Ninguém no mundo do atletismo conhece tão bem Eliud Kipchoge como Patrick Sang, o homem por trás do sucesso do melhor maratonista da atualidade. Em entrevista ao site da IAAF, o treinador explicou como tornou Kipchoge um atleta quase imbatível.
Segundo ele, o segredo das oito vitórias consecutivas em grandes maratonas está na parte psicológica do queniano de 33 anos.
“O maior órgão que impulsiona o sucesso no atletismo é a mente, não o talento. Muitas pessoas não sabem disso, mas um atleta que não é perturbado mentalmente e é talentoso pode ir muito longe”, disse Sang.
O treinador, de 54 anos, e Kipchoge fazem um par de longa data. Os dois foram vizinhos numa área rural do Quénia. Assim que notou a velocidade do pupilo, decidiu treiná-lo. É o primeiro e único treinador da vida de Kipchoge, que não esconde a admiração por seu mentor.
“Ele ensinou-me a moral da vida, como realmente me concentrar e ser feliz sem sair do curso. Ele é um mentor, um treinador desportivo e, mais do que isso, o meu treinador de vida”, elogiou Kipchoge.
O sucesso de Sang como treinador vai para além das vitórias de Kipchoge. Medalhado de prata nos 3 mil metros obstáculos em dois campeonatos do Mundo na primeira metade da década de 90, ele foi selecionado para integrar o Centro de Desenvolvimento Regional da IAAF em Nairobi, logo após abandonar as pistas.
Depois de obter altas certificações em institutos especializados, também orientou os compatriotas Geoffrey Kamworor, bicampeão mundial de corta-mato, e Stephen Kiprotich, medalhado de ouro na maratona dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012.
“O que mais me ensina é o mecanismo de feedback do atleta. Pode levar apenas um mês ou até mesmo mais tempo para aprender isso”, diz. “O desafio é fazê-los entender o que é o coaching. Pode-se ter as melhores ideias, mas, se o atleta não estiver avaliando o conhecimento que se está a tentar transmitir, ele não será aplicado. O coaching é versátil: tem que ser um pai e até mesmo um médico em algumas situações. São esses aspetos que tornam uma pessoa versátil”, analisou Sang.
Dinheiro
Uma das maiores dificuldades de Sang ao longo da sua carreira como treinador é proteger os pupilos das distrações que o dinheiro ganho com as vitórias pode oferecer. Ele sabe que a maioria dos seus atletas vem da pobreza e que há um risco de que alguns se afastem do atletismo depois de um título importante.
“O dinheiro é um fator que distrai muito. Um atleta talentoso, porém desprotegido de questões sociais e todos esses desafios, até mesmo da gestão financeira, pode perder-se. Quem não é forte mentalmente, pode facilmente distrair-se com dinheiro”, observou.
Breaking2
Sang foi inicialmente contra o facto de Kipchoge participar do Breaking2, iniciativa da Nike para que um dos seus atletas derrubasse a barreira das duas horas numa maratona disputada num autódromo italiano. Afinal, o maratonista ficou a 26 segundos da maratona sub- 2 horas.
“Num território tão novo, seria difícil bater a marca sugerida. Eu colocarei em risco a carreira de alguém? Isso passou pela minha cabeça com Eliud”, lembrou.
E que conselho deixa Sang aos treinadores do mundo inteiro?
“Ter sucesso é ter o conhecimento de coaching e aprender muito bem sobre as habilidades do atleta, para que se faça o treino adequado para esse nível. Com o conhecimento e a compreensão do atleta, não se erra como treinador”, concluiu.