Duas vezes medalhado olímpico nos 1.500 m, o neozelandês Nick Willis voltou a correr a milha abaixo dos quatro minutos nos Millrose Games, em 3.59,71.
O tempo em si, talvez não seja surpresa para um atleta do seu valor. Mas foi uma marca especial para Willis que aos 38 anos, tornou-se o primeiro atleta a correr a distância em menos de quatro minutos durante 20 anos consecutivos.
Existem muitas barreiras icónicas no atletismo. Por exemplo em masculinos, correr em menos de dez segundos nos 100 m ou ultrapassar os seis metros no salto com vara. Ou em femininos, saltar mais de sete metros no comprimento ou baixar dos quatro minutos nos 1.500 m.
Merece também realce a proeza de Willis, o conseguir quebrar uma barreira durante 20 anos seguidos. Não é um recorde mundial em si, mas é uma incrível demonstração de consistência e dedicação à modalidade.
Correr a milha em menos de quatro minutos foi durante muito tempo, considerado impossível. Em meados da década de 1950, numa época em que ninguém ainda havia baixado dos 10 segundos aos 100 m, baixar dos quatro minutos na milha, era um feito muito ambicioso de se imaginar. Tão ambicioso que alguns cientistas o chamaram de inviável para o corpo humano.
Mas em Maio de 1954, o britânico Roger Bannister, um estagiário de medicina da Universidade de Oxford, tornou-se o primeiro atleta a fazê-lo, correndo em 3.59,40.
Sete décadas depois, cerca de 1.300 atletas já conseguiram completar a distância em menos de quatro minutos.
Foi nos Estados Unidos, que Willis conseguiu a sua primeira marca sub-quatro (3.58,15) enquanto competia pela Universidade de Michigan, quatro anos depois do marroquino Hicham El Guerrouj ter estabelecido o recorde mundial de 3.43,13 que ainda está em vigor.
Em 2006, Willis experimentou o sucesso internacional pela primeira vez, ao conquistar a medalha de ouro nos 1.500 m dos Jogos da Commonwealth em 3.38,49. Nesse mesmo ano, ele bateu o seu recorde pessoal da milha para 3.52,75.
Em 2007, Willis correu a sua primeira final de um Mundial nos 1500 m, ficando em 10º em Osaka em 3.36,13.
Em 2008, Willis melhorou o seu recorde pessoal da milha para 3.50,66. Dois meses depois, ele conquistou a prata nos 1.500 metros dos JO de Pequim.
Nos Jogos Olímpicos de 2012, Willis teve o privilégio de ser o porta-bandeira do seu país durante a cerimónia de abertura realizada no Estádio de Londres. Ele terminou em nono na final olímpica dos 1500 m e correu a milha em 3.51,77.
Em 2014, nos Jogos da Commonwealth de Glasgow, Willis conquistou a medalha de bronze nos 1.500 m, a sua terceira medalha consecutiva da Commonwealth depois da conquistada em Delhi quatro anos antes. Foi também em 2014, que ele estabeleceu em Oslo, novo recorde pessoal na milha com 3.49,83.
Em 2015, Willis registou o recorde da Oceânia da milha em pista coberta com 3.51,46 e um recorde nacional de 3.29,66 nos 1.500 m no Meeting do Mónaco. Nesse mesmo ano, foi sexto com 3.35,46 na final dos 1.500 m do Mundial de Pequim, a sua melhor classificação na competição.
No ano seguinte, Willis somou duas medalhas à sua conta pessoal com um bronze nos 1.500 m no Campeonato Mundial de Pista Coberta em Portland e um bronze nos 1.500 m dos JO do Rio de Janeiro.
Em 2021 e aos 38 anos, Willis era o atleta mais velho dos 1.500 m nos JO de Tóquio, sendo nono na meia-final com 3.35,41.
No início de 2021, ele já havia batido o recorde de 19 anos consecutivos de milhas abaixo dos quatro minutos. E melhorou finalmente esse recorde para 20 em 29 de Janeiro de 2022.
Num podcast recente, Willis confessou que o segredo para a sua longevidade pode estar em nunca ter sofrido grandes lesões que o forçassem a afastar-se da pista durante muito tempo.
Em 2020, porém, Willis deixou o seu patrocinador para passar a correr como amador.
Depois de tantos anos ao alto nível, Willis afirmou que precisava de se apaixonar pela modalidade de uma maneira diferente. E para ele manter a sua longevidade e consistência, teria que fazer isso nos seus próprios termos. Ele está agora envolvido com a marca de roupas de corrida Tracksmith, com sede em Boston.
“Estou ansioso para ter um impacto mais amplo na nossa modalidade, além de participar apenas como atleta”, disse Willis num dos lançamentos da marca.
“Em última análise, quero inspirar e ajudar mais e mais pessoas a apaixonarem-se pela modalidade que me deu tanto.”