Quando há alguns dias procurámos literatura referente à utilização de máscaras na prática desportiva ao ar livre, um dos artigos que encontrámos dizia respeito à sua utilização em atletas de alta competição, com o objetivo de melhorar o seu rendimento desportivo.
Embora com objetivos bem diferentes do simples atleta popular que nesta fase da pandemia, pretende apenas correr um pouco e não sabe se deve ou não levar máscara, achámos interessante o artigo da brasileira Camila Brogliato, que divulgamos seguidamente:
“Os atletas de elite estão sempre em busca de acessórios ou ferramentas para melhorar o seu desempenho. Alguns recorrem apenas a trabalhos que levam o corpo ao limite, outros durante o treino, apelam também para o avanço da medicina. No entanto, vários agarram-se à tecnologia como um aliado leal para um melhor desempenho. Neste sentido, no mundo da alta performance, a nova tendência entre os atletas é o uso de máscaras para treinar, que teoricamente estimulariam a capacidade respiratória durante o exercício.
Este gadget tecnológico simula a altura de um determinado lugar e requer mais do nosso sistema respiratório; e, segundo os seus criadores, isso aumentaria a nossa capacidade cardiorrespiratória durante o exercício. Sob esta premissa e a compreensão de que máscaras de treino (também de acordo com os seus criadores) recriam um cenário semelhante ao de lugares com altitude, o uso pode ser benéfico.
Porém, segundo o professor Gerson Leite, fisiologista do Instituto Body4life, vale o cuidado com as promessas exageradas do produto. “Os benefícios dessas Elevation Training Mask chamaram-me muito a atenção e desconfiei um pouco, pois aparentemente não precisaríamos mais de enviar atletas para treinar na altitude ou gastar um bom dinheiro com câmaras hipobáricas que simulam uma grande altitude em laboratório”, diz. Gerson então comprou uma. Depois de alguns testes, não aconselha o seu uso para aumentar o VO2, já que o acessório não faria isso.
Estudos
Não só segundo ele. Algumas pesquisas como a Effect of Wearing the Elevation Training Mask on Aerobic Capacity, Lung Function, and Hematological Variables (2016) e a Effects of Simulated Altitude on Maximal Oxygen Uptake and Inspiratory Fitness (2017) também demonstraram que essas máscaras para treinar não modificam o VO2max, a função pulmonar e os glóbulos vermelhos no sangue, comprovando a hipótese inicial do professor.
“A Elevation Training Mask apenas restringe o fluxo respiratório (quantidade de ar que entra e sai do pulmão), fazendo você “respirar com mais força” por conta desta restrição. Isto pode ajudar a melhorar a força e resistência dos músculos respiratórios, mas não ajudará na melhora da performance como comprovado nas pesquisas citadas”, continua Gérson.
Pelo jeito, ainda é melhor correr em lugares naturais para se aclimatar antes de alguma prova em outra altitude. “Ela realmente não simula grandes altitudes. Para isso, a máscara deveria ‘diminuir a quantidade de O2 no ar’, como ocorre principalmente em altitudes maiores que 2.000 m e 2.400 m, pela diminuição da pressão atmosférica, o que ela não tem condições de fazer. Depois de testar, não acho válido o uso dessas máscaras de treino para melhorar a performance na corrida, ciclismo ou triatlo”, encerra o especialista.