Patrick Sang, de 60 anos, foi um dos melhores atletas quenianos nos 3.000 m obstáculos, medalhado de prata nos JO de Barcelona de 1992 e no Mundial de Tóquio de 1991. Hoje, é mais reconhecido por ser o treinador dos melhores fundistas quenianos. Há 20 anos que orienta a preparação de Eliud Kipchoge, o melhor maratonista de todos os tempos, e de Faith Kipyegon, campeã olímpica e mundial e recordista mundial dos 1.500 m e 5.000 m.
Sang falou numa entrevista ao Athletics Weekly sobre a filosofia que está por trás da sua maneira de compreender o atletismo.
Eliud Kipchoge, chamado de “rei da maratona”, treina com outros corredores no centro de treino de elite Kaptagat, no oeste do Quénia.
“Para treinar alguém, tem de se estar bem preparado. É preciso adquirir conhecimentos”, diz Patrick Sang sobre o seu atual trabalho. Na sua época como atleta internacional, ele garante que 80% da sua preparação, foi feita por ele mesmo, treinando por conta própria. Para os atletas que querem dar o salto para serem treinadores, recomenda fazer um período de formação em diferentes áreas como administração ou representação para saber gerir da melhor forma e sob diferentes pontos de vista, uma carreira desportiva.
“A minha filosofia é que, para se ter um relacionamento bem-sucedido entre treinador e atleta, é preciso ter uma confiança cega. Um atleta que confia em si, mesmo quando se pede para ele correr algo fora do comum, fá-lo-á justamente por essa confiança”, explica sobre uma das chaves do sucesso dos seus atletas, com quem costuma ter um relacionamento profissional muito próximo. “Muitos dos bons atletas que são talentosos, mas quando se os treina, ouvem muitas vozes diferentes, atingem o nível de 80% em vez de 100%. “Quem confia totalmente no relacionamento, chega a 100%”, afirma.
“A minha filosofia é que para ter um relacionamento bem-sucedido entre treinador e atleta, é preciso ter confiança cega.”
Outra característica da sua forma de treinar, é agregar grandes volumes de quilómetros aos seus atletas, independentemente da distância em que competem. Por exemplo, Faith Kipyegon, bicampeã olímpica dos 1.500 m, planeia corridas longas de 40 quilómetros para melhorar a sua resistência. Distância que também se aplica a Wycliffe Kinyamal, segundo classificado nos 800 m do Meeting de Xiamen da Liga Diamante com 1.43,66. “O único treinador que compreende as coisas como eu as vejo, é o pai de Jakob Ingebrigtsen (Gjert). Tivemos uma vez, uma conversa muito interessante em Zurique e vi que éramos muito parecidos”, explica. A preparação dos irmãos Ingebrigtsen sempre se caracterizou pelo acumular de muitos quilómetros de competição e grandes volumes de treinos.
Sobre Eliud Kipchoge, ele diz que é a pessoa mais fácil de treinar pela grande disciplina que possui. “Eliud percebe porque está a treinar, sabe o que tem que fazer agora e por que o faz.” “Quando és jovem, queres governar e representar o teu país. Não conheço nenhum atleta que não tenha sonhado em representar o seu país. Quando sobes de nível e mergulhas no mundo dos patrocinadores e dos negócios, novas oportunidades surgem e tens outros incentivos. Quando superas esta fase, chegas a um terceiro nível em que vês que com o desporto pode influenciar muitas pessoas”, destaca sobre a evolução que vivenciou com o seu aluno da maratona.
Equipa de corrida NN
Kipchoge está agora com 39 anos e ainda corre, o que tem uma boa explicação para o seu treinador. “Pode-se ver a evolução que ele está a ter à medida que envelhece. Ele está a pensar no legado que deixa. Sem esses incentivos, já teríamos encerrado as nossas carreiras.” Sobre as hipóteses de ele repetir pela terceira vez o ouro na maratona olímpica, ele diz que “a minhas orações estão direcionadas para que ele vença. Se ele vencer, para mim o mais importante, será que iremos ver a longevidade de uma forma diferente. Veremos diferentes possibilidades como seres humanos, pessoas que amam modalidades, cientistas, todos vão querer saber mais sobre isso. “É a mente ou é o corpo?”, pergunta ele. A maratona olímpica de Paris 2024 será realizada no sábado, 10 de agosto, às 8 horas.
De: Xavier Gonzálvez-Amat