Luis Grijalva tinha apenas um ano de idade quando a sua família partiu da Guatemala para os Estados Unidos, à procura de um futuro mais risonho. O menino beneficiou do programa DACA (Ação Diferida para Chegadas na Infância), criado para proteger pessoas que entraram no país de forma ilegal quando crianças. Por fazer parte da iniciativa, ele precisa de uma permissão especial sempre que quiser deixar o território norte-americano, para participar em competições internacionais como o Mundial de Atletismo em Budapeste.
“Durante toda a minha vida, tudo o que conheci foram os Estados Unidos. Embora as minhas raízes tenham começado na Guatemala, sinto-me tão americano quanto qualquer outra pessoa que nasceu aqui”, postou Grijalva em junho de 2020.
A postagem foi um apelo desesperado de Grijalva pelo direito de representar a Guatemala nos JO de Tóquio. Normalmente, beneficiários do programa DACA, conhecidos como “dreamers” (“sonhadores” em inglês), não podem deixar os Estados Unidos sob pena de ficarem depois impedidos de regressar de até 10 anos. Grijalva acabou por ser autorizado pelo serviços de imigração norte-americanos a viajar para o Japão e disputou a final dos 5000 m, onde foi 12º lugar em 13.10,09, recorde pessoal e recorde nacional da Guatemala.
Em 2022, Grijalva conseguiu autorizações para participar nos Meetings da Liga Diamante em Oslo e Estocolmo. Competir com os melhores do mundo deu ainda mais confiança a Grijalva, que tinha obtido o melhor resultado da sua carreira ao ser quarto nos 5000 m no Mundial de Eugene. Agora em Budapeste, ele venceu a sua série nos 5.000 m e foi novamente quarto na final ontem disputada.
“É incrível porque sinto que posso inspirar mais de 500 mil sonhadores ao competir no maior palco do atletismo”, disse Grijalva, em referência às centenas de milhares de crianças beneficiadas pelo DACA. “E posso levar o nome de um país que não tem muita representação no cenário do atletismo”.