Sopa de alho, rodelas de limão e bolinhos de arroz estão entre as opções “exóticas” oferecidas durante algumas provas ao redor do mundo.
Em 2013, durante a Transvulcânia, ultramaratona de 73 quilómetros nas Ilhas Canárias, o corredor Chico Santos não percebeu muito bem quando deparou com uma bandeja de fatias de limão na área de abastecimentos. Surpreendeu-se mais ainda ao ver muitos competidores devorando com gosto as ácidas rodelas da fruta. “Eu não comi, mas o pessoal parecia adorar”, disse ele. Espanto semelhante teve o ultramaratonista Marcelos Alves, que em 2015 correu maratonas nos sete continentes. Na Everest Marathon, estava uma “perfumada” sopa de alho, em pleno posto de abastecimento dos atletas. “Não tive coragem de encarar.” Batatas cozidas frias, sem nem ao menos um salzinho, esperavam os competidores na prova La Ruta de Los Conquistadores, na Costa Rica, deixando o corredor suíço-equatoriano Karl Egloff com cara de interrogação. “E ainda por cima sem tempero nenhum… achei esquisito”, lembra ele.
No nosso caso, lembramo-nos de ter participado em 2000 na Maratona de Helsínquia e de a certa altura, ter havido pepinos nos abastecimentos. Ficámos espantados com muitos atletas a comerem os pepinos, nós que até não gostamos deles.
Participámos duas vezes na Maratona de Médoc, em 2008 e em 2014. Nesta segunda vez, houve 20 postos de vinho com acompanhamentos como entrecosto, presunto, queijos e até ostras! Bebemos 12 vezes vinho (os copos não estavam cheios) e não senti o mínimo efeito. Claro que também não falhámos os abastecimentos ditos normais.
Muito além das barras de cereais, frutas, sanduíches e isotónicos, os postos de controlo de algumas competições à volta do mundo, são um prato cheio de criatividade e hábitos locais gastronómicos – para desespero de alguns atletas estrangeiros pouco acostumados às ofertas regionais de certos eventos.
Antes de torcer o nariz para o que é novo, porém, veja esta seleção e saiba no que vale a pena investir quando o seu desempenho está em jogo, e de quais invenções e tradições, é melhor ficar longe.
1 – Onigiri (bolinhos de arroz cozido)
País: Japão
Prova: Lake Saroma 50/100k Ultramarathon
Por que são oferecidos: Os bolinhos de arroz são os precursores das barras de energia. Compactos e cheio de carbohidratos simples de rápida digestão, são especialmente úteis em eventos em grandes altitudes, em que o corpo prefere carbohidratos a gordura, pois fornecem energia rapidamente.
Veredito: Coma. Sem glúten e riquíssimos em energia, contêm em média 180 calorias e 39 gramas de carbohidrato por bolinho.
2 – Sopa de alho
País: Nepal
Prova: Everest Marathon
Por que é oferecida: A sopa de alho é uma entrada muito comum nas refeições no Nepal.
Veredito: Coma. A sopa de alho é utilizada no país para ajudar o organismo a adaptar-se às grandes altitudes, pois o alho diminui a hipertensão pulmonar causada pela falta de oxigénio. Esse alimento possui substâncias químicas responsáveis pelo relaxamento de artérias, ou seja, é vasodilatador – o que beneficia a oxigenação do sangue.
3 – Mini salsichas fumadas
País: Alemanha
Prova: Hexenstieg Ultralauf
Por que são oferecidas: Salsichas fumadas são um prato típico do norte da Europa. Contêm bastante energia – e muita, muita gordura.
Veredito: Não coma. Alguns atletas podem ter complicações digestivas devido aos conservantes encontrados nas salsichas, enquanto outros podem apresentar problemas com o alto teor de gordura saturada ingerida durante o exercício – cinco mini salsichas contêm 14 gramas de gordura, com mais de um terço delas sendo saturada.
4 – Rodelas de limão
País: Espanha (Ilhas Canárias)
Prova: Transvulcânia
Por que são oferecidas: Fácil de encontrar em Espanha, o limão é altamente hidratante e refrescante.
Veredito: Talvez. Exercícios extenuantes tendem a acidificar o sangue dos atletas em consequência da produção excessiva de ácido lático durante o esforço. O limão pode ser útil, pois auxilia o processo de estabilização do pH dos líquidos corporais. Mas a nutricionista Paula Crook não recomendaria o limão a seus pacientes. “Em lugares quentes e com muito sol, como as ilhas Canárias, é perigoso consumir limão devido ao risco de queimaduras na pele”.
5 – Sopa de frango
País: Colômbia
Prova: Chicamocha Run
Por que é oferecida: Uma sopa quente com pedaços de frango, cebolas e batatas, o pollo sudado é, supostamente, um prato completo para o atleta, pois combina hidratação com carbohidratos e proteínas magras.
Veredito: Depende. Ultramaratonistas que não estranham alho, cebola e temperos, beneficiarão provavelmente dessa sopa. Mas, numa prova mais rápida, pode ser um tanto pesada. É melhor comer após a competição.
6 – Batatas cozidas sem tempero
País: Costa Rica
Prova: La Ruta de Los Conquistadores (corrida de aventura)
Por que são oferecidas: As batatas são um dos ingredientes mais comuns da culinária daquele país e reconhecida fonte de carbohidratos.
Veredito: Coma sem medo. A glicose (produto final da digestão dos carbohidratos) é a nossa principal fonte de energia durante o exercício. Numa prova, o consumo de carbohidratos de rápida absorção, como a batata, fornece glicose e atrasa a fadiga muscular, permitindo a continuidade do exercício.” Além disso, evita-se a utilização de proteína como fonte de energia, mantendo-a na sua principal função, que é o crescimento, manutenção e reparo dos tecidos.
7 – Queijo roquefort
País: França
Prova: Grand Trail des Templiers
Por que é oferecido: Queijos “azuis” são alimentos carregados de calorias (aproximadamente 350 calorias a cada 100 gramas), além de muito populares na França.
Veredito: Fique longe. Gorduras saturadas podem causar complicações digestivas, fazendo delas uma péssima escolha para atletas de endurance. Laticínios apresentam um equilíbrio entre proteína e carbohidratos que é ótimo para a recuperação, mas consumi-los em excesso antes ou durante a atividade física pode causar náuseas e cólicas. E melhor não arriscar.
8 – Vinho tinto
País: França
Prova: Le Marathon du Médoc
Por que é oferecido: Antioxidantes como o resveratrol trazem benefícios à saúde, como a redução de inflamações e a limitação do crescimento de células cancerígenas. O álcool, sozinho, pode melhorar a circulação e reduzir a dor.
Veredito: Não beba muito. Os efeitos benéficos do vinho vêm a longo prazo, e não têm impacto positivo para a prova. Durante a prática de exercícios, o álcool do vinho desidrata e pode piorar a performance. Mas, se prometer não exagerar, uma tacinha pequena não fará mal algum – ainda mais em plena França.
De: Fernanda Beck