José Saias tem 45 anos e corre há menos de quatro anos. Atleta do Clube Raquel Cabaço em Évora, corre cerca de 20 provas por ano. A sua preferência vai para as distâncias curtas e provas por estafetas.
José Saiasnasceu e reside em Évora. Tem 45 anos e é professor no ensino superior, na área de Informática.
Começou a treinar de forma regular há três anos e sete meses mas o gosto pela modalidade sempre existiu. “Sempre gostei de ver provas de atletismo e sempre gostei de correr esporadicamente em distâncias curtas. Mas a verdade é que até ao início de 2020, eu nunca tinha praticado com regularidade, e nem tão pouco tinha ainda corrido continuamente mais de 8 km!”
“Estou grato à dupla de treinadores Raquel Cabaço e João André, que me acolheram, e a tantos outros”
Do ginásio às corridas
José Saias frequentava o ginásio e corria alguns minutos na passadeira, com alguma “intensidade sonora.” Recebeu então alguns comentários sobre a corrida, por parte pessoas com experiência no atletismo. Foi-lhe sugerido experimentar um treino de corrida no exterior, com mais pessoas e com aconselhamento técnico. “Após algum tempo de hesitação, por receio de ‘não me enquadrar minimamente no meio dos atletas’, lá decidi experimentar. Fiz bem… Gostei da experiência e rapidamente percebi que era para continuar a correr. Estou grato por isso à dupla de treinadores Raquel Cabaço e João André, que me acolheram, e a tantos outros, tendo sido essenciais na minha entrada no atletismo, com um acompanhamento que muito valorizo (e que continua hoje)”.
Atleta do Clube Raquel Cabaço
José Saias representa o Clube Raquel Cabaço e treina quatro vezes por semana. Habitualmente acompanhado mas também sozinho, “se o plano de treino for demasiado específico, ou também, quando pontualmente não encontro compatibilidade de horário com colegas de treino”.
Raquel Cabaço, fundadora do clube, é a sua treinadora. “Atleta de nível superior, cujo palmarés e contínuo trabalho, são para mim uma inspiração”.
Tem naturalmente um plano de treinos, que é elaborado com base nos seus objetivos gerais a médio prazo, e considerando também alguns objetivos de curto prazo, como a participação em provas e as características das mesmas.
“O bem-estar que resulta do atletismo traduz-se em ganho de produtividade ao longo do dia”
A corrida funciona bem como anti-stress
Com boa vontade, José Saias consegue conciliar os treinos e corridas com a sua atividade profissional. “Em termos abstratos, sendo atividades muito distintas, acho que a corrida funciona bem como anti-stress, como escape do trabalho… E julgo que o bem-estar que resulta do atletismo traduz-se em ganho de produtividade ao longo do dia”.
Claro que por vezes, os compromissos profissionais dificultam os treinos. “Ao longo destes anos, com o aumento progressivo dos treinos, a necessidade de contemplar o descanso e demais vida pessoal, além do trabalho, tenho procurado uma gestão de tempos baseada na flexibilidade da execução do plano, adiando alguma sessão, quando necessário, por umas horas, ou para o dia seguinte.
Estreia a correr no Grande Prémio de São João da sua cidade
A primeira corrida oficial de estrada foi na sua cidade, em junho de 2021, nos 10 km do do Grande Prémio de S. João. Mas antes, já tinha participado em seis provas locais de pista (distâncias curtas) e de corta-mato (5 km).
Quando correu o GP de S. João, ainda havia medidas especiais devido à pandemia. “ Apesar de ter claro que devia dosear o ritmo, a adrenalina impôs-se e fiz um arranque forte nas primeiras centenas de metros… Lembro-me da sensação almofadada de correr em cima da relva, na partida. A energia despendida viria a fazer muita falta um pouco mais adiante. Chegar ao fim era fácil, mas o resultado final, inevitavelmente modesto no contexto geral, poderia ter sido melhor. Mas foi uma grande alegria cortar a meta pela primeira vez nessa distância, especialmente por ser uma distância em que não tinha ainda registos”.
“ Participei em corridas de que não gostei, mas prefiro não as mencionar, por acreditar que isso dependeu mais de mim, ou da meteorologia, do que da organização”
Preferência pelas provas de estafetas …
José Saias participa em cerca de 20 provas por ano, muitas delas de curta distância e raramente além dos 10 km. Prefere a pista à estrada, relegando o corta-mato para o terceiro lugar.
A sua preferência vai para as estafetas, em pista ou na estrada, aqui a Estafeta 25 de Abril em Arraiolos. A nível individual, não falha o Grande Prémio de São João. “Inscrevo-me sempre com antecedência, não faltei desde que a conheci por dentro”.,
Já não refere as provas que lhe deixaram recordações menos agradáveis, explicando as suas razões: “Para eu não gostar, e nas distâncias que pratico, é preciso ter sensações menos gratificantes e mais penosas, ou haver a sensação de risco de acidente, ou estar num dia mau e não conseguir o meu ritmo. Participei em corridas de que não gostei, mas prefiro não as mencionar, por acreditar que isso dependeu mais de mim, ou da meteorologia, do que da organização.
… E de distâncias curtas
Quantoà distância preferida, José Saias prefere as distâncias mais curtas embora corra mais frequentemente os 10 km. Ainda não se estreou numa meia maratona e não pensa na maratona. “São as distâncias mais curtas, aquelas que sempre me fascinaram, como espetador e como praticante, em particular desde os 100 metros aos 1.500 metros. Sublinho que são distâncias de que gosto, o que não significa que tenha marcas relevantes nas mesmas. Sobre distâncias maiores, já fiz treinos de 22 km e provas um pouco acima dos 10 km. Mas claramente, considero que nesses casos, eu não obtenho maior satisfação, apenas um incremento de esforço. E por isso não entram nas minhas opções”. Respeito muito os atletas que correm estas provas, e há vários entre os meus amigos, mas esta distância não é compatível com o meu interesse de corrida”.
“Correndo a fundo (no trail), como se espera numa competição, existe mais perigo de queda e acidentes do que nas outras formas de corrida”
Trail sim mas menos que na estrada
José Saias já experimentou o trail em duas provas oficiais e algumas corridas informais. Gostou da experiência e até chegou ao pódio nos 10 km do Run Castle, em Montemor-o-Novo. “Apesar de gostar, tenho de admitir que, correndo a fundo, como se espera numa competição, existe mais perigo de queda e acidentes do que nas outras formas de corrida. Assim, eu tenciono participar novamente nestas provas, mas com menos frequência em comparação com provas de estrada, por exemplo”.
Momento mais marcante na sua primeira prova oficial
Atletas de alta competição ou atleta populares, todos têm um momento mais marcante na sua carreira desportiva. José Saias também já teve o seu. “Acho que foi a minha primeira prova oficial, em dezembro de 2020, numa das corridas do campeonato local de corta-mato, o Critério Corta-Mato Paulo Guerra. Fiz um resultado muito modesto, mas soube-me a vitória, pela experiência de participação, lado a lado com atletas de vários clubes e de grande qualidade. Comecei logo a pensar que tinha de treinar mais para não ficar tanto para trás!”
“Os adeptos de um atleta X não se limitam a apenas apoiar esse conhecido… e seguem com interesse e incentivam mesmo outros atletas”
Muito cuidadoso com a saúde e alimentação
Pensa correr quando puder, “enquanto conseguir fazê-lo sem dor ou impacto na saúde”.
Tem conseguido escapar às lesões, apenas alguns sustos pontuais com uma distensão muscular simples e fascite plantar, mas com recuperação em dois ou três dias.
Não dispensa os exames médicos anuais e a cada seis meses, faz o controlo de rotina com exames ao sangue. Tem ainda o hábito de se pesar com regularidade, também para controlo e eventual revisão da alimentação.
Quanto à alimentação, procura ser disciplinado e fazer uma dieta equilibrada, procurando ingredientes diversificados e evitando os excessos, o açúcar, os fritos, as gorduras e o álcool.
“Acredito que em Portugal, teremos mais praticantes, e daí resultarão melhores condições e melhores resultados”
Modalidade com futuro
José Saias encara o futuro da modalidade com otimismo. Considera que a pandemia terá ajudado por ser então, das poucas modalidades que se podiam praticar isoladamente ou acompanhado mas sem proximidade. “Estes praticantes recentes, através de publicações em redes sociais e por testemunho direto junto de familiares e amigos, acabam por estimular o interesse de outras pessoas em experimentar a corrida. E alguns levarão a atividade mais a sério, optando por filiar-se em clubes de atletismo. Deste modo, acredito que em Portugal teremos mais praticantes, e daí resultarão melhores condições e melhores resultados”.
Corridas com convivência mais amigável que as modalidades coletivas
Para José Saias, há diferenças visíveis entre o atletismo e as modalidade coletivas. “Há realmente algo que eu aprecio no mundo das corridas. Um evento de atletismo, por norma, agrega participantes muito distintos, homens e mulheres de várias idades, e que representam diversos clubes de vários locais, numa atmosfera que, sendo competitiva, é pautada pelo respeito por todos. Penso que em comparação com algumas modalidades desportivas de jogos entre duas equipas, com atletas de perfil muito semelhante entre si, as corridas têm essa maior abrangência, com uma convivência mais amigável, no sentido em que os adeptos de um atleta X não se limitam a apenas apoiar esse conhecido… e seguem com interesse e incentivam mesmo outros atletas”.
Mais bengaleiros e rapidez na divulgação dos resultados
Na sua opinião, o nível organizativo das corridas é de uma forma geral, bom. Mas há sempre algo que se pode melhorar. José Saias dá dois exemplos: “A existência de um ‘bengaleiro’ para guardar durante a prova, a mochila ou chaves dos atletas que vêm em viagem e sem pessoas de apoio”.
O outro exemplo passa-se nas provas onde não existe o controlo por chip, com a demora
na divulgação de resultados oficiais, especialmente quando há prémios coletivos. “Antever essa situação e preparar o software antecipadamente, ou envolver mais colaboradores, ajudaria eventualmente a um rápido apuramento de resultados”.
Melhorar recordes pessoais
Os seus objetivos passam por continuar a trabalhar para melhorar os recordes pessoais entre os 800 m e os 10 km. “ Isto sem pressa, pois preocupa-me o risco de lesão”.
Se não estivesse no atletismo, teria optado pela natação, modalidade que já praticou, em modo de lazer ou manutenção da condição física.
À boleia de um frontal de outro atleta
Estórias não faltam ao nosso entrevistado. Uma delas passou-se numa corrida noturna não oficial, com recurso do frontal. “A certa altura, a luz deixou de iluminar, por falta de bateria. E tive de ir ‘à boleia’ da luz de outro corredor… correndo em passos pequenos na zona apontada pelo frontal alheio. O problema é que a outra pessoa tem de ser muito estável, e não olhar para os lados!! Mas era em ritmo de passeio, naturalmente. Ainda assim, parecia uma situação de desporto motorizado… e não de corrida”.
Correr um trail em calções
Esta passou-se no trail Run Castle onde José Saias participou em calções. A prova correu-lhe bem mas as silvas deixaram-lhe riscos bem desenhados nas pernas. E lá vieram as perguntas “se tinha sido atacado por um gato”!
“Correr não é só correr, no atletismo”
Balanço de quase quatro anos de corrida
A terminar, José Saias faz um pequeno balanço da sua escolha pelo mundo das corridas. “Eu comecei tarde, neste campo. Mas penso que a maturidade me tem permitido experimentar o processo com uma certa atenção aos detalhes e valorização das pequenas conquistas. Sabendo bem que não sou atleta de topo e que há limites para a progressão, faço um balanço muito positivo destes anos de atletismo, com vontade de continuar a aprendizagem, e de trabalhar para melhorar o desempenho até onde for possível”.
Outra caraterística importante referida por José Saias tem a ver com os aspetos ligados à corrida. Como ele diz, ‘correr não é correr, no atletismo’. “Sinto que a atividade desportiva, claramente mais intensa que nunca, no meu caso, me tem levado a escutar mais o corpo, no que diz respeito ao cansaço e consequente necessidade de descanso, mas também a propósito da alimentação. Correr não é só correr, no atletismo. Tenho o maior respeito pelos atletas de carreira, pelo que, no meu entender, é a grande disciplina que usam nas suas opções, de nutrição e outras áreas, para conseguirem alcançar e manter de forma consistente determinado patamar competitivo.