Com apenas 18 anos de idade e com uma medalha olímpica de prata em Tóquio, Christine Mboma tem um futuro brilhante na modalidade, desde que tenha autorização para continuar a competir.
A jovem namibiana foi segunda nos 200 metros com 21,81 s, novo recorde mundial sub-20. Outra namibiana, Beatrice Masilingi, de 18 anos, foi sexta na mesma prova.
Mas a presença das duas jovens na final de terça-feira reabriu o debate sobre as regras aprovadas pela World Athletics, relativas às atletas nascidas com níveis elevados de testosterona.
Tanto Mboma e Masilingi sofrem desta situação. De acordo com as regras da World Athletics, elas não podem entrar em competições entre os 400 m e a milha.
É o mesmo problema que fez com que a sul-africana Caster Semenya, bicampeã olímpica dos 800 m, também classificada como atleta DSD, não pudesse defender o seu título em Tóquio.
Semenya recusa-se a tomar medicamentos que reduziriam o seu nível de testosterona e permitiriam que ela competisse na sua distância preferida. No início deste ano, ela levou o seu caso ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, numa última tentativa de reverter os regulamentos.
Mboma e Masilingi começaram a época correndo os 400 m e os resultados obtidos indicaram que elas estavam entre as candidatas a medalhas em Tóquio.
Mboma correu os 400 m em 48,54 num meeting na Polónia em Junho, a melhor marca mundial da época.
O Comité Olímpico Nacional da Namíbia disse no mês passado que nem as atletas nem suas famílias sabiam da sua condição antes de serem testadas num estágio na Itália no início desta época.
“É importante compreender que ambas as nossas atletas não sabiam desta condição, nem qualquer membro da família, o seu treinador ou o NNOC-CGA,” disse o NNOC.
Após a descoberta do seu estatuto DSD, Mboma e Masilingi foram informadas de que não seriam elegíveis para competir nos 400 m em Tóquio, levando ambas optar pelos 200 metros.
“Eu adoraria competir também nos 400 m”, disse Masilingi no início desta semana após a qualificação para a final dos 200 m. “É muito estranho. Eu não entendo realmente isto. Para mim, não faz sentido no momento. Espero que haja mudanças no futuro. ”
Margaret Wambui, atleta DSD que conquistou o bronze nos 800 m nos JO do Rio, acredita que uma solução poderia passar pela World Athletics introduzir uma categoria distinta para as mulheres DSD poderem competir.
“Seria bom se fosse introduzida uma terceira categoria para atletas com alto nível de testosterona”, disse ela à BBC. “É errado impedir as pessoas de usarem os seus talentos”.
Shelly-Ann Fraser-Pryce, fora do pódio por Mboma, não se comprometeu quando questionada sobre a participação das duas jovens namibianas na final dos 200 m. “Se elas têm permissão para competir, não há nada que eu possa fazer a esse respeito”, disse Fraser-Pryce. “Se elas têm permissão para competir, elas têm permissão para competir. Eu não estava a pensar nisso. Eu só alinhei para competir. ”
Outros foram menos simpáticos, sugerindo que a World Athletics deveria considerar adicionar os 200 m à lista de eventos aos quais, as atletas com níveis elevados de testosterona não podem participar (dos 400 m à milha).
A World Athletics explicou num documento publicado no seu site, as regras relativas às atletas classificadas pelo DSD.
A declaração deixou claro que a World Athletics deixou a porta aberta para expandir ou reduzir a lista de eventos proibidos, desde que haja justificação científica relevante para fazê-lo.
“Se evidências futuras ou novos conhecimentos científicos indicarem que há uma boa justificação para expandir ou reduzir o número de eventos afetados pelos regulamentos, ela proporá tais revisões ao Conselho da World Athletics”, diz o documento.