Campeão europeu dos 1.500 e 5.000 metros, o norueguês ameaça o domínio africano
Bill Bowerman foi um treinador norte-americano da equipa de atletismo da Universidade de Oregon, na cidade de Eugene. Os seus métodos de treino eram muito exigentes e não aceitava falhas. Procurava tirar o máximo rendimento em todos os fatores, incluindo os sapatos – a sua maior obsessão – chegando a fabricá-los ele próprio. Foi um pioneiro. Os seus atletas começaram a ganhar corridas, a competirem em Jogos Olímpicos e a ganharem medalhas. Hoje, Eugene é um lugar de peregrinação e acolherá o Mundial em 2021.
Uma das fixações de Bill era que os seus atletas baixassem da barreira dos quatro minutos na milha. Em sua homenagem, celebra-se todos os anos em Eugene, coincidindo com a Diamand League, a “Bowerman Mile”. Este ano, um jovem norueguês de 17 anos surpreendeu todo o mundo. Jakob Ingebrigtsen foi quarto à frente do atual campeão olímpico Matt Centrowitz, com o tempo de 3.52,28, novo recorde mundial júnior. Os títulos dos jornais deram mais relevo ao feito de Ingebrigtsen que ao vencedor da prova.
Uma semanas mais tarde, no meeting do Mónaco, o norueguês surpreendeu todos com outro recorde mundial júnior, desta vez nos 1.500 m com 3.31,18. Era um aviso sério para o Europeu de Berlim. Na passada 6ª feira, tornou-se no mais jovem atleta a ganhar um título europeu. Não satisfeito, ganhou outro ouro no dia seguinte nos 5.000 metros. Com apenas 17 anos, Ingebrigtsen conseguiu uma dupla vitória que ninguém havia até então conseguido na Europa.
O que mais impressiona no norueguês é a sua facilidade de correr. Apesar da sua falta de experiência, sabe ler perfeitamente as provas e colocar-se no lugar ideal em cada momento.
Ingebrigtsen é o quinto de sete irmãos que fazem parte de uma família muito particular com o pai Gjert como líder. Para além de pai, ele é o ideólogo de uma forma de vida dedicada a eles serem atletas de elite desde que nascem.
Henrik, o segundo dos filhos a nascer, foi sempre uma referência por ser o primeiro a obter grandes resultados. Sagrou-se campeão da Europa dos 1.500 m em Helsínquia 2012 e foi o primeiro a chegar a uns Jogos Olímpicos em Londres, onde foi quinto na final. No Europeu de Amesterdão 2016, quem brilhou foi o terceiro irmão, Filip, com uma medalha de ouro.
Dos sete irmãos, temos para já três que se converteram em atletas profissionais e são campeões da Europa. Os restantes, ou se dedicam a outras coisas ou como os mais pequenos, Ingrid e William, já se destacam no tartan, querendo seguir as pisadas dos mais velhos.
Gjert, autodidata, impõe aos seus filhos uma vida espartana que inclui por exemplo, uma sessão de treino antes de começarem a escola às 8.30 ou uma planificação muito meticulosa que necessita da sua autorização se algum dos seus filhos pretender sair no fim de semana ou ir de férias com a sua parceira.
Treinam em grupo, cada um ao seu ritmo, e ao terminarem a sessão, fazem sempre uma análise do ácido láctico para tirar conclusões sobre os seus esforços. Muita gente chama-o de demente mas os resultados dão-lhe razão e tem o apoio dos seus filhos.
Jacob nasceu programado para ser campeão e o mundo do atletismo já o descobriu. Parece finalmente chegado o momento de um europeu fazer frente ao domínio africano.
Bill Bowerman dizia que o verdadeiro objetivo de correr não era ganhar mas sim explorar os limites do coração humano. Para já, é impossível saber o limite deste jovem de 17 anos. A dúvida está agora em saber até onde poderá chegar ou se desaparecerá da alta competição como vaticinam publicamente alguns treinadores sem qualquer recato.
É pena que Bowerman não possa dar uma opinião porque faleceu em 24 de Desembro de 1999, nove meses antes de nascer Jakob.