Na entrevista dada à Agência Lusa, José Manuel Constantino abordou o desaparecimento de Rosa Mota do Comité Olímpico de Portugal, a sua sucessão em 2025, o desinteresse do Governo pelo movimento olímpico e os critérios utilizados pelo Presidente da República para homenagear desportistas de alta competição.
Rosa Mota abandonou o COP
Rosa Mota fez parte da Comissão Executiva do COP como vice-presidente dos dois primeiros mandatos de Constantino. Este desconhece quais as razões que levaram a campeã olímpica a deixar de comparecer às reuniões, embora pense que possam estar relacionadas com divergências quanto à forma de gestão do organismo.
“Até ao dia de hoje, eu suspeito que esse motivo de afastamento tem a ver com a discordância de orientações sobre a forma como o Comité Olímpico de Portugal é dirigido e que está na origem dessas razões o afastamento de Rosa Mota do Comité Olímpico de Portugal.”
Constantino recordou o apoio de Rosa Mota na sua eleição para presidente do COP. “E a Rosa Mota aceitou ser vice-presidente do COP. Trabalhou que se fartou, acompanhava-me para todo o sítio, e foi um elemento pujante naquilo que foi o exercício das minhas funções até aos Jogos Olímpicos do Brasil (2016). Aí, houve algumas ocorrências que não mereceram aprovação sobre a forma como eu as geri, envolvendo pessoas. Mas essa situação foi ultrapassada. E, quando se constitui a candidatura para o segundo mandato, a Rosa aceitou (o convite), mas as coisas não correram bem.”
Constantino recebeu depois um e-mail de Rosa Mota “pedindo a suspensão do mandato por um ano e solicitando que as razões da suspensão, ou melhor, que a suspensão não fosse objeto de divulgação”.
“Respeitei essa decisão. Passou um ano e a Rosa nunca mais apareceu, nem apresentou nenhuma justificação. Estou em desacordo, estou em acordo, aconteceu isto, aconteceu… O que é que aconteceu? O que é que deixou de acontecer? Desapareceu. Nunca a Comissão Executiva do COP foi informada de quais os motivos por que a Rosa Mota deixou de participar nas reuniões, para a qual era sempre convocada e recebia as ordens de trabalhos. Entretanto, conversa aqui, conversa acolá, vai-se sabendo que há discordâncias do ponto de vista do Dr. José Pedrosa, que naturalmente a Rosa segue, sobre as decisões que eu tomo, mas eu não sei quais são.”
Constantino ainda não falou com Rosa Mota, salientando o papel desempenhado por ela no desporto nacional. “Para o presidente do COP, a Rosa Mota é um dos maiores símbolos do desporto nacional, a quem o desporto nacional estará eternamente reconhecido, quer por aquilo que fez do ponto de vista desportivo, quer por aquilo que continuou a fazer e continua, do ponto de vista da promoção da atividade física.”
E concluiu: “No plano pessoal, é um assunto que eu nunca abordarei. A minha mágoa é muito grande, mas vai comigo para o caixão”, concluiu.
A sucessão no Comité Olímpico Nacional
Constantino foi eleito como presidente do COP para o seu terceiro e último mandato em março de 2022, cessando funções no primeiro trimestre de 2025.
Quanto à sua sucessão, ele garantiu que não irá fazer campanha por qualquer candidato, exceto se alguma candidatura puser em causa os valores do olimpismo.
Críticas a António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa
Constantino continua muito crítico para com a forma como o Governo olha para o movimento olímpico. Critica António Costa que não dá a devida importância ao olimpismo.
“Não tenho grandes expectativas de que haja grandes mudanças. Aquilo que me preocupa é muito centrado na preparação olímpica e no desejo que tenho de que haja uma política sequencial relativamente à preparação para os Jogos de Paris e não haja qualquer alteração àquilo que tem sido o relacionamento com o Governo nesta matéria, que tem sido bom, e que, portanto, se deve manter nos termos e nas condições em que tem existido até à presente data.”
Quanto ao Presidente da República, Constantino questiona o critério seguido para receber e condecorar desportistas.
Por exemplo, Marcelo ainda não recebeu os campeões mundiais canoístas João Ribeiro e Messias Baptista e o ciclista Iúri Leitão. Mas fê-lo com a seleção feminina de futebol e a de râguebi, que não ganharam qualquer título ou medalha. Constantino diz que Marcelo“é assim” analisando as suas diferenças de comportamento para com os desportistas. “Por uma relação, por um lado, lobista por parte do futebol relativamente às suas coisas e, por outro lado, uma propensão de natureza pessoal para a festividade, para a celebração para aquilo que possa alegrar o povo. E, portanto enfim, salvo melhor opinião, e com o devido respeito, é-lhe indiferente se é terceiro, se é quarto lugar, se foi treino, se não foi treino. Interessa-lhe é aquela dimensão de espetáculo que é suscitada por aquelas celebrações ou reconhecimentos, nem sei como é que hei de chamar, que são feitas.”
Na opinião de Constantino, as receções de Marcelo têm por vezes, lugar por feitos que “sendo importantes, não revestem a elevação e a nobreza suficiente para serem objeto de reconhecimento e distinção do Presidente da República, com o devido respeito aos atletas, aos treinadores, à modalidade, à federação, a todos.”