O doping também já chegou às ultramaratonas, conhecendo-se alguns atletas que já foram suspensos. A jornalista Keeley Milne analisou esta realidade.
Recentemente, alguns das Ultramaratonas mais renomadas do mundo, a UTMB e Western States 100, implementaram novos regimes de testes antidoping, num compromisso renovado de preservar a integridade na prova. Mas qual é a prevalência do recurso ao doping entre os ultramaratonistas e o que é o que eles usam? Um estudo publicado recentemente na revista Medicine & Science in Sports & Exercise explora quais são as substâncias proibidas que os ultramaratonistas estão a colocar nos seus corpos e quão prevalente é o doping no desporto.
O estudo
Os investigadores introduziram um método anónimo de amostragem de urina, com o objetivo de fornecer medições mais precisas do recurso ao doping, em comparação com os questionários tradicionais, e coletaram amostras de urina e dados demográficos de 412 participantes do sexo masculino que usaram mictórios automatizados no início das provas. Paralelamente, 2.931 corredores masculinos e femininos participantes nas mesmas provas, preencheram um questionário anónimo de resposta aleatória sobre o seu consumo de doping.
O que os corredores estão a tomar?
Das 412 amostras de urina, quase metade (49,8%) continha pelo menos uma substância. Entre estes, 16,3% testaram positivo para substâncias proibidas. As substâncias detetadas incluíram: anti-inflamatórios não esteroides (AINEs, proibidos na UTMB, 22,1%), paracetamol (15,5%), opioides (6,6%), diuréticos (4,9%), hipnóticos (4,4%), glicocorticóides (2,7%), agonistas beta-2 (2,2%), canabinóides (1,9%) e estimulantes (1,2%).
O uso de produtos dopantes não se correlacionou com a classificação do participante na sua categoria e nenhuma amostra continha testosterona suspeita. Em contrapartida, os corredores que responderam ao questionário relataram o uso de paracetamol (13,6%) e AINEs (12,9%), mas não declararam quaisquer substâncias proibidas.
Uso limitado de PEDs, alto uso de AINEs
Os investigadores concluíram que existe uma prevalência significativa do uso de doping , especialmente no que diz respeito a AINEs e analgésicos, entre ultramaratonistas do sexo masculino. No entanto, parece ser marginal o recurso ao doping que melhora o desempenho. O método de amostragem cega de urina provou ser uma ferramenta valiosa na deteção do uso de produtos proibidos que podem não ser relatados em questionários, proporcionando uma avaliação mais precisa do uso de doping e deste em modalidades competitivas.
Esta investigação tem implicações importantes sobre a forma como o consumo de doping é monitorizado e gerido no desporto, sugerindo que podem ser necessários métodos de testes mais rigorosos e anónimos para obter dados verdadeiros.