A Gala do Centenário da Federação continua a fazer “estragos”. Depois de Fernanda Ribeiro ter anunciado a sua demissão de vogal, segue-se agora a de João Ganço do lugar de vice-presidente. Tal como ontem com Fernanda Ribeiro, divulgamos a entrevista feita por António Simões a João Ganço e hoje publicada no jornal A Bola.
– Depois da demissão com estrondo (e mágoa) de Fernanda Ribeiro de vogal da direção da FPA, é com estrondo (e mágoa) que se demite também de vice-presidente da direção da FPA?
– Demiti-me por duas razões. A primeira, por considerar que o cargo de treinador em ação era incompatível com o cargo de vice-presidente…
– Incompatível?
– Incompatível no sentido de estar tão absorvido com o meu trabalho de treinador que não tinha condições para dar um contributo maior e mais útil à Federação, e daí ter oportunamente pedido a suspensão do cargo. A outra razão foi sentir que, na Gala do Centenário, os treinadores dos campeões olímpicos foram marginalizados. Vendo a justíssima homenagem aos campeões olímpicos no palco, sem que se fizesse, sequer, alguma referência aos seus treinadores, desgostou-me muito…
– Eu diria que mais…
– … pelo menos isso: uma referência. Mas sim: igualmente justo seria que fossem também homenageados os treinadores olímpicos, dadas as características do evento que cobria os 100 anos da Federação. E vendo que não estavam a sê-lo, abandonei a sala com o prof. João Campos que, aliás, lamentavelmente, nem sequer estava nomeado.
– Era o sinal do seu protesto?
– Era o claro sinal da minha discordância por aquilo que já lhe disse que se percebera: a marginalização dos treinadores…
– Nessa altura, já sabia que, ao contrário d João campos, o professor era um dos quatro nomeados para Treinador do Centenário, com Moniz Pereira, Sameiro Araújo e José Uva?
– Não, não sabia! Mas, mesmo que soubesse, a minha atitude seria a que foi…
– Estranho que um dos vice-presidentes da FPA não o soubesse…
– Não é estranho, sabe porquê? Porque já estava desligado do cargo, porque já tinha pedido a suspensão, porque, acima de tudo, tinha de dar treinos – pelo que não considero que tenha sido algo do outro mundo nada saber a respeito de prémios ou nomeações. Que o João Campos não fora nomeado, apanhara apenas um zunzum, numa conversa à mesa da Gala…
– Ou seja, não sai em divergência com o modo como a FPA está a gerir o atletismo, em contestação à sua política de fundo?
– Em relação a isso apenas saliento que, no pouco tempo em que colaborei com a direção da Federação, notei a falta de alguma auscultação no que respeita a assuntos relevantes, de fundo, às pessoas que mais diretamente lidam e dominam os diversos assuntos. Como foi, afinal, o caso que deu origem a esta situação.
– Está arrependido de ter aceitado entrar na lista de Vieira?
– Arrependido não estou porque considerei o projeto bom e ambicioso, achei que valia a pena participar nele. Aliás, independentemente de tudo o que se passou, de tudo o que se tem passado, continuo a pensar que quem está na direção da FPA tem valor, mas deveria ouvir mais as outras pessoas habilitadas e conhecedoras dos assuntos, de modo a não serem tomadas medida injustas e inadequadas, como foi agora o caso.
– Esse espírito de pouco grupo e pouca equipa é culpa de Jorge Vieira, o presidente da FPA?
– O presidente representa bem a direção mas parece padecer do mesmo mal já referido na minha resposta à pergunta anterior. Isto é, coabita com a tentação de trabalho muito individualizado que deveria ser mais de equipa.