As maratonas de Berlim e Nova Iorque disputam-se respetivamente em 26 de Setembro e 7 de Novembro. Com um escasso espaço de seis semanas entre elas, seria pouco provável que um maratonista de elite estive nas duas provas. Mas é o que vai acontecer com o etíope Kenenisa Bekele.
Afinal, qual a razão por esta opção de Bekele? É por dinheiro? O agente do etíope, Jos Hermens, diz que não.
“Para ser honesto, ele nem perguntou sobre o dinheiro”. Segundo Hermens, os prémios de presença são agora cerca de metade do que seriam num ano normal, com as Organizações a procurarem cortar custos devido à pandemia.
De acordo com Hermens, há três fatores que explicam a decisão de Bekele em correr as duas maratonas em seis semanas. A primeira é que Bekele sai-se melhor com objetivos a curto prazo. “Se ele tem de correr no espaço de seis meses, isso é uma eternidade. Para ele, é útil ter uma meta a curto prazo”.
O agente acredita que Bekele estar em Nova Iorque, o vai ajudar de duas maneiras. Primeiro, dá-lhe outro alvo a atingir rapidamente depois de Berlim. E como Nova Iorque é a última das Majors em 2021, isso significa que é menor a diferença de tempo até à primavera. Ele está a reduzir aquela “eternidade” de tempo entre Berlim e uma maratona na primavera.
Em segundo lugar, Hermens acredita que o difícil percurso de Nova Iorque com as suas pontes e parte final no Central Park, combina com Bekele.
Em terceiro lugar, os sapatos. Os Nike Vaporflys e seus semelhantes não tornam apenas os atletas mais rápidos, eles permitem também que os atletas recuperem melhor de grandes esforços.
“Antigamente, via-se que as pessoas tinham dificuldade para subir ao pódio depois de uma maratona”, disse Hermens. “Haile Gebrselassie ficou magoado durante alguns dias. Agora, os atletas estão mais relaxados e recuperam melhor. Uma segunda prova depois da maratona, vê-se toda a gente em melhor forma do que antigamente”.
Mas como está a forma de Bekele? Ele apenas completou uma maratona nos últimos três anos, a de Berlim em 2019 com 2.01.41, segunda marca mais rápida da história.
Hermens acredita que Bekele poderia ter vencido no ano passado em Londres, se não se tivesse lesionado na sua última sessão de treino antes da prova. Ele tem uma lesão persistente no tornozelo que pode sempre inflamar.
O próprio Hermens diz que é difícil saber o que esperar de Bekele nestas duas maratonas do outono. “Não esperava isso (2.01.41) há dois anos. Ele é um grande atleta e um bom homem. E acho que agora, ele está muito focado. Ele cedeu muitas das suas responsabilidades comerciais a outras pessoas”.
A terminar, Hermens fez uma comparação curiosa: “Com aquele homem, com aquela qualidade, tudo é possível. O motor ainda é fantástico. Os pulmões e o coração ainda são Ferrari. Por fora, é difícil manter isso no mesmo nível”.