José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal, deu uma entrevista à Lusa onde analisou a recente entrevista de Pedro Pichardo e a demora na naturalização de atletas de alto nível a residirem em Portugal.
Constantino está convicto que Pichardo irá sair do país devido ao conflito com o seu clube e particularmente, com Ana Oliveira. “A minha convicção é que o Pedro Pichardo vai sair de Portugal. Não vai mudar de nacionalidade, é a minha convicção, posso estar enganado, mas vai sair de Portugal. Provavelmente, vai procurar um clube que lhe pague bem, porque, entretanto, a relação com o Benfica, por força da relação com a coordenadora do projeto olímpico, é a pior possível. Não se podem ver um ao outro. E, da parte do Benfica, nunca houve capacidade de ultrapassar esta situação.”
De acordo com as leis do país, os estrangeiros a residirem em Portugal, podem pedir a naturalização ao fim de cinco anos. Mas no caso de atletas com currículos excecionais, a medida pode ser ultrapassada como sucedeu com Pichardo.
Para Constantino, a rápida naturalização de Pichardo foi mal recebida nalguns meios, particularmente pelo seu concorrente do triplo salto, Nelson Évora. Toda a polémica então gerada, tem prejudicado a naturalização de outros atletas de elite.
“Isto arrastou um outro problema, de enorme gravidade. Houve, a partir desta polémica, uma mudança de atitude dos serviços de reconhecimento da naturalidade … quanto às exigências da atribuição da cidadania portuguesa, quando aplicando o regime de excecionalidade que está previsto na lei. Não sei se é uma orientação de natureza política, se é de natureza estritamente desportiva, mas eu li alguns dos pareceres que foram emitidos quanto a atletas que aguardam a sua naturalização e é uma coisa perfeitamente risível, de ignorância completa.”
Para Constantino, a naturalização de Pichardo teria sido diferente se ele fosse de outra disciplina que não o triplo salto. “Se isto acontecesse com um atleta de 200 metros ou com um decatlonista ou com um saltador com vara, a polémica não era a mesma. A polémica é aquilo que nós conhecemos pelas circunstâncias que a rodeiam, depois também por algum envolvimento clubístico que estas questões sempre têm, mas aquilo que me parece, e aquilo para a qual tenho a obrigação de alertar o país, é para o facto de entender que a decisão que está a ser adotada quanto à atribuição da cidadania portuguesa a pessoas com currículos desportivos extraordinário,s não nos está a favorecer, está a prejudicar-nos.”
Ele dá como exemplo, a demora nas naturalizações da santomense Agate de Sousa e dos cubanos Roger Iribarne e Reynier Mena.
Agate de Sousa, de 23 anos, tem a quarta melhor marca mundial do ano no salto em comprimento. Roger Iribarne obteve este ano, o quinto melhor tempo europeu nos 110 m barreiras e Reynier Mena, o terceiro melhor tempo do mundo nos 200 m em 2022.
“Considerar que estas notas curriculares não são suficientes para a atribuição da disposição que permite excluir os cinco anos (no processo de naturalização)…. Ou, dito de outra maneira, esperar cinco anos para que estes atletas possam vir a representar Portugal é uma decisão que, do bom ponto de vista, carece de fundamentação.”
E concluiu: “Tenho a perceção – não tenho nenhum dado fundamentado, que há um certo receio de mexer neste assunto, sob pena de serem acusados de estarem a fazer naturalizações por razões oportunistas e estritamente desportivas.”