O americano Horace Ashenfelter faleceu no dia 6 deste mês aos 94 anos de idade. Dizia que tinha sido o único agente do FBI “perseguido por um soviético”
Os Jogos Olímpicos de Helsínquia em 1952 foram os primeiros onde competiram atletas da então URSS. O contexto político da época converteu aqueles Jogos numa nova frente de batalha entre americanos e soviéticos.
Ashenfelter correu os 3.000 m obstáculos, sendo também agente do FBI. O seu grande adversário foi o russo Vladimir Kazantsev, um herói do Exército Vermelho durante a Segunda Guerra Mundial.
Único americano a ganhar os 3.000 m obstáculos em Jogos Olímpicos
Ashenfelter não só ganhou a medalha de ouro como bateu o recorde mundial com 8.45,40, contra os 8.51,60 de Kazantsev, que partia como grande favorito.
De facto, o americano não havia competido nem numa dezena de provas de obstáculos até esse momento. “Nunca senti que fizera um favor aos Estados Unidos ao vencer um russo. Eu era simplesmente mais um dos muitos competidores”, disse o americano há uns anos a um jornal de Nova York.
A verdade é que Ashenfelter foi o único americano a ganhar nos 3.000 m obstáculos, uma medalha de ouro em Jogos Olímpicos e a deter o recorde mundial. Tal triunfo e dadas as condições políticas da época, elevou-o à categoria de herói nacional, algo que nunca procurou.
No FBI em 1950
Ashenfelter entrou para o FBI em 1950 e treinava de noite em diversos parques. Num deles, montava um par de obstáculos com as alturas reais. Não se classificou para Londres 1948 devido a um golpe de calor nas eliminatórias e pretendia ir a Helsínquia.
O FBI foi sensível ao seu desejo e deixou-o ir à concentração preparatória de atletas que teve lugar um mês antes dos Jogos. Mas para isso, teve de fazer horas extras e trabalhar aos fins de semana.
Na véspera da grande final, o atleta confidenciou à sua mulher que ia ganhar, apesar do seu modesto perfil.
A par do soviético no último salto da vala
Durante a final olímpica, Ashenfelter que nunca havia baixado dos nove minutos, sabia que para ganhar teria que fazer um tempo a rondar o recorde mundial.
Ele chegou junto com o russo ao último salto da vala. Mas Kazantsev saíu mal do obstáculo e o americano disparou para a meta, terminando em 8.45,40, novo recorde mundial. Mas este não foi reconhecido pela IAAF e cinco dias depois, o finlandês Olavi Rintenpaa, fez melhor tempo.
Ashenfelter recebeu então um telegrama do FBI que dizia ”Todos os seus companheiros do FBI estão orgulhosos pela sua brilhante vitória e felizes por si e pelo seu recorde”.
Ao chegar a casa, esperava-o um desfile na sua cidade natal e foi depois recebido por J. Edgar Hoover, diretor do FBI.
O New York Times definiu-o como “um verdadeiro modelo para os jovens americanos”. Desde o final da década de 1940 até à sua retirada em 1957, Ashenfelter ganhou 17 títulos nacionais em pista coberta e ao ar livre em diversas provas como corta-mato, 10.000 m ou corridas de obstáculos.
Em 1952, ganhou um prémio como o melhor atleta amador dos Estados Unidos e em 1975, entrou para o Salão da Fama Nacional do Atletismo.