Penhas Douradas”.
“Fumava três cigarros antes das provas, desisti de fumar aos 50 anos. Não notei diferença depois”
A amizade e a camaradagem no mundo das corridas
No mundo das corridas, José Guia releva a amizade e a camaradagem. “Nos trails, em cada adversário, encontro um amigo. Ajudamo-nos mutuamente”.
E o momento mais marcante da sua carreira desportiva? Deu-nos uma resposta curiosa: “Se calhar, ainda não chegou. O momento é quando termino uma prova”.
Pensa correr enquanto as pernas o deixarem. Elogiado por pessoas conhecedoras da modalidade, lamenta: “Tenho pena de não ter levado o atletismo mais a sério.”
E se não estivesse no atletismo? Teria optado pelo ciclismo. “É uma atividade individual”.
Ex-fumador antes das provas
Não tem nenhum tipo de cuidado com a alimentação. “Como de tudo, mantenho os meus 52 quilos. E enquanto o pelotão popular aquecia antes da partida das provas, José Guia fumava três cigarros! “Desisti de fumar aos 50 anos. Não notei diferença depois”.
Quanto a lesões, não tem sido muito fustigado. “Fui operado uma vez ao menisco, de resto, só lesões passageiras, ligeiras”.
Há 40 anos e hoje: Mais mulheres a correr e GPS
Correndo há mais de 40 anos, José Guia encontra agora diferenças positivas, nomeadamente na participação feminina. “Agora, elas quase que são mais do que os homens”.
Refere outra diferença assinalável comparando com o observado há 40 anos: “Hoje, os GPS dão-nos todas as informações quando estamos a correr”.
Provas com bom nível organizativo
Elogia a organização das provas: “Quase que não tenho nada a apontar. As empresas da área estão rodeadas de pessoas com muitos conhecimentos. Deixo a sugestão de nos trails, darem as partidas dos percursos com uma margem de pelo menos dez minutos entre as várias distâncias.”
Vê o futuro da modalidade com apreensão: “Se não mudarem, estamos mal, pelo menos a nível do fundo”.
“Penso que devia haver mais respeito pelos escalões… Mesmo que não deem nada, criem mais escalões”
Quando lhe chamaram de “coitadinho” nos 20 km de Almeirim
Quanto a estórias, José Guia lembra uma passada nos 20 km de Almeirim quando se disputava em janeiro. “Durante a prova, em Alpiarça passei por um ancião de cajado na mão, que disse: ‘Coitadinho, este não chega lá’. Estava tanto frio e gelo, sentíamos o gelo debaixo dos pés, cheguei ao fim todo gelado”.
Mais respeito pelos escalões
A terminar, José Guia chamou a atenção para os escalões existentes nas provas. “Penso que devia haver mais respeito pelos escalões. Com 75 anos, corro no dos 65. Mesmo que não deem nada, criem mais escalões. Eu vou à provas mesmo assim mas há quem não vá”.