O recente recorde mundial da meia maratona pelo ugandês Jacob Kiplimo em 56m42s, primeiro atleta a baixar dos 57 m na distância, levou o jornalista Xavier Gonzalez-Amat a analisar a evolução do recorde nos últimos anos.
Zersenay Tadese foi o detentor mais velho do recorde mundial da meia maratona. Estabeleceu-o em março de 2010 em Lisboa e manteve-o até outubro de 2018. Foram mais de oito anos de reinado em que a ciência se questionou se a capacidade humana já teria atingido os seus limites. O mais escandaloso sobre o feito do famoso corredor eritreu foi que ele bateu o recorde sem usar os postos de abastecimento. Tadese não conseguia beber nem tomar gel durante o esforço físico, uma deficiência que conseguiu superar ao longo da sua carreira desportiva em distâncias mais curtas, mas que o impediu de competir na maratona. Naquela época, estabeleceu-se um debate social no mundo das provas de longa distância em que o valor decisivo da nutrição desportiva foi questionado porque Tadese havia demonstrado que era possível correr uma meia maratona em 58m23s sem ter que se preocupar com a dieta.
Mas o que Tadese trouxe para a mesa foram informações essenciais para melhorar o desempenho. Os seus parâmetros permitiram-nos descobrir os limites humanos no seu estado natural. A partir daí, nutricionistas académicos como Armand Bettonviel, estudaram a fisiologia humana para melhorar o desempenho sem cruzar a fronteira do doping. O seu aluno, Eliud Kipchoge bateu o recorde mundial da maratona e todos os recordes de corridas de longa distância caíram com uma velocidade surpreendente.
Geoffrey Kamworor, com um tempo de 58m01s na Meia Maratona de Copenhaga de 2019, chegou perto de uma barreira impensável. Kibiwott Kandie cruzou essa barreira um ano depois com um tempo sensacional de 57m32s em Valência. No ano seguinte, Jacob Kiplimo diminuiu essa marca num segundo, assim como Yomif Kejelcha em outubro do ano passado, deixando o recorde em 57m30s.
O que Kiplimo fez em Barcelona foi levar a capacidade humana a outra dimensão. Ele quebrou a impensável barreira dos 57 minutos (56m42s) com um ritmo que há alguns anos era típico de eventos mais curtos. Durante a ‘Meia’, ele percorreu 10 km em 26m20s, abaixo do recorde mundial oficial (26m24s).
Novos corredores de longa distância conseguem suportar ritmos agonizantes por mais tempo porque, em vez de usar gordura de assimilação lenta como combustível, eles priorizam a glicose. Eles são capazes de alterar o seu metabolismo com um treino específico do sistema digestivo que lhes permite ingerir até 120 gramas de carbohidratos por hora. Esses avanços, combinados com melhorias nos sapatos supersónicos de carbono e novos sistemas de treino, visam quebrar a tão esperada barreira das duas horas na maratona.