Três medalhas de ouro conquistadas por mulheres no domingo pertenceram a atletas que voltaram após a maternidade
A linda imagem da jamaicana Shelly-Ann Fraser-Price abraçada ao seu filho na pista do estádio Kalifa, logo após a histórica vitória nos 100 metros, marcou o domingo do Mundial. Os quatro títulos mundiais na prova mais rápida do atletismo tornaram a atleta a maior vencedora de Mundiais entre homens e mulheres, ultrapassando o seu compatriota Usain Bolt, com três títulos na prova dos 100 m.
Mas não foi apenas o feito histórico que marcou o terceiro dia de competições. Três ouros foram conquistados por mulheres que regressaram às pistas após serem mães. Além da velocista jamaicana, a norte- americana Allyson Felix, ouro na estafeta mista 4×400 m, e a chinesa Liu Hong, nos 20 km Marcha.
A maternidade não deveria ser um tema questionado, mas muitas atletas lidam com a dificuldade do regresso após o período pós gestação. Com a experiência vivida, Shelly-Ann e Allyson Felix aproveitaram o Mundial para levantar a bandeira feminina e inspirar outras mulheres.
– “Mentalmente, foi difícil este regresso para mim. Não sabia se poderia correr rápido novamente. Foi um trabalho árduo, muito sacrifício pra chegar a este ponto. Quando descobri que estava grávida, fiquei sentada na cama durante duas horas, a pensar. Nem fui treinar no dia seguinte, não sabia o que fazer. Quando eu disse que regressaria às pistas, muita gente disse que eu deveria retirar-me. Sempre fui competitiva. Sou abençoada por ter um talento e mostrei-o hoje”, disse Shelly-Ann que quer inspirar jovens mulheres:
– “Esta noite eu fiz um feito que muitas mulheres sonham: ser bem-sucedida aos 30 anos, ter o meu filho presente torcendo por mim, foi realmente especial. Eu quero inspirar jovens atletas de que nós podemos conquistar o que quisermos. É trabalhar duro, estar comprometida, que consegue-se. Muitas pessoas dizem que depois da gravidez a mulher desacelera, acho que para mim, ter desacelerado fez-me mais rápida”, brincou a mulher mais rápida do mundo.
A norte-americana Allyson Felix também é a mais medalhada em Mundiais. Com a conquista do ouro na estafeta mista 4x400m, prova que se estreou no Mundial, ela soma 12 ouros em Mundiais, além de ser a única mulher com seis ouros olímpicos. O legado que ela quer deixar para o desporto vai para além das conquistas na pista. Já este ano, ela travou uma batalha com a Nike por esta lhe ter reduzido o salário após ter dado à luz a filha Camryn.
– “Foi certamente um ano muito difícil para mim. Só chegar até aqui, foi uma vitória. Lutei para estar aqui. A luta com os patrocinadores foi algo muito maior do que eu. Foi uma luta pelas mulheres. E apoiada por varias mulheres atletas, que vieram antes e ficarão depois quando eu parar. Usei a minha voz e, com a de outras mulheres, isso ajudou a trazer mudanças para o desporto”.
Na sua conta pessoal do Instagram, Allysson Felix aparece com a sua filha de dez meses no hall do hotel em que está hospedada em Doha. Além de falar da luta por que ela passou, fez questão de dar os parabéns a Shelly-Ann pelo seu feito: – “Você é maravilhosa, Shelly-Ann! Obrigada por nos mostrar que é possível. Eu emocionei-me ao vê-la correr e cheia de alegria na sua vitória. Vamos continuar apoiando e elevando as mulheres!”