Kcénia Bougrova nasceu na Bielorrússia mas veio para Portugal aos cinco meses. Aos 25 anos de idade, está a fazer o doutoramento em Neurociências na Fundação Champalimaud. Corre pelo Run Tejo e é uma das melhores atletas populares, com frequentes subida aos pódios. Antes de se dedicar à corrida, praticou ténis e karaté onde atingiu o 1º dan.
Kcénia Bougrova nasceu em Minsk, na Bielorrússia. Filha de dois atletas de alta competição, veio com eles para Portugal quando tinha apenas cinco meses de idade. Por cá ficaram e ela acabou por seguir as pisadas dos pais.
Adquiriu a nacionalidade portuguesa aos 18 anos e começou a correr “por diversão” há oito anos mas sempre privilegiou os estudos. E muito bem, foi uma aluna brilhante pois aos 25 anos, já está a fazer o doutoramento em Neurociências na Fundação Champalimaud. Kcénia é um ótimo exemplo de como é possível conciliar os estudos com a prática desportiva. “A corrida, ainda hoje, acaba por ser uma forma de aliviar o stress do dia a dia”.
Karateca com o 1º Dan
Kcénia sempre gostou de praticar desporto. O atletismo não foi o seu primeiro amor desportivo. Praticou várias modalidades com destaque para 5 anos no ténis e 13 no karaté, onde possui o 1º Dan. A entrada na Faculdade limitou-lhe muito os horários, obrigando-a então a optar pelo atletismo que lhe permitia uma melhor gestão do tempo. “O facto de os meus pais terem sido grandes atletas de longas distâncias, também me motivou a começar a participar nalgumas provas”. Perdeu-se uma tenista e uma karateca, ganhou-se uma atleta!
“A corrida, ainda hoje, acaba por ser uma forma de aliviar o stress do dia a dia”
Pais maratonistas
Os seus pais representaram a seleção nacional da URSS. A mãe, Ekaterina Khamenkova durante 6 anos e o pai, Vladimir Bougrov, durante 10 anos. Corriam principalmente maratonas, a mãe completou 30 e o pai 40. Como recordes pessoais, o pai tem 2h11m32s e a mãe, 2h28m20s e ainda 31m42s aos 10 km. A mãe, que só começou a correr aos 27 anos, ainda corre, mais nas provas do Troféu das Localidades de Oeiras, em representação do Valejas AC. O pai já não corre e foi treinador da URSS e da sua mãe.
Estreia a ganhar na primeira prova oficial
Kcénia estreou-se no mundo das corridas num corta-mato escolar em 2011. Venceu e passou ao regional e conseguiu o apuramento para o nacional. “Foi engraçada esta evolução de uma prova para outra, sendo que na altura, ainda só estava focada no ténis e karaté. Acho que deu para acordar o bichinho da corrida”.
Estreou-se na estrada no ano seguinte, na Corrida da Ciência, prova de 10 km. “Os meus pais estavam muito preocupados porque eu não tinha nenhum treino para essa distância, apenas saía para correr uns 6 km. Então, insistiram para eu correr lentamente. Lembro de ter terminado a prova muito feliz e até tive direito ao pódio no escalão”.
“Escolho a São Silvestre da Amadora, onde o ambiente de festa vivido e o tamanho apoio do público são incomparáveis”
Atleta da Run Tejo
Kcénia representou o Valejas AC, o CDUL e o Sporting CP antes de se transferir para o Run Tejo – CM Socks, onde diz sentir-se muito bem. Corre em média duas provas por mês e é uma das melhores atletas nacionais nas provas populares com frequentes triunfos e subidas ao pódio. “Este ano tem sido excecional, desde Setembro já participei em 29 corridas (uau, até me surpreendi quando fiz as contas!)”.
Tenta treinar seis vezes por semana mas nem sempre o consegue. “Por vezes, acabo por conseguir correr apenas no fim de semana”. Mas este ano, tem-lhe sido mais fácil conseguir conciliar o trabalho com os treinos. “Estou perto do Jamor, onde o grupo se junta para treinar. Todos temos trabalhos/estudos, então reunimo-nos a horas mais tardias, o que facilita e também motiva os treinos”. Carlos Freitas é o seu treinador, “na companhia de um grupo muito simpático de atletas do clube que animam e facilitam qualquer treino mais duro”.
Ainda não experimentou a maratona ou o trail. O máximo que correu até agora foram os 15,5 km da Corrida das Lezírias. A sua distância preferida varia entre os 8 e os 15 km e tem um recorde pessoal de 36m02s aos 10 km, marca obtida na Corrida dos Reis em 2018.
São Silvestre da Amadora com um ambiente e público incomparável
Foi com dificuldade que Kcénia escolheu entre muitas, a corrida que mais prazer lhe deu em participar. “Entre taaantas tão únicas, fica muito difícil escolher”. Acabou por decidir-se pela São Silvestre da Amadora, “ o ambiente de festa vivido e o tamanho apoio do público são incomparáveis”. Outras que merecem o seu agrado são o Grande Prémio da Páscoa de Constância e a Corrida da Água, “pelas belas paisagens”; a Corrida dos Sinos, “tenho um carinho especial porque, além do percurso em si, é uma prova que se realiza perto da localidade onde vivo” e algumas provas do Troféu de Oeiras, “principalmente devido às subidas desafiadoras”.
Já quanto às que lhe deixaram recordações menos simpáticas, não refere uma em particular. “Normalmente, acabam por ser provas com problemas na organização, por exemplo quando atrasam muito a partida, o trânsito não é controlado ou o regulamento não é cumprido”.
“… Acho que acaba por não haver um grande apoio/incentivo aos atletas”
Faltam apoios e incentivos aos atletas
Kcénia vê muitos atletas, “tanto amadores como mais competitivos, jovens como ‘menos jovens’, focados/empenhados em fazer mais e melhor, o que me orgulha imenso. Contudo acho que acaba por não haver um grande apoio/incentivo aos atletas”.
Já quanto à organização das provas, mostra-se muito satisfeita com a sua qualidade. Deixa ficar como sugestão, a existência de blocos de partida, principalmente nas provas com milhares de participantes. “Evita confusões e permite um aquecimento mais tranquilo e completo, evitando lesões”.
As amizades e companheirismo no mundo das corridas
No mundo das corridas, aprecia particularmente “a magia de como pessoas com o mesmo gosto por correr, conseguem facilmente formar amizades e companheirismo, que se estendem por várias provas”. Confessa ainda ser uma pessoa muito competitiva consigo própria. “Então as corridas são ideais para tentar superar-me e ver a evolução dos resultados”.
“A nutricionista ficou muito espantada ao saber da minha alimentação…”
Ai os doces…
Kcénia pensa correr sempre, enquanto tiver tempo e energia. Não dispensa os exames médicos de rotina e quanto a lesões, teve uma fratura de stress em 2016. “Foi muito triste porque estava no meu pico de forma (acontece sempre nessas alturas…) e ia competir no nacional de estrada pela primeira vez”.
Quanto à alimentação, confessa-nos que não tem cuidados especiais. Não cria restrições e procura ter uma alimentação variada. Mas o pior, são os doces, a sua perdição. Teve uma vez uma consulta de nutrição e… “a nutricionista ficou muito espantada ao saber da minha alimentação, principalmente os bolinhos, croissants e chocolate que costumo comer”.
Projetos futuros na modalidade
A nossa entrevistada sabe bem o que quer. Para além do doutoramento em Neurociências, vai continuar a superar-se para evoluir nos seus resultados. Se não estivesse no atletismo, é bem capaz de ter seguido o ténis mas gostaria também de experimentar o surf ou a patinagem no gelo. Uma multi-desportista!
Ao longo destes anos como corredora, não teve ainda um momento marcante. “Muitas provas acabam por tornar-se únicas em diferentes aspetos, como pelo resultado obtido, a classificação ou as amizades formadas ou reforçadas”.
“Um agradecimento especial ao mister Carlos Freitas e a todos os atletas do clube Run Tejo – CM Socks pelo apoio e magnífico companheirismo”
Prova associada à Fundação Champalimaud
Kcénia tem no seu trabalho, vários atletas que também gostam de correr e vão participando numa ou outra prova. Ela e eles andam a germinar uma ideia, a organização de uma prova associada à instituição e ao trabalho realizado. “Estou entusiasmada em avançar com esta ideia e ajudar no planeamento do ‘outro lado’ das corridas”.
A terminar, quis deixar “um agradecimento especial ao mister Carlos Freitas e a todos os atletas do clube Run Tejo – CM Socks pelo apoio e magnífico companheirismo”.
Até onde poderia chegar Kcénia se tivesse dedicado exclusivamente ao atletismo? Mas estamos certos de que a espera um futuro brilhante como cientista. E entretanto, poderá continuar a correr, enquanto tiver tempo e energia, como nos disse.