Júlio Reis nasceu em S. Salvador da Baía e adotou Lisboa como sua cidade há 16 anos. É atualmente o responsável pelas instalações da pista de atletismo Moniz Pereira em Lisboa e começou a correr há três anos. Já é um viciado na corrida, participando em cerca de 30 provas por ano em representação do Câmara Lisboa Clube. Tem uma série de sugestões para uma melhor organização das corridas e salientou a necessidade de mais formações técnicas para quem anda no mundo das corridas.
Júlio Reis nasceu no Brasil, em S. Salvador da Baía, há 43 anos. Adquiriu o gosto pelo desporto ainda no seu país natal, quando esteve no serviço militar. Quando saiu, tirou o curso de Educação Física. Veio para Portugal há 16 anos e tem trabalhado nesta área, sendo Técnico Superior da Câmara Municipal de Lisboa e responsável atual pelas instalações da pista de atletismo Moniz Pereira.
Curiosamente, a sua paixão pelo atletismo nasceu há três anos quando entrou para a pista. “Para me relacionar, entender o seu funcionamento”.
Quem conhece o Júlio Reis, é difícil não gostar dele, dada a sua simplicidade e serenidade que transmite. Ele participa em cerca de 30 provas anuais, corre atualmente pela Câmara Lisboa Clube e treina 4/5 vezes por semana, habitualmente acompanhado. Não tem um treinador mas elabora os seus planos de treino com base nos seus largos conhecimentos na matéria.
“A maratona é um divisor de águas, há que preparar os treinos longos. Mesmo para se correr a distância em quatro horas, há que fazer treino específico”
Estreia na Corrida do Aeroporto
Júlio Reis estreou-se na Corrida do Aeroporto, gastando 48 minutos nos dez mil metros do percurso. “Foi uma boa experiência, o Fernando Fernandes foi a minha ‘lebre’. Foi a prova que mais s
ofri, achei-a com muito sobe e desce”.
A sua distância preferida vai para a Meia Maratona e elege a Corrida do Montepio e a Meia Maratona dos Descobrimentos, ambas na capital, como as que gosta mais de participar. “São rápidas e não está muito calor, dou-me mal com ele”.
Já quanto à prova que menos lhe agradou, não hesita em referir a de Tagarro. “Não gosto nada de corridas com voltas ao percurso”.
“Os abastecimentos nas provas devem ter em conta a época do
ano, correr 10 km no Verão não é a mesma coisa que no Inverno”
Estreia na maratona de Sevilha sem estar preparado
Foi este ano em Sevilha que Júlio Reis se estreou na maratona. “Não era para ter ido, não foi uma maratona planeada. Fui empurrado por um amigo e só fiz um treino longo de 30 km uma semana antes, não o devia ter feito. Quando acabei esse treino, fiquei apreensivo mas como já tinha dito que ia, lá fui com um grupo da margem sul, muito fixe e tarimbado em maratonas”.
Para além de não ter planeado a prova, Júlio cometeu um erro crasso. “Entrei na maratona como se fosse uma prova de 10 km ou uma meia maratona. Havia muita gente a assistir e empolguei-me, comecei rápido a 4m40/km, passei aos 10 km em 48m e à meia, em 1h45m. Quando cheguei aos 25/28 km, doía-me tudo. Se parasse, não conseguia voltar a correr. Não andei mas não sei como consegui chegar à meta em 4h04m”.
Júlio Reis vai voltar a Sevilha em 2017 mas com um objetivo definido, fazer abaixo das 3h45m. E já tirou as devidas lições da sua primeira experiência na distância: “A maratona é um divisor de águas, há que preparar os treinos longos. Mesmo para se correr a distância em quatro horas, há que fazer treino específico”.
Querer parar e não ser capaz!
O nosso entrevistado pensa correr enquanto tiver forças e elege a maratona de Sevilha como o momento mais marcante da sua carreira. “Que sensação tive quando terminei, queria parar de andar mas não conseguia!”.
No mundo das corridas, aprecia particularmente a camaradagem e se não estivesse no atletismo, estaria na natação. Tem os cuidados normais com a alimentação mas desde que corre, passou a beber menos álcool.
“Quantos Nelson Cruz não existem a necessitar de apoios?”
Faz exames médicos todos os anos e já foi visitado por uma lesão que demorou cerca de três meses a curar, concretamente pela síndrome da banda iliotibial. Diminuiu a intensidade do treino, aumentou os alongamentos e o trabalho de compensação do reforço muscular.
Mais apoios, precisam-se!
Quanto ao futuro da modalidade, falou-nos dos últimos Jogos Olímpicos em que alguns atletas portugueses não conseguiram os grandes resultados conseguidos antes em Campeonatos Europeus e Mundiais. Na sua opinião, falta apoios aos atletas. “Quantos Nelson Cruz não existem a necessitar de apoios?”
Diferenças entre Portugal e Brasil
Interrogado sobre as principais diferenças entre o seu país e Portugal no atletismo popular, Júlio Reis considera que ele está mais organizado em Portugal. “No Brasil, o policiamento não é pago, há mais problemas. Aqui, as empresas que organizam as provas, são melhores. Mas sua opinião, a parte técnica no Brasil está mais avançada. “Há grupos organizados, fazem-se avaliações, planeia-se os treinos”.
Sugestões para uma melhor organização das provas
Quanto a sugestões para uma melhor organização das provas, Júlio Reis tem algumas. “Os percursos devem estar definidos de acordo com o perfil dos atletas. No grau de dificuldade, destacar se é do nível 1, 2 ou 3. Os abastecimentos nas provas devem ter em conta a época do ano, correr 10 km no Verão não é a mesma coisa que corre no Inverno. A entrega dos dorsais deve ser feita em locais de fácil acesso, principalmente em transportes públicos. O mesmo se passa com o acesso às provas de forma a evitar que se leve o carro ”.
Ser o último a partir
Quanto a estórias, Júlio Reis fala-nos da sua primeira corrida: “O Fernando Fernandes aconselhou-me a chegar cedo. Quando saí de casa, achei que assim ia ser mas já encontrei uma série de estradas fechadas ao trânsito. Cheguei às imediações do local da partida com ela a ser dada. Fui o último a partir, a partir daí, chego sempre com a devida antecedência”.
A terminar, Júlio Reis salientou a importância de haver mais workshops, formações técnicas especializadas e curtas para quem anda no mundo das corridas populares, abordando temas como a fisiologia, a biomecânica, os diabéticos, hipertensos, etc.