Yugeta chamou a atenção quando correu a Maratona de Tóquio de 2017 em 2h58m15s, o tempo mais rápido para uma mulher de 58 anos. Depois em 2019, ela correu a Maratona Shimonoseki Kaikyo em 2h59m15s, passando a ser a primeira mulher com mais de 60 anos a correr a distância em menos de três horas. Já este ano em 31 de Janeiro, na Maratona Internacional Feminina de Osaka, Yugeta foi mais longe, baixando para 2h52m13s.
O sucesso de Yugeta foi produto de décadas de dedicação. No colégio e na universidade em Saitama, a noroeste de Tóquio, Yugeta era uma corredora de meio-fundo curto de algum nível nacional, chegando aos pódios nos 800 m e 1.500 m em Campeonatos Nacionais Universitários e Campeonatos Nacionais. Os seus recordes nacionais nessas distâncias eram de 2m16s e 4m36s.
Em 1979, ela foi assistir à nova Maratona Internacional Feminina de Tóquio, a primeira maratona feminina do mundo. Enquanto observava as atletas sob uma chuva torrencial, ela pensou. “Elas eram tão fortes, tão duras, eu queria entrar”.
Três anos depois, trabalhando como professora de educação física no ensino médio, ela fez a sua estreia na mesma prova, terminando em 3h09m21s. Aí, ela prometeu a si própria que um dia, haveria de correr a distância em menos de três horas.
A vida continuou e um ano e meio depois, ela casou-se, engravidou da sua primeira filha e ficou acordada toda a noite para assistir à primeira maratona olímpica apenas para mulheres. Ela ficou novamente fascinada, desta vez pela prova de Benoit Samuelson. “Tínhamos quase a mesma idade e pensei: “Se as coisas tivessem sido diferentes, talvez pudesse ter sido eu. Eu prometi a mim mesma que quando acabasse de criar os filhos, correria maratonas a sério.”
Tal demorou até ela ter 41 anos e ser mãe de quatro filhos. Yugeta ainda fez provas curtas e algumas maratonas para se divertir nos anos intermédios, mas quando correu a maratona de Sainokuni de 2000 em 3h30m e um ano depois, em 3h14m, ela sabia que com um treino mais sério, era possível correr em menos de 3 horas. “Aos 40 anos, era difícil equilibrar o treino com a criação dos meus filhos e o trabalho”, disse Yugeta. Apesar da falta de tempo, ela ainda corria quase todos os fins de semana, desde provas de pista a uma ultramaratona com 78 km.
Mas as coisas mudaram quando ela chegou aos 50 anos. Com o filho mais novo na escola secundária, ela teve mais tempo para treinar. Ela juntou-se a um clube amador de nível elevado para sessões noturnas de atletismo no centro de Tóquio. Pela primeira vez desde a faculdade, ela estava a fazer treinos organizados com pessoas que pensavam da mesma forma. Passou a correr cerca de 100 km por semana e os resultados apareceram.
Em 2012, aos 54 anos, Yugeta correu a Maratona de Ohtwara em 3h01m. Ao completar 55 anos, ela estabeleceu mais de 55 recordes nacionais, entre os 1.500 m, 3.000 m, 5.000 m e 10.000 m na pista. Aos 56 anos, ela voltou a inspirar-se quando leu que Benoit Samuelson tinha corrido aos 57 anos, uma maratona em 2h54m26s.
Cumprindo uma promessa a si mesma
Aos 58 anos, Yugeta alcançou finalmente o que havia prometido a si mesma, baixando das 3 horas ao correr a Maratona Internacional Feminina de Osaka 2017 em 2h59m36s. Um mês depois, ela correu a de Tóquio em 2h58m15s. “Correr em menos de três horas, foi a minha motivação em todo aquele tempo”, disse ela, “mas quando fiz os 2h58m, alguém me disse que eu era a mais rápida de todos os tempos para um mulher de 58 anos e que ninguém com 60 anos ou mais, tinha corrido em menos de 3 horas”.
Yugeta estudou métodos de treino, nutrição e tudo o mais que pôde, procurando aprender com atletas de elite. Quando ela leu que os gémeos Soh, lendas da maratona japonesa, utilizaram saunas e fontes termais na recuperação, ela adicionou-as na sua preparação. Ela leu que Yoshio Koide, o treinador que supervisionou as três primeiras medalhas da maratona olímpica feminina no Japão e a primeira sub-2h20m, fazia os seus atletas correrem nas montanhas, ela seguiu o exemplo para ganhar força.
Ela teve o cuidado de comer fígado, atum e carne vermelha para obter ferro. Ela dormia oito horas todas as noites. Fazia regularmente acupuntura e massagens e manutenção em casa.
Ao longo da sua vida desportiva, também foi vítima de algumas lesões, incluindo dores nos nervos na parte superior da perna direita e problemas no quadril esquerdo. Aos 60 anos, ela teve uma queda grande na Maratona de Osaka e ficou desapontada ao terminar em 3h08m. Mas, alguns meses depois, ocorreu uma grande mudança. “Quando fiz 60 anos, tive a opção de me reformar, continuando a trabalhar a tempo integral ou passar para meio tempo”, disse ela. “Mudei para o meio tempo para ter mais tempo para me dedicar ao treino e bater o recorde.”
Yugeta aumentou gradualmente a sua quilometragem semanal para entre 120 e 145 km. Ela estabeleceu mais de 60 recordes nacionais para as mesmas distâncias de pista que tinha no escalão +55 anos. E então, o grande prémio: em Novembro de 2019, em Shimonoseki, quase 40 anos depois de ter visto pela primeira vez, mulheres a correr pelas ruas de Tóquio, ela correu em 2h59m15s, para se tornar a primeira mulher com mais de 60 anos a baixar das três horas. Um mês depois, ela melhorou para 2h56m54s na Maratona Internacional de Saitama.
E depois, surgiu a pandemia. “Eu estava acostumada a competir quase todas as semanas, mas quando todas as corridas foram suspensas em Abril, comecei a fazer séries de 1.000 metros aos domingos”, disse ela. “Assim que o colégio foi reaberto, passei de uma sessão de qualidade por semana para várias, levando as meninas a repetições de 400 metros, séries de 1.000 metros a 3m55s, 6.000 metros a 4m20s/km ou qualquer outra coisa.”
Aumentando a quilometragem
Ela também leu que Haruka Yamaguchi, uma atleta amadora, tinha corrido a Maratona de Osaka do ano passado em 2h26m, tendo treinado 185 quilómetros por semana. “Quando li isso, disse: ‘Se ela teve sucesso com esse tipo de quilometragem, é isso que eu preciso de fazer.’”
Yugeta passou a primavera e o início do verão adicionando quilómetros a cada semana, até atingir os 185 em Agosto, uma carga de treino incrível para qualquer atleta amador, quanto mais alguém na casa dos 60 anos. “Sempre fui ativa e nunca parei realmente de correr”, disse ela. “O meu corpo está adaptado a isso. Acho que seria mais difícil para quem começasse mais tarde, porque a suas pernas não teriam o mesmo tipo de adaptação ”.
No Outono, Yugeta recuou na quilometragem quando voltaram as provas. De meados de Outubro a meados de Dezembro, ela fez três pequenas maratonas, todas em 2h54m a 2h55m. Em 14 de Novembro, ela correu os 10.000 m em 37.59,95, tirando mais de um minuto ao recorde mundial do escalão + 60. Depois, precisou de correr 30 km em menos de 1h59m para se classificar para a Maratona de Osaka, em Janeiro. Então, em 5 de Dezembro, ela correu em 1h57m18s no Osaka 30K.
Aí, lesionou-se, sentindo fortes dores no quadril direito. Durante duas semanas, ela não correu, passando a caminhar e fazer tratamentos regulares de acupuntura.
Quando chegou o dia 31 de Janeiro, ela disse: “Eu sabia que havia perdido alguma forma, mas tinha fé em ter feito um longo bloco de bons treinos”. Yugeta integrou um pequeno grupo e correu uniformemente. Na sua 109ª maratona, ela terminou em 48º lugar entre 61 finalistas, batendo mulheres com um terço da sua idade e batendo o seu próprio recorde mundial com 2h52m.