A jamaicana Novlene Williams-Mills é um fiel exemplo de que a batalha contra o cancro da mama pode ser ganha
A jamaicana Novlene Williams-Mills, nascida em 1982, já ganhou quatro medalhas olímpicas: três de bronze e uma de prata, em Atenas, Pequim, Londres e Rio de Janeiro, sempre na estafeta 4×400 m. Em 2012, pouco antes de participar nos trials da Jamaica, ela passou pelo ginecologista. Foi então avisada de tinha uma protuberância no peito. O exame revelou um possível tumor. Perguntou se podia correr enquanto esperava pela confirmação. “Necessitava de algo para distrair-me, só iria preocupar-me se ficasse sentada em casa”. Já em 2010, tinha vivido de perto a doença pois a sua irmã, com 38 anos, tinha falecido com um cancro nos ovários. Com autorização dos médicos, participou no Nacionais da Jamaica. Só pensou em correr. De regresso aos Estados Unidos, onde reside, recebeu o diagnóstico definitivo. “Foi um choque, uma mistura de raiva e incredulidade. Fazia desporto, não bebia e não fumava. Nunca pensas que podes passar por uma situação assim”. Poucos conheceram a sua doença. O apoio do marido e dos seus amigos, levaram-na até Londres. “Pensei que as minhas companheiras precisavam de mim. Também não queria ter de dar explicações porque renunciava aos Jogos, não foi uma decisão fácil”. Williams-Mills procurou controlar as suas emoções. “Houve momentos em que só queria chorar. Ficava mais tempo no duche e aliviava-me”. Uma vez no tartan, concentrou-se apenas em cada corrida. Foi quinta nos 400 metros antes de disputar a estafeta. Na final, fez o último percurso e assegurou a medalha de bronze, atrás da Rússia e dos Estados Unidos.
Do pódio à sala de operação
Umas horas mais tarde, regressou a Atlanta. Três dias depois de ir ao pódio em Londres, passou pela sala de operações. Nunca antes se havia submetido a uma intervenção cirúrgica. Esperavam-na mais três operações. Depois da primeira, ficaram células cancerosas. “Foi duro, no princípio neguei-me a fazer uma mastectomia. Mas logo me apercebi de que não podia falhar aqueles que me querem”.
Williams-Mills regressou ao médico para pedir uma mastectomia para cada peito. Os índices tumorais continuavam elevados. O tumor tinha-se alojado na caixa toráxica. Voltou à sala de operações. E em Janeiro de 2013, já não havia rastro de cancro no seu organismo.
Submeteu-se a uma reconstituição de ambos os peitos. Não foi um processo fácil. “O pior foi levar um tubo de drenagem. Não podia cozinhar nem fazer nada para mim mesma. Contei com muita gente positiva à minha volta. Confiei nos meus médicos”. Williams-Mills lutou contra o cancro como corria no tartan, com alguém próximo para apoiá-la, quando a moral decaía.
Não voltou a correr em 2013. Normalmente, começava a preparar a temporada em Novembro. Pisou novamente o tartan em Fevereiro. Quis provar-se e ver como respondia. Como já previa, não encontrou logo a sua forma. “Às vezes, queria deixar de correr porque estava tão cansada que não podia levantar-me da cama”. A sua primeira corrida foi em Kingston, em 5 de Maio. Foi terceira nos 400 m com 51,05 s.
Ninguém sabia porque é que ela não corria como antigamente. Não sabiam o que ela tinha passado. Em Junho, chegaram os Nacionais da Jamaica. Ela ganhou a final dos 400 m. “Dei-me conta nesse dia de que podia voltar a ser competitiva”. Um mês depois, divulga a doença e o processo vivido desde que lhe diagnosticaram o tumor no peito.
Contou com o apoio de Justin Gatlin
“Que bom é começar assim a semana, depois de receber as melhores notícias do teu oncologista. Não foi uma viagem fácil para chegar até aqui. Foram muitas orações, lágrimas… dei graças a Deus, à minha família e aos amigos por estarem comigo”. Assim descreveu Williams-Mills o que sentiu quando em 9 de Outubro fez a revisão dos cinco anos.
Entre os amigos que estiveram sempre a seu lado, encontra-se Justin Gatlin. Ele foi um dos pilares do seu processo de recuperação e também quem a animou a dar a conhecer a sua doença.
Com o passar do tempo, Williams-Mills converteu-se numa fonte de inspiração. “Espero sê-lo para as mulheres que passem por este problema”, reconhece.
Medalha de ouro em Pequim
Na estafeta 4×400 m, Novlene partiu no último percurso atrás da americana Francena Mc Corory. Esta, entrou em primeiro lugar na reta da meta. Mas nos últimos 70 metros, Novlene superou a sua rival e ganhou a medalha de ouro. “Foi um momento incrível, de felicidade quase igual à que senti quando regressei das operações”. Em 2016, repetiu a prata olímpica no Rio de Janeiro.
Williams-Mills vê próxima a retirada. “Talvez seja a hora de guardar as sapatilhas”. Mas quer contribuir com a sua experiência na luta contra o cancro. Quer trabalhar numa Fundação com o seu marido e incide na necessidade de fazer-se mamografias. “Pode-se ter medo mas salvam vidas. Há muitas mulheres que precisam de falar e eu quero escutá-las”.
A terminar, a jamaicanadeixa um conselho a toda as mulheres que podem atravessar um problema semelhante. “Não devem dar-se por vencidas. Chegarão dias duros mas há sempre que manter a esperança. Só lutando, chegarão dias melhores”.
Este foi o relato de Novlene Williams-Mills ao jornal espanhol “Marca”que reproduzimos, esperando que o seu exemplo sirva de inspiração para todas as mulheres portuguesas que passem por um problema semelhante.